Seis

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A escuridão me engole, e por mais que esteja drogada com uma boa quantidade de morfina, ainda me sinto incomodada. Ainda me sinto presa. Ainda me sinto sufocada, mesmo com uma máscara de respiração soltando oxigênio na minha cara.

Trato de respirar fundo e controladamente. Estou tão imóvel que posso ser passada como morta facilmente, e fico feliz ao notar que é isso mesmo que preciso fazer; me fingir de morta.

Somos levados na maca por um longo tempo. Descemos num elevador, seguimos por corredores, passamos por pessoas, e sei disso tudo somente por ouvir. Esse lado do prédio da Central é bastante silencioso, e não sei se quero ouvir o barulho do mundo desabando do lado de fora.

Sei que entramos num lugar amplo quando o som se torna mais propago e há mais barulho a nossa volta. Ouço passos e pessoas conversando e ordens sendo dadas em simples gritos. Não paramos. Continuam a empurrar nossa maca por mais alguns metros, até que enfim, paramos.

— Esses vão para onde? – ouço um homem perguntar, e por puro instinto, prendo a respiração.

— Incinerador. – outro homem responde, e sei que não é Viktor. Eles devem ter ficado para trás em algum ponto do trajeto.

— Certo. Só me passe o código e podem ir nesse carro. Esses dois são os últimos?

— Sim. Tem quantos aí?

— Três. – o outro homem diz.

— Ok. Esses dois são os últimos.

Ouço o homem passar uma série de números e quando parece estar tudo ok, sou pegada de modo brusco e jogada dentro de um lugar frio. Sou obrigada a morder o lábio e tentar não ficar tensa, na expectativa de não fazer alardes, mas acabei de ser jogada de costas em algo feito de aço e agradeço aos céus por Cher ter me dado uma grande dose de morfina.

Prendo a respiração enquanto tento e fecho os olhos com força, esperando que tudo isso acabe logo. Ouço outro baque ao meu lado e sei que fizeram o mesmo com Hunter. Não ouço nenhum protesto vindo dele.

Segundos depois a porta é fechada e duas porradas na lataria do carro indica que podemos seguir viagem. E começamos a andar.

Aqui dentro está frio para caramba, e começo a tremer. Lentamente, tento me virar de lado, mas então, esbarro com algo. Alguém, na verdade...

— Lore? – ouço alguém sussurrar, e quase choro de alívio ao perceber que é Hunter. ― Eles te machucaram?

— Graças a morfina, não. Mas quando passar, vai doer como o inferno.

E pelo que parece uma eternidade, seguimos dentro daquele carro. Sei que daqui a pouco esse oxigênio acaba, e somente de pensar nisso, meu cérebro dá um jeito de me pregar peças e começo a sentir falta de ar. Talvez não seja somente meu psicológico. Talvez o ar esteja mesmo acabando, porque mesmo parecendo um morto de verdade ao meu lado, Hunter começa a ficar inquieto.

Me concentro em respirar pouco e controladamente. Tento ficar calma, fazer com que meu corpo entenda que o ar não está acabando e que não estou sufocando e que não estou morrendo, mas a cada segundo que passa, fica mais difícil.

Até que o carro enfim para, e estou desesperada para sair desse lugar.

Ouço vozes do lado de fora e passos se aproximando. Anseio por ser James para que nos tire daqui e nos leve até a Resistência. Quero mais que tudo que alguém abra a porta desse carro e nos liberte daqui.

Estou em agonia.

Quando enfim abrem a porta, somos puxados para fora no que parece ser um carrinho. Mãos ágeis abrem o saco mortuários e estou cega pela luz forte do dia.

LIGHTS - Livro IIOnde histórias criam vida. Descubra agora