Capítulo 11

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Nota do autor: A indicação musical deste capítulo é I like boys - Todrick Hall. (Existe uma playlist no spotify com todas as músicas que apresento ao longo da narrativa. Procure por 'Itapoga' ou acesse o link da minha biografia).

Os pés de Daniel se arrastavam contra o duro concreto da calçada, as solas de seus sapatos protestando veemente

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Os pés de Daniel se arrastavam contra o duro concreto da calçada, as solas de seus sapatos protestando veemente. Contava os passos metodicamente para manter-se andando até a porta do edifício em que morava. Sua mente era dominada pela fadiga devido ao tanto de endorfina que havia produzido durante o treino de líderes de torcida, seu corpo era castigado por sensações que desconhecia.

Apesar de suas amigas proporcionarem uma animada e divertida distração, ele continuava a sentir tristeza. Pertencia a um núcleo familiar problemático, sentia-se sufocado pelas mentiras e omissões que se via obrigado a apresentar para seus amigos e estava apaixonado por alguém que não podia ter. Achou que Pedro seria apenas colírio para seus olhos, alguém para ser admirado de longe, mas conhecer o rapaz o fez perder o juízo.

A cereja do bolo da desgraça de Daniel era Amber. Uma garota de primeiro ano cheia de energia para investir no amor, uma moça decidida a conseguir o que quer mesmo que receba 'não' diversas vezes. Talvez seu encontro com o grupo de animadoras de torcida fosse mais agradável se ela não tivesse perguntado como foi a tarde com o Pedro, o que ele pretendia fazer no fim de semana ou o porquê de Pedro não ter ido à escola.

Respirou fundo ao girar a maçaneta da porta de entrada de seu apartamento, preparando-se para as peripécias de Vincent. Sentia-se abalado psicologicamente demais para suportar seu colega de quarto. Porém, nesta quinta-feira que vos conto, ele foi recebido com cumprimentos amigáveis e um formidável cheiro de bolo.

"Estávamos a falar de ti. Aproxime-se!" Vincent começou e Daniel hesitou antes de obedecer o comando, a desconfiança presente em seu ato. "Notamos que perdeu peso recentemente e que anda mais deprimido que o usual, portanto assamos o seu favorito. O chocolate fará seus hormônios do prazer contentes e a comida lhe servirá de cobertura corporal para o frio outono que está por vir." Sorriu.

Daniel olhou para os próprios pés. Não percebera que lhe faltava massa muscular, mas sabia que não estava mantendo uma rotina alimentar decente. Entre os sentimentos que suas relações sociais causavam e uma nova insegurança sobre seu corpo, sentia-se querido pelos colegas de quarto. Então, juntou-se a eles no balcão da cozinha.

"Talvez falar sobre o que te aflige ajudará na tristeza." Vincent tentou e foi completamente ignorado por Daniel, que tratou de introduzir uma quantidade exagerada do alimento na boca como forma de escape.

Até então irrelevante para o desenvolvimento do enredo, Adèle testava os novos efeitos do Instagram num canto da bancada, pois preferia evitar conversas que envolviam sentimentos. Porém, nesta quinta-feira que vos conto, esforçou-se para que Daniel se sentisse mais confortável na presença deles. Ela e Daniel nunca haviam trocado muitas palavras, o que fez o momento seguinte ainda mais constrangedor para o garoto.

"Vincent, olhe para a câmera. Encontrei um efeito que diz a porcentagem de homosexualidade." Sorriu e ambos se espantaram com o súbito interesse da moça em participar da interação social que mantinham. "Como esperado, és 100% gay." Riu e apontou o celular para Dan. "Olhe para a câmera." Começou e logo foi interrompido pelo protagonista desta narrativa.

"Não sinto-me bem suficiente para tal brincadeira." Escondia o nervosismo de ser chamado pelo o que mais temia: homossexual.

"É apenas um algoritmo estúpido." Viu Adèle revirar os olhos. "Surpreendentemente, és 100% gay também." Desta vez, Vincent riu também.

Vincent... A única pessoa que desconfiava de sua heterossexualidade devido à troca de olhares entre ele e Aaron rindo de sua vulnerabilidade. Em outro momento, teria ignorado, mas seu atual estado emocional o impedia. Por conseguinte, colocou uma carranca em sua face e se retirou para seus aposentos.

Como qualquer adolescente, o sentimento de não pertencimento e falta de compreensão o desequilibravam. Ao florescer de sua maioridade, veria que precisava ser compreensivo consigo e ter confiança em si para sentir-se válido a ocupar qualquer ambiente, consequentemente os indivíduos à sua volta estariam dispostos a fazer o mesmo por ele. Uma pena que seja preciso sábios dois anos para que ele aprenda completamente a lição.

Atirou-se na própria cama e pescou o celular do bolso, procurando uma distração para cessar seus pensamentos conflituosos. A primeira coisa a ver foi uma publicação de Itapoga, o instagram de Pedro. Frustrado, fechou o aplicativo e repentinamente foi invadido por uma ideia idiota.

Necessitava esquecer o brasileiro para seguir sua vida, então decidiu baixar o aplicativo que Vincent estava sempre a falar a fim de conhecer outro garoto. Grindr possuía um design simples e, sem muita dificuldade, cadastrou-se na plataforma. Em apenas alguns segundos, teve seu campo de visão tomado por fotos íntimas e perguntas sexuais.

Estava desapontado e enojado com a falta de pudor das pessoas daquele lugar. Essa situação o fez questionar se realmente gostava de homens, mas infelizmente sabia que nasceu fadado a gostar do gênero mais repugnante. Deixou escapar um suspiro de derrota e desinstalou o aplicativo.

Teria de aceitar que era seu destino estar perdidamente apaixonado por Pedro.

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