Capítulo 06

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A quietude em que o apartamento se encontrava era, no mínimo, insólito

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A quietude em que o apartamento se encontrava era, no mínimo, insólito. Por ser habitado por dois estudantes universitários e um adolescente, era comum haver ruídos de festa ou, como o dia sugeria, de pós-festa. Entretanto, os três jovens mantinham-se entretidos pelos respectivos celulares e nenhuma palavra era trocada entre eles apesar de estarem no mesmo cômodo.

Daniel, debruçado no mármore escuro do balcão da cozinha americana, olhava para a página de busca do Instagram com certa hesitação. Desde o fim de tarde que passara com Pedro, não conseguia tirá-lo dos pensamentos. Não sentia que estava apaixonado, apenas sentia curiosidade e uma certa admiração em relação ao outro garoto. Gostaria de vê-lo além dos cortejos, pois sua intuição dizia que havia muito mais para ser descoberto.

Inúmeras contas apareceram ao digitar o nome do brasileiro, o que era esperado. Tinha ciência da impossibilidade de achá-lo virtualmente sabendo só o primeiro nome. Então, frustrado, Daniel repousou a cabeça no balcão. Teria que esperar o dia seguinte e verificar se o dito cujo assinara o nome completo na lista de inscrição do futebol. A situação em que se encontrava poderia ser igualada a de adolescentes de filme colegial, um tanto cômica vista de fora.

"Conheço bem este olhar. É por causa de alguma garota?" Vincent perguntou do outro lado do balcão.

A personalidade bisbilhoteira do loiro não era bem aceita por Dan, que não hesitou em vocalizar seu descontentamento.

"Não lembro de minhas expressões faciais serem objeto de sua preocupação." Daniel rebateu rapidamente antes que o colega de quarto exigisse explicações sobre a sua vida social ou a falta de relações amorosas que tivera.

"Falta-te cortesia, Daniel!" A maneira performática de demonstrar ofensa fez Dan revirar os olhos, porque sabia que o diálogo não chegara ao fim. "Vejo que não tem vontade de compartilhar sua vida pessoal no presente momento, portanto sugiro que falemos sobre a minha. Quem sabe te ajude a achar a resolução para a situação em que te encontras."

"Tenho minhas dúvidas." Recebeu como resposta do garoto de cabelo comprido. Vincent possuía um estilo de vida peculiar e oposto ao de Daniel, fazendo-o chegar a conclusão de que nada o que ele iria dizer serviria de conselho.

"Escute-me primeiro. Recentemente, eu descobri esse aplicativo de relacionamento homossexual. Grindr, o nome. Fui forçado a pedir opinião à você, pois nossa outra colega de quarto é assexual." A breve explicação que deu causou um certo receio em Daniel. "Enfim, o que quis dizer com isso tudo é que conheci um rapaz. Ele é bem mais velho, saímos algumas vezes e fui tratado como a rainha egípcia que eu sou. Porém, ele acabou de me contar que é casado com uma mulher. O que devo fazer?"

Era uma das primeiras vezes que o ouvia ter uma entonação séria, então se dispôs a responder da mesma maneira.

"Acredito que o certo a se fazer é mandá-lo ir àquele lugar e contar para a esposa o que ele anda fazendo quando está longe dela." A lógica de Daniel era simples. Uma lógica de quem nunca tivera um relacionamento sério, no qual era possível sentir coisas absurdas e fazer coisas que ferem a ética e a moral.

"Após ter me contado esse segredo, ele mandou uma foto." Vincent disse e virou o celular logo em seguida, revelando uma foto íntima do rapaz.

Daniel, tomado pelo constrangimento e pela surpresa, virou o rosto e fechou os olhos com força. Sua face logo ruborizou-se, a indignação bem clara em seu semblante ao olhar de volta para o colega de quarto. Vincent estampava um sorriso divertido no rosto ao ver a reação que havia causado.

"És o pior bicho que a mente humana consegue imaginar!" A fúria de Daniel divertia o outro garoto. "Basta! Não quero falar com a sua espécie baixa e vulgar." Continuou a proferir xingamentos inúteis.

"De qualquer maneira, é o seu dia de cozinhar. Estarei aqui na sala esperando você me servir o jantar, lacaio." Vincent deixou o balcão antes de Daniel acertar-lhe a cabeça com algum objeto.

O entretenimento de domingo do loiro era tirar Daniel do sério. Enquanto Daniel, como bom e distraído bobo da corte, passava todos os domingos irritado e nunca percebeu que havia um padrão. Ao menos, Vincent havia conseguido tirar o brasileiro de seus pensamentos temporariamente, o que não era de todo mal.

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Itapoga (Romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora