Daniel respirou aliviado ao perceber que ninguém havia notado sua saída sorrateira. Considerou a possibilidade de classificar esse dia como um dos piores que já vivera, logo abaixo do dia em que seu pai fugiu com outra mulher. Um exagero, é possível acrescentar.
Em pouco mais de uma hora, havia ficado sem ar de tanto correr, tinha pernas doloridas dos alongamentos obrigatórios e sentia a cabeça latejar no lugar onde foi atingido por um tênis. Contudo, nenhum dos fatores acima foi o maior colaborador para o enorme desconforto de Daniel. O incômodo tinha nome: Amber. Conseguiu evitar a garota a semana inteira e, ao encontrá-la no teste, teve que inventar algo para confortá-la. Talvez devesse ter sido honesto para afastá-la amigavelmente, mas preferiu dizer algo galanteador e receber flertes indesejados.
Portanto, fugiu em direção ao corredor principal, onde finalizaria sua saída da escola. Porém, não foi bem o que fez, senão faria de todos os capítulos anteriores inúteis. Sentiu as pernas bambearem e o corpo esquentar ao ver ele. O rapaz, que Daniel analisava anteriormente, estava de frente para um mural. Tinha cabelos molhados e uma expressão facial séria, enquanto lia o que estava escrito na parede.
Concluiu que o garoto era ainda mais bonito visto de pouca distância. Os raios de sol remanescentes do lusco-fusco faziam gotículas de água brilhar pela extensão de pele exposta, exalando o frescor de veranear em praias paradisíacas. Era elegantemente alto e atlético, como se tivesse sido esculpido em Carrara. Tantos pequenos detalhes que o faziam belo que Daniel não conseguia manter o autocontrole. Ao retornar de seu deslumbre, percebeu que estava atrás do garoto, fitando seus ombros largos.
Mortificado, ele não sabia o que fazer além de esconder a face ruborizada. Sentia que era tarde demais para continuar andando e fingir que não estava encarando o outro garoto. Abriu a boca algumas vezes, procurando palavras para justificar seu estranho ato. Nada disso pareceu funcionar, pois todos os seus pensamentos pareciam colidir entre si e paralisá-lo.
"Estás aqui para se inscrever no futebol também?" A mente atordoada de Daniel falhou ao receber as ondas sonoras que saíam do brasileiro e entravam em seus ouvidos como veludo, deixando-o em transe. Demorou uns instantes para conseguir se livrar da sensação e assimilar o que ele tinha dito.
"Não." Desafinou e limpou a garganta em seguida, tentando recuperar o controle de si mesmo. "Inscreverei-me no grupo de líderes de torcida." Continuou e percebeu que sua resposta era tão embaraçosa quanto desejar o rapaz com quem estava falando.
O garoto, então, deu passagem para Daniel se aproximar do mural e assinar a lista do time de torcida. Com dedos trêmulos, escreveu o próprio nome sob o olhar do menino. Dan não conseguia decidir se o encarava de volta ou se corria. Talvez estivesse realizando uma espécie de vingança por todos os olhares que havia recebido mais cedo. Optou, por fim, por apenas engolir em seco.
"Eu nunca conheci um líder de torcida. Confesso que estou encantado." Disse, os olhos castanhos ainda direcionados a Daniel. Era dono de uma voz suave e com traços de um sotaque estrangeiro que, juntos, seduziam Dan. "Gostaria de me acompanhar?" Balançou o baseado, que tirou de trás da orelha, entre os dedos.
Antes de Daniel assentir, o rapaz já havia seguido caminho até a saída. Sentia que era um pouco arrogante por presumir que o outro não recusaria seu convite, mas não relutou. Seguiu o brasileiro pelos portões e acomodaram-se em um banco fora do território escolar. Toda a situação gritava estranheza: estava fumando com alguém que acabara de conhecer.
O desconhecido em questão gostava de desconcertar o outro garoto com olhares sedutores e sorrisos durante a conversa que mantinham, parecendo quase predatório. Se Daniel possuía algum discernimento, havia se esquecido. Era impossível resistir aos charmes do brasileiro, principalmente quando o mesmo insistia em exalar fumaça de forma tão graciosa.
"O que achastes do jogo?" Era uma pergunta tão inocente e descontraída, mas causava enorme constrangimento em Daniel. Ele sabia que estava assistindo à partida.
"Jogas bem." Tentou não parecer nervoso ao dar de ombros. Tragou logo depois para evitar o olhar do brasileiro. Daniel não conseguia entender o porquê de seu coração teimar em bater tão furiosamente diante de sua presença.
"Obrigado. Porém, não amo o esporte. Anseio participar do time apenas para conhecer pessoas novas." Olhou nos olhos do outro garoto. A luz tênue do pôr do sol dava um belo tom âmbar às íris castanhas dele.
O brasileiro não recebeu resposta, pois sua companhia estava sob efeito da erva que fumavam. Parecia hipnotizado pelos pequenos detalhes do rosto que invadia tão descaradamente seu campo de visão. O cérebro entorpecido de Dan estava tão focado no rapaz que não assimilou o som de alguém se aproximando e, quando se deu conta, cabelos negros era tudo que via.
"Estive à sua procura." Reconheceu a voz de Amber e sentiu a sobriedade chegar aos poucos. "Este rapaz esteve a fugir do treino, acreditas?" Direcionou a fala ao outro garoto. Como modo de defesa, Daniel se encolheu em seu lugar do banco.
"Quanta rebeldia." O escárnio era claro pra Daniel e difuso para Amber.
"Não me apresentei. Olá, chamo-me Amber." Ofereceu-lhe a mão e, como resposta, recebeu um delicado beijo em seu dorso. Era um príncipe obsequioso por natureza e Daniel entristeceu-se com essa fatídica conclusão.
"Pedro." A sonoridade do nome causava arrepios em Amber e, a contragosto, em Daniel.
A/N: Perdoem-me a frequência em que publico este livro. Eu gosto de pensar em cada palavra cuidadosamente e em como elas se encaixam. É um trabalho razoavelmente árduo, pois demanda o tempo que eu uso para estudar para a faculdade.
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Itapoga (Romance gay)
RomanceGostaria de possuir um dom que me permitisse resumir essa obra em breves palavras, porém, não sou capaz. Seria de natureza impossível mostrar toda a profundidade psicológica do personagem principal, Daniel, nesse parágrafo; assim como é inviável dim...