Capítulo 15

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Com os olhos fechados, ele forçava seu cérebro inebriado pelo álcool a recordar os olhos lancinantes de Pedro, o desejo estampado neles

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Com os olhos fechados, ele forçava seu cérebro inebriado pelo álcool a recordar os olhos lancinantes de Pedro, o desejo estampado neles. Era incapaz de achar relevante a presença de outros indivíduos da sua idade e de música ensurdecedora a sua volta, pois ansiava o outro garoto de forma imensurável. E, por um instante, sentiu o aroma de sândalo e mar que só ele conseguia exalar de maneira tão atraente.

"No que pensas?" O susto de Daniel foi suficiente para quase mandá-lo direto ao chão. Mais que provocá-lo, Pedro adorava testar sua suficiência cardíaca.

"Em privacidade." Ao proferir tais palavras, surpreendeu-se. A droga lícita no sangue dava coragem ao protagonista desta narrativa dolorosamente lenta.

"Difícil tarefa quando se está dividindo espaço com mais outros cem adolescentes." Arqueou as sobrancelhas como se duvidasse de sua resposta.

Daniel abriu a boca para retaliar, mas foi interrompido por Amber se materializando nos braços do brasileiro. Ele gostaria muito de não ter desejado a morte da pobre moça bêbada que pedia desculpas desajeitadamente, o que não foi possível, porque conhecia sua própria natureza mau-caráter.

"Vincent entregou-me uma bebida verde de nome engraçado. És um verdadeiro viado!" O loiro engoliu em seco ao ouvir o termo que Amber dizia de maneira tão calma e suave, mas que lhe causava arrepio na espinha e vontade de cometer homícidio. Talvez não se sentisse tão desprovido de bons costumes depois de ela ter aberto a boca.

"Dividir uma conversa de cinco minutos não te dá direito de chamá-lo assim. É apenas ofensivo." Tentou ser o mais passivo-agressivo que conseguia, mas saiu quase como um rosnado.

Pela segunda vez naquela noite, era interceptado por alguém que não demonstrava o menor apreço. Porém, era Pamela que havia se aproximado. Tinha certeza de que estava desviando a atenção de uma possível discussão, que claramente aconteceria entre os dois jovens embriagados.

"Melhor levar esta senhorita para casa. Temos um motivo razoável para absinto ser ilegal neste país e podemos vê-lo em suas reações." Pamela direcionara a última frase a Amber, que apenas fez uma cara triste e deixou a outra garota carregá-la para fora da cozinha.

Ter o coração a bater furiosamente contra a caixa torácica acabava com as energias de Dan, resultando em olhos pesados e vertigem. Sabia que havia bebido além de seu limite pessoal e, como consequência, gostaria de contar a Pedro tudo o que sentia. Era difícil impedir as palavras de correrem para fora de seus lábios, pois sufocavam-no.

Portanto, libertou-se do armário da cozinha que sustentava parte de seu corpo e sentiu que o movimento de rotação da Terra estava mais rápido que o usual. Antes que tivesse a chance de desequilibrar, mãos firmes o agarram pela cintura e alguma parte distante e remota dele agradeceu por não acordar na manhã seguinte com ferimentos.

"Talvez também precise de ajuda para retornar inteiro para casa." Tinha pleno conhecimento de que a fala dele foi acompanhada de um sorriso carregado de malícia, esta que era ainda indecifrável para Daniel.

Suspirou fundo e evitou olhá-lo diretamente enquanto era escoltado para fora da festa. O arrependimento consumia seu interior, lembrando-o de que não seria capaz de esquecer por completo o que havia se passado naquela noite. Porém, deixou-se entorpecer pela toxina que intensificava a sensação do toque do brasileiro em seu corpo, tanto que sentia a extensão de pele de seu abdomen incandescer por onde as firmes mãos dele passavam para ampará-lo.

E, então, sentiu couro incrivelmente frio chocar-se contra o calor, que nascera do contato entre os dois, fazendo-o perceber que estava no banco do passageiro de um carro. Viu Pedro entrar pelo lado do motorista e reconheceu o Porsche que ele dirigiu no dia em que esteve na casa dele e de Pamela.

"Estás em um relacionamento com Amber?" O rapaz, dono da voz grave e aveludada que não saía da cabeça de Daniel, quebrou o silêncio e, por conseguinte, a ardente tensão que tomava conta do veículo, tal sensação que parecia afetar somente o loiro.

Dan demorou alguns segundos para replicar, porque não esperava receber pergunta tão invasiva, excepcionalmente vindo de alguém que já possui par romântico. Piscou algumas vezes e decidiu que apenas daria de ombros.

"Eu e Pamela estamos juntos há muito tempo." Mudou de assunto e o outro garoto estava curioso em saber o porquê de ele insistir em falar de suas respectivas vidas amorosas. "Conhecemo-nos desde o nascimento, porque nossos pais são donos de uma empresa sediada no Brasil. Crescemos bons amigos e, ao iniciar a mocidade, resolvemos evoluir nossa amizade." Fez uma pausa para ver a reação de Daniel, que ouvia atentamente. "Porém, depois que havíamos aprendido todas as curvas e caminhos de nossa própria biologia, a monotonia consumiu o relacionamento e, desde esse momento, não existiu mais monogamia entre nós." Os olhos do loiro subitamente arregalaram ao fim da última oração, que Pedro fez questão de pronunciar cada palavra lentamente. Sentiu-se presa de um animal grande e impossível de escapar.

"Segundo a psicologia de comédias românticas, isto está fadado a um final infeliz." Era tudo o que conseguia responder ao que havia sido confessado: uma tentativa falha de ser engraçado comparando esta narrativa a um filme estrelado pelo Justin Timberlake.

"Talvez esta história pouco romântica que há entre nós esteja realmente perto de um desfecho." Deu de ombros. "E talvez exista outro alguém preso em meus pensamentos, intrigante suficiente para tirar-me o sono." O longo contato ocular entre os dois era o bastante para explicitar a atração mútua que sentiam.

Inesperadamente, Pedro estacionou o carro, deixando seu passageiro sem reação. Virou parte de seu corpo e, lentamente, colocou uma mecha dos longos cabelos claros, pertencente a imensidão azul e confusa que o encarava de volta, atrás da orelha. Daniel não movia um sequer músculo durante o ato, impediu até mesmo o movimento do diafragma para respirar.

De frente um para o outro, o carro aparentava encolher a cada instante, pois conseguia sentir o distinto cheiro de verão do brasileiro mais próximo do que lembrava há segundos antes. Seus olhos fecharam quando estavam a um nariz de distância, seu corpo agindo por instinto.

Mais inebriante que toda a vodca que tomara, era o perfume e o calor do rapaz. Seu coração não errava um compasso estável, o ar que saía dos seus pulmões era calmo e firme. Estava num transe devido a expectativa do beijo que havia de acontecer.

... Não aconteceu.

Tão súbito como a oportunidade havia surgido, ele desapareceu ao som de uma estrondosa buzina. Assustados, olharam para trás, onde uma garota de pouco mais de um metro e meio saía de uma enorme SUV preta. Daniel conhecia aquele carro.

"Misaki?" Estava surpreso ao ver que sua amiga estava no país sem aviso prévio.

"Estás a bloquear a entrada da garagem." A resposta era direcionada a Pedro.

Existia um alívio implícito no loiro por ela ter resolvido ignorar o que havia quase presenciado dentro do Porsche.

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Itapoga (Romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora