Nota do autor: Toda vez que eu acho que não vou demorar para postar Itapoga, a vida atrapalha haha aos que ainda leem a história, independente do tempo que leva para ser atualizada, obrigado <3 Tenham uma boa leitura!
Sentia estranheza ao ver o corredor principal da escola vazio. As conversas frenéticas deram lugar ao uivo dos ventos entrando e saindo das frestas dos armários; as saias na altura do joelho eram vistas apenas de relance pela porta de vidro das salas, comportadamente situadas em pernas inquietas; a falta dos adolescentes civilizados deixaram o piso tão brilhante que teve vontade de parabenizar os funcionários da limpeza. E era assim que a mente de Daniel vagava entre os detalhes comuns das suas manhãs naquele instituição, fugindo de seu constante tormento.
Frustrado, passou a mão pelas longas madeixas loiras que havia cultivado por anos. Quando seus dedos encontram nada além de ar, uma onda de desespero revirou seu estômago e deixou turva sua visão. Levaria um tempo para se acostumar a falta dos cabelos, mas pensava agora que o novo corte não era de todo mal. Pela primeira vez em tempos, era possível ver o piercing que habitava seu supercílio e a folha de cannabis desenhada no alargador de uma das orelhas.
Tentava de todas as formas manter Pedro fora de seus pensamentos, superestimulando seus olhos e seus ouvidos - ideia de Vincent. Então, focava nas pequenas coisas que faziam o corredor ser tão familiar em sua memória e forçava seu cérebro a descobrir as palavras exatas que o cantor da antiga formação de Amoral cantava em Leave your dead behind, a última sendo uma missão pouco sucedida.
Estava perambulando pela escola durante o período de aulas, pois ele e Anya foram os primeiros a finalizar a avaliação de biologia e, consequentemente, instruídos a permanecer fora da sala. Gostaria que a garota não houvesse desaparecido logo após saírem, deixando-o sozinho com as próprias questões internas, mas não saberia manter uma conversa inteligível se ela ficasse. Aliás, não manteve ideias certas nem durante a prova, apenas teve sorte de ter alguém tão dedicada como Anya como sua dupla.
Sua mão passeava pelas paredes, pelo metal frio do armário, pelos papéis do mural; os dedos contando o compasso da música durante o trajeto. Alheio ao que acontecia no ambiente, chocou-se contra um tórax firme, e, com o nariz no uniforme de quem acertou em cheio, inalou o perfume de sândalo e mar. Seu coração afundou no peito e um frio percorreu em seu estômago, lamentando que seu plano de esquecer Pedro foi arruinado pelas ações do universo. Estava cansado do destino, que continuava a colocá-lo em seu caminho... Nesse caso, literalmente.
Paralisado pela surpresa, não conseguiu dar um sequer passo para trás, conseguiu somente levantar o rosto para encarar o outro garoto. O brasileiro carregava um sorriso de canto de boca, enaltecendo seus traços esplendidos. As covinhas estavam perfeitamente posicionadas abaixo das proeminentes maçãs do rosto e seus olhos traziam uma malícia sutil. Era um patife belo demais para odiar.
"Quase não o reconheci sem os longos fios a cobrir o rosto." Pedro embrenhou os dedos no cabelo de Daniel, penteando sua franja para trás. Era ainda mais difícil odiá-lo quando tudo o que ele queria era o par de mãos firmes daquele cafajeste a tocá-lo como no dia da festa de outono.
Dan abaixou a cabeça, pois sabia que ele era o próprio diabo tentando seu bom julgamento. No entanto, conseguiu se desvencilhar do corpo quente e pecaminoso do brasileiro, recobrando seus sentidos. As mãos que passearam pelas mechas loiras segundos atrás eram as mesmas que aliciaram Amber na sexta-feira, uma semana após terem dividido um momento tão íntimo e trocado palavras de amor.
Ele estava magoado e, inconscientemente, esperava ao menos uma desculpa fajuta sair pelos lábios de Pedro, encantador suficiente para sanar as dúvidas e o medo de estar terrivelmente atraído por alguém tão volátil. Em vez disso, ele permanecia com aquele olhar despreocupado de quem conquistou o mundo, tendo dito só um comentário superficial. Dan tremeu com a súbita compreensão da realidade.
A raiva crescia dentro do garoto por ter passado o fim de semana inteiro se lamuriando e pedindo redenção a Deus, ao universo ou qualquer um que pudesse ouvi-lo. Era um fardo ter se apaixonado mais de uma ve por alguém devasso, manipulador e apático.
E talvez Deus, o universo ou qualquer um que ouviu suas lamentações agiu sobre seu corpo nos seguintes momentos que vieram a seguir; visto que a última coisa que se lembra foi ver o brasileiro acenando para uma moça do primeiro ano e, logo após, lançando-lhe uma piscadela imoral da mesma forma que usou para galantear Dan no passado.
Sentia seu sangue fervia em furor ao ver a cena bem diante de seus olhos, mas nada além disso. Era como se tivesse falecido por uma fração de minuto, sua visão escura e seus ouvidos zumbindo. A adrenalina também fez os acontecimentos depois passarem em câmera lenta e desconexos, estava completamente letárgico.
A menina do primeiro ano gritando...
Vermelho...
Anya esbravejando seu nome...
Sangue descendo a mão de Pedro e manchando a camisa do uniforme bem abaixo do segundo botão desabotoado...
Dor latejante nas juntas dos dedos médio e indicador.
Não lembrava qual a ordem do ocorrido, nem do diretor aparecendo, muito menos de ter obrigado seus pés a fazerem o caminho até a direção.
"Daniel Hunsrücker." A voz era distante, mas ele estava voltando a si aos poucos. "Não me obrigue a solicitar a presença de seu pai e contar-lhe que estava sob uso de entorpecentes as dez da manhã." Recuperou a consciência totalmente quando ouviu a palavra 'pai'.
"Estou perfeitamente sóbrio, queira o senhor saber." Ainda enraivecido, olhou para aquele rosto tão familiar. Conhecia aquele senhor desde a primeira infância, assim como seus pais, e ele sabia bem de seu relacionamento conturbado com aqueles que o deram a vida.
"O que está havendo? Em todos esses anos, não precisei uma única vez chamá-lo para uma bronca. Aprovei seus projetos musicais, elogiei quando entrou para a equipe de torcida com o intuito de ajudar suas amigas. Não tira notas excelentes, mas nunca foi um aluno problemático. Então, eu pergunto: o que está havendo?"
Daniel deu de ombros, porque a verdade era que ele não sabia o que tinha o possuído para acertar um soco certeiro no nariz de Pedro. Não entendia como o garoto pacífico e tímido do início do semestre havia se transformado nesse amontoado de ódio e angústia que era hoje.
"A resposta mais honesta que posso fornecer ao senhor é que não sei quem sou mais." Uma lágrima desceu sua bochecha ao chegar àquela conclusão.
Nota do autor: Alguém estava esperando o Dani se revoltar? E aí, esse soco foi merecido ou o menino Dan realmente está ficando doido? Não esqueçam de VOTAR e COMENTAR para me incentivar a postar Itapoga.
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Itapoga (Romance gay)
RomantizmGostaria de possuir um dom que me permitisse resumir essa obra em breves palavras, porém, não sou capaz. Seria de natureza impossível mostrar toda a profundidade psicológica do personagem principal, Daniel, nesse parágrafo; assim como é inviável dim...