Capítulo 12

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O tilintar do sino que indicava o fim das aulas da semana trazia paz espiritual para a tão conturbada alma de Daniel

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O tilintar do sino que indicava o fim das aulas da semana trazia paz espiritual para a tão conturbada alma de Daniel. Sabia que ainda precisava comparecer ao treino antes de voltar para casa, onde seus lençóis e sua cama o aguardavam ansiosamente, mas, para o nosso espanto, estava otimista para a atividade física que ocupava suas tardes de outono.

Durante uma de suas aulas matinais, esbarrou em um artigo sobre como superar a atração por homens numa revista masculina. Talvez esta fosse sua tentativa mais idiota de esquecer Pedro. Entretanto, estava esperançoso em testar a utilidade de sua leitura, que consistia em: flertar com uma garota mais nova, ingênua suficiente para não questionar a falta de contato entre os dois, e manter uma espécie de relacionamento amoroso em lugares de seu convívio a fim de mostrar sua heterossexualidade para seus conhecidos.

A vítima de tal presepada era Amber. Ansiava pela ingenuidade da moça ser o bastante para se encantar por seus galanteios desajeitados. Sentia sua mão suar e seu coração trepidar enquanto forçava seu corpo a se locomover até o vasto campo que sua escola possuía. Pensava que toda essa ansiedade era por causa de seu plano mirabolante, porém, é evidente que o sentimento também era devido a presença do brasileiro.

"Parece nervoso." Maryn comentou ao encontrar o garoto pelo corredor e acompanhá-lo até o destino em comum. Decidiu que ficaria calado, pois tinha medo de sua voz falhar e demonstrar que realmente estava nervoso. "Espero que não atrapalhe seu desempenho." Foi ríspida ao receber silêncio como resposta.

Estava acostumado com as falas altamente sinceras e até um pouco egoístas da garota, pois convivia com Henry há tempo demais e, estranhamente, eles eram parecidos. Portanto, a ausência de conversa entre os dois não era desconfortável para Daniel, o que não o impediu de clamar amores aos céus ao ver Barbra e Emily perto das portas que davam acesso aos vestiários.

"Danny!" Barbra o saudou com alegria, seguido de um abraço. Não costumava ser tão radiante quando a conhecera no início do ensino médio, mas, desde o término de seu relacionamento com Aaron, exalava autoconfiança e felicidade. Culpou também suas recentes escapadas sexuais com Émile por seu súbito bom humor e deleite pela vida.

Após cumprimentar Emily e jogarem conversa fora por alguns minutos, entrou no vestiário masculino. Aquele não era um ambiente agradável devido ao forte odor de homem e uma umidade densa. Contudo, via-se sem escolha, pois precisava colocar trajes adequados que sustentassem os árduos alongamentos e não podia entrar no vestiário feminino. Então, evitava chegar cedo demais para que ao menos pudesse se livrar de contato social com os jogadores.

Alguns dos participantes do time de futebol tinham permissão para sair minutos mais cedo da aula para dar início a aquecimentos e afins, pois seus treinos eram previstos para começar as 15:00 para que as líderes de torcida pudessem tomar o campo as 16:00. Assim sendo, Daniel fazia tudo lentamente para que, quando chegasse quinze minutos depois das três da tarde no vestiário, ele pudesse desfrutar apenas da própria companhia.

Neste fatídico dia, o destino não o favoreceu. Ao adentrar o cômodo vaporoso e malcheiroso, viu Pedro usando apenas shorts esportivos e a horrível gravata vermelha do uniforme da escola. Dan piscou algumas vezes para ter certeza de que seus olhos não estavam projetando imagens ilusórias.

"Olá!" O rapaz sorriu ao perceber que não estava sozinho. "Tentei remover este artigo de moda estúpido apressadamente e acabei dando um nó capaz de deixar qualquer marinheiro com inveja." Empenhou-se em deixar Daniel menos constrangido com sua habilidade de fazer graça da sua própria condição.

O rubor que cobria a maior parte do rosto, pescoço e orelhas de Dan deixava claro o que sentia. Nem mesmo seus longos cabelos foram suficientes para esconder toda a extensão de pele que se encontrava corada. Apesar disso, fechou parcialmente os olhos e se aproximou. Sentiu-se compelido a ajudá-lo, pois usava aquele adereço há mais tempo do que gostaria e, durante os anos, aprendeu a sair de situações como essa.

Nenhuma palavra foi proferida pelos dois enquanto o garoto desatava o laço da gravata. Estava ciente de que Pedro claramente via a forma como seus dedos tremiam, como seus olhos não estavam completamente abertos e como tentava controlar a quantidade de ar que entrava e saía de seus pulmões. Talvez estivesse inconscientemente perdurando o momento, porque adorava o calor e o perfume dele.

"Obrigado." Percebeu que o brasileiro estava invadindo seu espaço pessoal, pois todas as letras que formavam o pequeno agradecimento ferveram contra a sua pele.

Embriagado pela sensação de proximidade e a impetuosa atração, abriu os olhos lentamente e o encarou. A distância era tão minúscula que conseguiam sentir a respiração um do outro. A vívida íris castanho conhaque de Pedro contrastada com a claridade de um início de fim de tarde era tudo que conseguia ver e se perguntava como ele estava sempre sendo iluminado por raios de luz tão perfeitamente direcionados.

"Estás atrasado para o treino." Daniel forçou as palavras para fora de si ao lembrar que estava desejando alguém comprometido que não fazia o menor esforço para manter-se fiel.

"Tens razão." Deu um passo para trás e pegou a camisa que estava jogada em um dos bancos. "Vejo-te na festa mais tarde." Piscou para o garoto e saiu correndo para o campo.

Daniel continuou olhando para a porta onde Pedro passara, tentando buscar na memória se sabia de alguma festa que aconteceria no presente dia. Não conseguia se lembrar de nenhuma.

Ainda com a falta de informação sobre o evento que iria ocorrer em mente, colocou as roupas desportivas e foi ao encontro de suas amigas na arquibancada. Aproximou-se sutilmente de Emily para sanar suas dúvidas, pois era dona de uma pacificidade inabalável e não se importaria de responder o amigo desavisado.

"Falamos sobre tal acontecimento durante a semana inteira. Surpreende-me não teres prestado atenção em um momento desses sequer." Ouviu como réplica e percebeu que era tão relapso em ouvir as pessoas a sua volta quanto seus amigos. "De todo modo, será uma recepção na casa da Barbra para os novos integrantes do time de futebol e animadores de torcida."

Assim que assimilou o que Emily tinha dito, julgou perfeita oportunidade para conquistar Amber. Teria sua falsa heterossexualidade difícil de ser questionada e afastaria Pedro, o que lhe daria espaço suficiente para esquecer o rapaz. Em sua nem tão astuta mente, seria uma estratégia genial.

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Itapoga (Romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora