Vinte e Dois

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Durmo pouco.

Parte por estar maravilhada pelas coisas que fizemos, parte por acordar de um pesadelo onde estávamos sendo bombardeados pela Central e enterrados vivo debaixo da terra.

Agora que tenho acesso ao seu relógio, sei que são cinco da manhã. As luzes irão acender dentro de duas horas e não faço ideia do que está acontecendo do lado de fora daquelas paredes. Não sei como encontrarei Trade ou como todos estão agindo mediante a esse ataque. Tudo o que consigo pensar, é na quantidade de gente que morreu com esse atentado e se há possibilidades de alguém ter sobrevivido. E se sim, não estou lá para ajudar.

Estou sentada na beira da cama, vestindo uma de suas camisas quentes e mais nada. Trouxe meus joelhos para junto ao peito e me abraço como uma bola, enquanto o observo dormir profundamente. Não sei o que aconteceu – e estou curiosa para saber – mas o cansaço o derruba de uma forma tão brutal que imagino o quanto lutou para chegar à Primeira Sede da Resistência.

Conto os minutos para que ele acorde e me conte o que aconteceu de verdade, mas sou incapaz de acordá-lo desse sono tão profundo e sereno, então só faço silêncio e não me mexo.

Agora falta um pouco mais que meia hora para que as luzes sejam acesas, e ainda não me movi. Não canso de olhar para seu rosto e admirar suas costas nuas e o jeito que o lençol fino e branco cai da sua cintura para baixo.

Fico vermelha toda vez que lembro do que acabou de acontecer.

Nunca me senti tão completa ou ligada a alguém antes.

Penso que me mexi ou respirei alto demais quando vejo-o se mover lentamente e arrumar a mão debaixo do travesseiro. Fico imóvel na expectativa de não fazer nenhum barulho, mas vejo que ele está acordando.

Hunter se espreguiça, estica o pescoço e abre os olhos, encarando o nada por alguns segundos, como se tivesse se acostumando com a escuridão. Em seguida, como se uma luz tivesse acendido em sua cabeça, vira de súbito e passa a mão pelas cobertas, procurando algo. E quando seus olhos me encontram, sei que é a mim que procurava.

O alívio em seu rosto é notório, e ele volta a deitar a cabeça no travesseiro, me olhando de onde está.

— O que está fazendo aí? – pergunta com a voz grogue, e confesso que fica ainda mais lindo com cara de sono.

— Perdi o sono. – digo sem me mexer.

— Pesadelos?

Assinto duas vezes e me movo somente quando ele bate do lado da cama, pedindo para que me deite. Me aconchego em seus braços e sinto subitamente a diferença de temperatura da nossa pele. Estamos com cheiro de suor, pele e sexo, mas no momento, parece o cheiro mais apropriado para nós dois.

Fico em silêncio por mais tempo que consigo. Tanto tempo que posso acreditar que Hunter voltou a dormir, mas quando sinto-o brincar com as pontas do meu cabelo, sei que devo começar a fazer perguntas.

— Como você conseguiu?

Hunter respira fundo embaixo de mim e imagino que estava tentando manter tudo o que aconteceu antes de ontem à noite o mais longe possível. Agora parece injusto trazer isso à tona logo agora, mas preciso entender o que aconteceu, pois, se eu não enlouqueci, vi a Sede da Resistência ser derrubada ao vivo.

— Deixei metade do grupo na sede e estava voltando com o restante dos homens para cá. Estávamos numa distância demasiadamente segura quando a primeira bomba caiu.

Sinto sua dor ao compartilhar isso em voz alta.

— Nunca fui de acreditar em sorte, mas... Mas acho que posso chamar assim o que aconteceu. Sorte. – ele diz a palavra como se achasse graça. – Como se sobreviver quando centenas de pessoas acabaram de morrer, fosse a melhor forma de pensar nisso.

LIGHTS - Livro IIOnde histórias criam vida. Descubra agora