Epílogo

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O mundo nem sempre foi bonito. As coisas nem sempre tiveram em ordem.

A justiça nem sempre funcionou, e nós nem sempre fomos livres.

Mas isso mudou.

Somos isso tudo há dez anos.

Há exatos dez anos atrás, estávamos em plena guerra. Um país inteiro lutando contra o governo e exércitos inimigos. Pessoas inocentes morriam, civis davam suas vidas por acreditar em algo melhor, bombas caíam do céu...

Eu tinha somente cinco anos quando o alarme tocou. E eu soube que minha hora tinha chegado. Que a hora de todo mundo tinha chegado. Minha mãe estava na guerra. Meus tios estavam na guerra. Pessoas que conviviam comigo estavam na superfície, apostando suas vidas por alguma melhora. A qual, mesmo sendo pequena, sabia que viria.

Nem sempre vivi bem. Nem sempre tiveram pessoas para cuidarem e se preocuparem comigo. Nasci nos Aglomerados do Carvão. Era chamado assim pelo simples fato de produzirmos carvão. Era pequena demais para me lembrar agora, mas é isso que minha mãe me conta. Morava com meus pais nas caixas de fósforos e batalhávamos todos os dias para pelo menos ter uma sopa rala para comer. Eles eram operadores e trabalhavam 18 horas por dia. Fui criada com toda a dificuldade, até que aos meus quatro anos, minha mãe ficou grávida de novo. Quero dizer, minha mãe biológica. Hoje ela está morta. Morreu de pneumonia enquanto ainda esperava meu irmão. Meu pai nunca foi o mesmo depois da morte dela, e foi então que comecei a trabalhar. Aos 6 anos, ajudava a encher os caminhões de carvão. Não aguentava nem meu próprio peso sobre as pernas, mas sempre tinha um cesto se carvão em mãos.

Num dia horrível onde quase congelava de frio pela pouca roupa que usava, teve uma batida. Meu pai começou um tumulto e houve correria e tiros e ataques. Quase fui pisoteada por uma massa de soldados.

Mas então, um anjo entrou na minha vida. Fui salva por uma linda menina de pele branca, aparentemente pequena e frágil. Seu parceiro, um homem gigante e forte, não gostou muito da ideia de eu ter sido capturada, mas aceitou que eu fosse levada com eles.

Meu pai morreu naquele dia. Eu vi quando enfiaram uma bala na cabeça dele. Minha antiga vida morreu naquele dia. A antiga Lucinda também morreu naquele dia.

Me tornei apenas Lucy. Filha da Lorely, minha salvadora. Aliada da Resistência, a mesma qual derrotou o governo, e a mesma que hoje lidera um país.

Hoje tenho 16 anos e o país está em festa.

Hoje é o dia da nossa Independência.

LIGHTS - Livro IIOnde histórias criam vida. Descubra agora