LIGHTS - Livro II

Treze

Passei o resto da noite evitando Hunter, e até mesmo na madrugada, quando não conseguia dormir, não fui ao seu quarto.

Ele deve estar mais que aborrecido por eu ter aceitado esse desafio de Trade. Não quero ouvir todas as suas advertências e ladainhas, então assim que as luzes são acesas e o sinal toca, corro para o refeitório, peço para colocarem minha refeição para viagem a saio antes que alguém possa chegar para comer.

Ao contrário de quando fiquei presa – ou achei que fiquei presa, nos meus primeiros dias na Resistência – James está num dos últimos andares, abaixo praticamente de tudo. Desço de elevador até o fim e quando saio, vejo dois guardas parados em frente à uma porta de aço mais pesada e mais forte do que qualquer outra. Me pergunto porquê de toda essa cautela, como se James tivesse super poderes e fosse derrubar aquela porta com um chute. Sem contar que assim como eu, ele se recupera de uma bala.

Dou bom dia para os dois e como não há resistência da parte deles ao abrir a porta, sei que Trade já deixou avisado que vou vir aqui com frequência a partir de hoje. Um dos homens me revista, olha dentro da minha bolsa e certifica que não carrego nada além de comida e minhas roupas.

Antes que eu possa girar a maçaneta e entrar, o outro cara me para, olhando diretamente para mim. Há certa preocupação em seus olhos.

— Qualquer coisa, é só chamar, ok?

Assinto.

— Tudo bem.

Eles temem mesmo James, e isso me dá vontade de rir.

Tomo coragem e giro a maçaneta, entrando lentamente. Pela primeira vez a ideia de ele ainda estar dormindo passa pela minha cabeça, e tenho medo de acordá-lo. Faz mais de vinte dias que o vi pela última vez, e quando isso aconteceu, ele estava sangrando em meus braços.

Afasto essa imagem da cabeça e termino de entrar. Quando meus olhos se adaptam com o lugar, vejo que é um quarto não muito pequeno como o qual eu estava quando cheguei aqui. Tem uma cama e uma mesa com uma cadeira e se coubesse outra cama, poderia até mesmo dizer que é do tamanho do quarto que divido com Dara e Clara, mas ao contrário do nosso quarto, esse está muito vazio.

E então, e o noto.

Tão completamente imóvel que poderia ser confundido com uma mobília ou um objeto. Deitado na cama de barriga para cima com as mãos em cima do peito, James me olha com atenção, e eu poderia jurar que é qualquer pessoa, menos ele, isso se não reconhecesse seu cabelo loiro e seus olhos grandes e azuis e nossas feições familiares.

Ao invés do terno, ele usa uma calça de moletom escura e uma blusa branca que fica larga até mesmo em seu porte. Ele está descalço, e aos pés da cama, vejo um par de chinelos que deve pertencer a ele. Seu rosto que antes parecia mármore de tão liso, hoje está com uma barba por fazer. Mas mesmo assim, James continua com as feições de uma pessoa que eu temo, que ele teme. Acho incrível ao mesmo tempo que é repugnante que pareçamos tanto com o nosso maior pesadelo.

— Posso entrar? – pergunto enfim, depois que nos encaramos por longos segundos.