Dezoito

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O clima é de luto.

Parece que cada pessoa da Resistência perdeu um ente querido. Parece que cada pessoa desse lugar, perdeu sua esperança e sua fé de conseguir algo. Não me sinto como antes, quando todos estavam animados e trabalhando juntos e lutando para algo melhor. Agora, parece que todos já desistiram.

Como forçadamente e tento com todas as minhas forças mostrar para Lucy que está tudo bem. Ela não precisa lembrar que ainda vive nesse mundo desgraçado, mas às vezes, esqueço que é mais esperta e madura do que penso.

— Não precisa se preocupar, mãe. – ela diz quando me levanto apressada para ir embora, e minto que vou fazer qualquer coisa que não pareça desesperado ou suspeito. – Sei que as coisas não estão certas e você está ajudando a consertar tudo... Não precisa mentir.

Fico com a boca aberta por dois segundos, sem saber o que dizer.

— Desculpe, amor... Mas prefiro deixar você fora de toda essa confusão o máximo possível, ok?

— Tudo bem. – ela sorri e não se importa em ser excluída de algo. – Vou me comportar.

— Sei que vai. – lhe dou um beijo na testa e saio do refeitório. Quando tenho certeza que já saí do seu campo de visão, corro o mais rápido que posso.

Sei que Trade ainda não está na sua sala, mas mesmo assim, espero no pequeno corredor. Bato impacientemente meu pé no chão e faço o codigo que tenho com Hunter enquanto tamborilo os dedos na parede.

O que mais me preocupa agora, é que Trade queira me ouvir.

Sei que ele não confia mais em mim, e essa será a parte mais difícil.

Já se passou quase uma hora que estou aqui em pé, quando a porta do elevador enfim se abre e vejo-o sair com Judith ao seu lado. Os dois tem uma quantidade grande de papéis nas mãos, e tudo o que consigo me lembrar ao ver essa cena, é em como fiquei assim quando assumi a responsabilidade da última missão.

Deveria parecer tão importante quanto eles parecem agora, com seus rostos preocupados, olhos atentos e conversas rápidas e baixas sobre qualquer coisa.

Mas, infelizmente, perdi esse direito quando falhei e levei todo o meu grupo a falhar.

Os dois percebem minha presença só quando estão perto o suficiente, e me desencosto da parede, tomando uma postura séria e confiante. Preciso passar toda a certeza quando disser as palavras que passei a noite inteira ensaiando.

Judith parece preocupada ao me ver ali, mas não diz nada. Trade fica me olhando profundamente por longos segundos, e me pergunto se devo dar bom dia ou ser direta.

Prefiro ser direta.

— Sei que perdi todos os meus direitos de ter alguma palavra ou alguma opinião ou algum pedido quando falhei naquela missão e deixei toda a minha equipe falhar e sei, muito bem, que hoje sofremos por causa da minha escolha no passado. Sei também que o senhor tem toda a razão de me odiar e não confiar mais em mim, mas, creio que tenho o direito de dizer que não é justo ser tirada tão brutalmente desse movimento que é a Resistência. Não depois de ter sido resgatada e alimentada com essa visão e treinada somente um esse objetivo. Já recebi o meu castigo, já fiquei esse tempo todo fora, sem interferir em nada, já me recuperei de uma bala, já me recuperei dos castigos da Central, aprendi a atirar somente com uma mão e tenho motivos e ideias e estratégias que podem tirar-nos dessa fase péssima em que estamos. Então, não somente peço, como também imploro: Por favor. Me ouçam.

LIGHTS - Livro IIOnde histórias criam vida. Descubra agora