Nota do autor: Falei que não sumiria e sumi de novo. Porém, estou tentando me adaptar a uma nova rotina de escrita e espero conseguir postar semanalmente :) Alguém escuta as músicas que coloco aqui? Boa leitura!
O sol brando de um outono que lentamente caminhava para seu ápice transpassava as longas cortinas amarelas do quarto de Dan, tingindo-o de um dourado semelhante a tardes de verão na beira do lago. Talvez fosse este o motivo de o dono do apartamento ter escolhido cor tão inusitada, assim, poderia sentir a nostalgia de festivais de música e Bain des Pâquis durante o ano inteiro.
Apesar da paisagem sazonal agradá-lo, tinha uma sensação de completo vazio e solidão instaurada em sua garganta, impedindo o ar de passar livremente. Pensou nesta como uma manhã seguinte depois de afogar as penas em vinho, quando recordar os acontecimentos frutos de total embriaguez trazia saudade e confusão. Este era Daniel, tendo um papel dançando entre os dedos como única certeza de que os eventos dos capítulos anteriores eram reais.
Gostaria de ter sentido o toque delicado de seus lábios ao abrir os olhos e o coração a encher de afeto ao ouvir palavras tão bonitas. No entanto, teve Vincent a bater furiosamente contra a madeira de sua porta e gritar se ele continuava vivo. Queria que não estivesse, pois ser acordado abruptamente e ter uma carta onde antes residia o brasileiro o fez entrar em profunda melancolia.
Após um longo suspiro, pegou o celular, ponderando se deveria ou não perguntar a Pedro o porquê de ter fugido assim, sem se despedir. No entanto, não o fez, porque seus olhos entraram em contato com a última mensagem que havia lhe enviado, a lembrança de como sofreu com a resposta que recebera ainda era nítida em sua mente. Talvez fosse melhor permanecer na dúvida para manter a boa imagem que tinha dele, deitado em sua cama a conversar sandices sobre universo paralelo.
Aquele definitivamente não era um de seus melhores dias, pois, logo em seguida, recebeu mensagem de sua mãe. Antes mesmo de ler, seu coração afundou no peito. Ele não conseguia decifrar se era de todo o trauma que carregava ou de como sentia saudade dos dias em que ela era sã.
Mãe: "Dou graças a Deus, a que sirvo com pureza de consciência, tal como aprendi de meus pais, e me lembro de ti sem cessar nas minhas orações de noite e dia. Quando me vem ao pensamento as tuas lágrimas, sinto grande desejo de ver-te para me encher de alegria." 2 Timóteo 1:3-4
Mãe: Minha terapeuta pediu para que me acompanhasse na próxima sessão, amanhã. Posso confirmar tua presença? Amo-te, filho querido.
Ansiedade tomou o garoto. Não estava pronto para vê-la sem ser atingido pelo misto de emoções que sua presença causava, mas gostaria de demonstrar que se importava e que apoiava sua escolha de se tratar com ajuda profissional. O 'sim' custou a ser digitado e enviado, mas teve de ser feito. Era uma decisão madura demais para quem ainda estava no auge da puberdade.
Cogitou se aquele encontro seria como o último que tiveram, em que, num ato de loucura, ela tentou acertá-lo com as louças da casa. Passava os dias a tentar esquecer aquele momento, a esquecê-la. Porém, sempre acabava aos prantos, pois a memória parecia estar entalhada em seu cérebro, vívida como a primeira vez que lhe ocorreu.
"Daniel, pelo amor aos céus, saia já deste quarto!" Vincent entrou no cômodo sem o mínimo de modos que a moral exigia. Contudo, seu semblante zombeteiro deu lugar a um cenho franzido ao dar-se conta de que o garoto tinha os olhos cheios d'água. "O que aquele rapaz fez contigo?"
Dan parou de se lamuriar por um segundo e entrou em paralisia. Estava tão submerso em sensações libidinosas enquanto Pedro estivera ali que havia esquecido completamente de quão finas aquelas paredes eram. Quis sumir da face da Terra para não ter que encarar Vince e a verdade.
"Não esperava que me receberia com tal reação, pois foi nada silencioso nesta madrugada." Tentou fazer graça para a diminuir a tensão entre eles, mas o loiro permanecia mortificado. "Eu não queria ser um obstáculo em tua vida sexual, então preferi não importuná-los apenas para avisar que ouvi cada vez que a cabeceira da cama acertou brutalmente a parede." Daniel não conseguia olhá-lo nos olhos ou parar as lágrimas que voltavam a descer em cascata de seu rosto e umedecer sua blusa.
Silêncio pairou no recinto, porque Vincent percebeu que a tristeza do garoto era impossível de ser distraída com provocações. Consequentemente, Dan agradeceu aos céus por seu colega de quarto ainda possuir um pequeno fio de empatia e não usá-lo para o próprio entretenimento naquela tarde de domingo.
A surpresa se deu quando o adulto de cabelos platinados sentou-se ao seu lado na cama e, repentinamente, envolveu-o nos braços. Dan não soube como reagir, pois Vince nunca ao menos manteve uma conversa séria.
"Não sei o que ocorreu para estar mais soturno que o de costume, porém, estarei aqui se quiser alguém para ouvi-lo. Sei a angústia que é amar e não poder compartilhar com o mundo a graça deste sentimento, temendo a rejeição que possa receber das pessoas que considera mais importantes. Não desperdice a oportunidade de ter esta conversa, porque eu daria tudo o que tenho para voltar ao passado e aconselhar o adolescente turbulento que fui." Alisava as costas do menino, consolando-o.
"Gostaria que a paixão avassaladora por Pedro fosse o único mal a assolar minha alma. Contudo, estou preso desde a infância com estes seis graus de turbulência interna." Repetiu as palavras que Pedro lhe dissera mais cedo.
Esta era primeira vez que admitia em voz alta sofrer pelo relacionamento conturbado dos pais.
Nota do autor: Sei que este capítulo não foi tão satisfatório quanto os anteriores, mas juro que será importante para o desenvolvimento do nosso querido protagonista, Dani. Não esqueça de VOTAR e COMENTAR para me incentivar a continuar escrevendo <3
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Itapoga (Romance gay)
Storie d'amoreGostaria de possuir um dom que me permitisse resumir essa obra em breves palavras, porém, não sou capaz. Seria de natureza impossível mostrar toda a profundidade psicológica do personagem principal, Daniel, nesse parágrafo; assim como é inviável dim...