Capítulo 18

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Nota do autor: A música acima é  La Femme à la Peau Bleue - Vendredi sur Mer, também disponível na playlist 'Itapoga' no spotify (o link está na minha biografia do wattpad).

Nota do autor: A música acima é  La Femme à la Peau Bleue - Vendredi sur Mer, também disponível na playlist 'Itapoga' no spotify (o link está na minha biografia do wattpad)

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O vento soprava gentilmente naquela tarde, levando o perfume de Aaron a atingir o nariz de Daniel. O cheiro vinha carregado de lembranças da fase que antecede a adolescência, de quando o garoto escutava seu melhor amigo falar incansavelmente sobre jogos e desenhos japoneses, nunca falhando em demonstrar interesse e olhares apaixonados. Não recordava quando começara a usar tal essência, mas adorava a nostalgia que a acompanhava.

É de notória relevância o esclarecimento sobre os sentimentos afetivo-amorosos do protagonista desta infame narrativa. O amor que nutria pelo judeu acima citado é visto como algo passado, relembrado com carinho por ele. Desde que Pedro se fizera presente no início da obra, não há outro ser neste plano existencial que ele tenha interesse.

Perdido na memória de um Aaron sem uma mandíbula tão bem esculpida e seu característico nariz judeu simetricamente encaixado em seu rosto, recostou no banco acima da arquibancada. Era uma distração bem-vinda do que havia acontecido durante o horário de almoço e, de olhos fechados, sentia-se completamente relaxado.

O ruído produzido pelo time de líderes de torcida, que faziam exercícios árduos no gramado abaixo da longa e alta arquibancada que estava, era cancelado e ouvia apenas o lindo sotaque de uma artista local pelos fones de ouvido. Em sua mente, agradecia Faraji por sugerir que ficasse alheio ao treino pelo dia.

"Admiro teu incrível autocontrole. Não acredito que conseguiria permanecer são apalpando lindas garotas por mais de uma hora completa." O arrependimento de Dan era instantâneo ao saber que a sugestão de Faraji não era ingênua e honesta como havia imaginado.

"Deveríamos ter nos filiado ao time quando nos foi oportuno." Henry deu continuidade ao diálogo que o loiro nunca sentiu vontade de ter. "Esta linda cena diante de nossos olhos me lembra o que está a perturbar meu sono. Maryn se faz presente em meu subconsciente pelas noites quando estou adormecido, sempre vestida em couro e pronta para me punir." Ao terminar de se expor, os outros três garotos caíram na gargalhada. "Não vejo onde está o humor, pois falo sério. Ao ver Maryn morder um de seus lápis na aula de matemática, a imagem que tive dela na noite anterior me invade e não consigo pensar em mais nada pelo resto do dia." Daniel tentava conter o riso.

"Obrigado por prender esta figura em minha cabeça." A entonação era irônica. "A partir deste momento, quando estiver auxiliando-a a se alongar, verei a menina como uma impiedosa dominatrix." Dan revirou os olhos, mas continuava com o sorriso jocoso estampado em seus lábios.

"Deveriam agradecer por tê-los feito ver nossa amiga finlandesa de outra maneira." Recebeu empurrões de Aaron e Faraji como resposta. "Gostaria de pedir a ti, Danny, que perguntasse a ela sobre mim." Mudou de assunto e o menino sentiu pena do amigo.

Conheceu Maryn ao entrar no ensino médio e, desde aquela época, tendia a se envolver com formandos. Atraía-se por homens como Pedro, galanteadores e sem um mínimo de decoro. Suspirou triste ao lembrar de que tais características também eram de seu agrado. Era incapaz de resistir a maxilares fortes e corpos definidos.

"Nem gaste suas palavras nesta inútil conversação, Dan." Aaron proferiu o que ele não teve coragem. "És muito franzino e gentil para o gosto de Maryn, Hen." Ele revelava a verdade sem demonstrar alguma empatia.

Inserindo o fone em seu ouvido uma outra vez, o dono dos longos cabelos claros voltou a repousar a cabeça na arquibancada. Pelo modo como evitava sempre falar sobre desejar o sexo oposto, acreditou por um segundo que eles poderiam já ter suspeitado sobre sua real sexualidade. Porém, concluiu que percepção não era a maior qualidade de nenhum deles.

Preso uma outra vez em seus pensamentos, sentiu o tão temido cheiro de sândalo e mar, seus olhos abrindo abruptamente em seguida. Pedro se materializara em sua frente, iluminado pelos últimos raios dourados do sol da tarde. A surpresa que teve ao vê-lo ali, sorrindo e papeando com seus amigos, deixou-o paralisado por instantes que pareceram equivaler ao infinito.

A raiva dentro de si crescia e sabia que era o motivo do próprio sentimento. Enfurecia-se consigo mesmo, pois seu coração batia apaixonado ao perceber como o cabelo molhado do brasileiro deixava água cair lentamente pelo pescoço e descer os dois botões abertos da camisa do uniforme, a gravata que deveria enrolar em seu colarinho longe de vista. Odiava também o modo que estava sempre sorrindo e arrancando sorrisos de quem estivesse por perto, as covinhas sempre perfeitamente harmoniosas com os dentes brilhantes.

Hesitante, tirou um lado do fone ao notar que era alvo de seu discurso.

"Estive a contar que o álcool tomou conta de tua consciência na última sexta." Um frio percorreu o estômago de Dan com a possibilidade de ter falado sobre o quase beijo. "És regido pela sorte, pois encontraste-me antes de ir ao encontro do chão." Teve vontade de esclarecer que ele o seguira até a cozinha para importuná-lo e, ao tentar ir embora, desequilibrou-se. "De qualquer maneira, vim até a ilustre presença de vocês para entregar os documentos que este jovem com sentidos entorpecidos deixou em meu carro." Tirou do bolso o plastificado que ficava a carteira de identidade e o cartão do plano de saúde de Dan e, ao receber seus pertences, ele viu Pedro direcionar-lhe uma piscadela sutil.

Tinha plena consciência de que o rapaz viu seu rosto enrubescer antes de partir da dos bancos e, um pouco depois, do campo da escola. Entretanto, ele não tinha ideia de que as bochechas rosadas eram um misto de cólera e embaraço. Sua própria mente o julgava por não conseguir se desvencilhar da atração que assolava profundamente sua alma.

"Espero chegar ao último ano escolar como Pedro, um galanteador capaz de arrancar suspiros de garotos e garotas aonde passa." Henry compartilhou seu pensamento, fazendo Aaron e Faraji darem risadas de escárnio. Se Daniel não estivesse tão atormentado pela dicotomia de pensamentos causados pelo maldito homem em questão, teria acompanhado seus amigos na zombaria.

"Acredito que para tal sonho se concretizar, precisarás ao menos ser bonito." Aaron não poupou Henry da dura realidade. Porém, concordava veemente com o que havia dito, pois, apesar de indiscriminadamente cafajeste, era a criatura mais bonita e encantadora que havia passado pelos corredores daquela instituição de ensino.

Nota do autor: E AÍ, CONSAGRADOS?! Já perdoaram o Pedro pelos acontecimentos do capítulo 16? Começaram a gostar do Aaron ou só eu estou perdidamente iludido pelo amigo judeu do Dan? Comenta aí o que achou do capítulo, da história, da vida... Só não seja um leitor fantasma, porque isso me desmotiva MUITO.

Itapoga (Romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora