Capítulo 28

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Passou-se uma semana desde que Zelena começara, enfim, a ir às sessões de terapia. Zelena sentia-se diferente, nem ela mesma estava se reconhecendo; ela conseguia ver coisas boas e lindas que o mundo oferecia, o que antes nunca tivera notado; sentia-se como se, somente agora, poderia ver tudo como realmente é, e não como imaginava em sua cabeça. Zelena sempre foi uma pessoa descrente, tanto à religiões quanto à ciência, mas teria que abrir mão do seu ateísmo ao constatar que estava funcionando, todas aquelas conversas com seu terapêuta, as medicações e até mesmo o aparecimento repentino de uma pessoa anônima em sua vida que lhe dera mais apoio que poderia imaginar receber de alguém um dia.

Além da mudança em seu interior, ela também começou a ser alguém mais feliz em seu ambiente de trabalho; seus colegas estranhavam suas boas ações ou os sorrisos espontâneos, mas tinha alguém ali que sabia muito bem do que se tratava e, que estava orgulhosa do seu trabalho. Ruby sorria constantemente, feliz pela rápida evolução de Zelena. ''Eu sabia que você estava aí dentro, só precisava de um empurrãozinho'', pensava Ruby voltando, imediatamente, o seu olhar para a tela após desviar de um olhar simpático de Zelena. ''Ai, meu deus. Por que ela está encarando?'', Ruby pensa um pouco nervosa e olha, novamente, devagar e respira aliviada ao ver Zelena entretida no trabalho, dando margem para que pudesse enviar a primeira mensagem, fazendo daquilo o melhor momento do seu dia.

ENDEREÇO ANÔNIMO (Ruby): Olá, bom dia!

ZELENA: Bom dia. Estava mesmo esperando uma mensagem sua.

ENDEREÇO ANÔNIMO (Ruby): É mesmo? Pois me conte as novidades, você esteve um pouco sumida.

ZELENA: Me desculpe. Fazia parte do tratamento. E falando nisso, não poderia deixar de agradecer por ter me incentivado, você não imaginava o quanto isso está me ajudando. Não só isso, mas você também.

ENDEREÇO ANÔNIMO (Ruby): Não precisa agradecer. Faça isso se tornando o melhor que puder ser.

ZELENA: Já estou tentando. A cada sessão eu percebo quanto tempo eu perdi fazendo certas coisas; o quanto eu magoei pessoas ou poderia magoar.

ENDEREÇO ANÔNIMO (Ruby): É isso aí, não vai ser de um dia para o outro. Mesmo que já se sinta um pouco melhor continue indo. Nunca é demais ter alguém para poder desabafar ou ser aconselhado. E também você tem a mim, não deixarei que pare. Ok?

ZELENA: Ok. Então, lembra que te falei que houve algo feio entre mim e minha irmã? Depois daquilo ainda não nos falamos. Eu estava envergonhada, arrependida e sem saber o que poderia falar. Mas eu realmente quero tentar um contato, mas não sei se sou capaz. Eu tenho guardado um grande segredo, algo que poderia fazer muito mal a alguém e não sei se conseguiria guarda-lo se a visse pessoalmente. Eu não sei o que fazer.

Ao ler a última mensagem, logo Ruby percebe que aquilo se tratava de Emma. Que conselhos poderia dar ou como conseguiria falar sobre isso sem parecer familiarizada com a situação? Zelena era esperta, certamente, cogitaria a possibilidade de ser alguém próximo, íntimo.

ENDEREÇO ANÔNIMO (Ruby): Sim, me lembro. E não sei o que falar quanto à isso, é algo que somente você saberá o que fazer. Mas de qualquer forma, conta comigo. Eu sempre estarei aqui pra você e por você.

ZELENA: Tem razão. Eu vou pensar em tudo. Bem, eu poderia dizer o mesmo, tipo, conte comigo para o que precisar. Mas não dá pra falar isso para alguém que praticamente é só um endereço de e-mail. Ainda assim, obrigada. 

ENDEREÇO ANÔNIMO (Ruby): Já me faz feliz saber que falaria o mesmo se tão somente soubesse meu nome.

Não era mentira que aqueles e-mails arrancavam inúmeros risos de uma mulher que pouco sorria. Zelena estava impressionada em como uma vida poderia mudar tanto em tão pouco tempo. Seus dias pareciam até ter outra cor, como num sonho bem fantasioso, mas a vida real estava bem ali e teria de voltar ao trabalho. Seu chefe não a deixara em paz nos últimos dias, era época de cumprir meta. Zelena já se sentia perdida, mas usava a técnica que sua terapêuta ensinara quando sentisse algo que fosse acarretar uma de suas crises de ansiedade, sua mesa estava lotada de papéis, contratos que tinha de revisar e montar. Zelena procurava desesperadamente por páginas que deveriam estar ali, levanta-se e vai bufando até a mesa de Don.

- Don, eu preciso, urgentemente, daquelas páginas para eu poder digitalizar o contrato. Você colocou na minha mesa? Não encontro. _ Zelena fala tentando manter a calma.

- Primeiramente, boa tarde, Zelena. Então, elas estavam aqui agora mesmo. _ Don fala olhando ao redor. _ Aqui está! Tome. _ fala ao vê-las no chão e apontar para Zelena.

- Ótimo! Obrigada, Don. _ Don estranha a simpatia de Zelena, mas deixa pra lá. Zelena sai andando e lendo os detalhes e para, dando meia volta e indo novamente em direção a Don. _ Não está certo? _ Don pergunta revirando os olhos, Zelena apenas olhava para ele e para os papéis intercaladamente. _ Eu sabia que ela daria um jeito de me sabotar.

- O quê? Ela? _ Zelena pergunta confusa, ela havia voltado ali com um propósito.

- Sim. Não conte ao chefe, ok? Eu precisei sair um dia desses e acabei esquecendo de montar. _ Don se desculpa. Pensava que, se tivesse mesmo algo errado, Zelena não perderia a oportunidade de prejudicá-lo contando ao chefe.

- Ok. Ei, ei... relaxa, cara. Eu não vou contar nada se você me ajudar. _ Zelena bate na mesa a fim de prender sua atenção. _ Agora me diz, quem escreveu essas páginas? _ Zelena pergunta seriamente. Ela havia percebido no instante em que vira os papéis que aquela letra lhe era familiar, não se lembrou exatamente de onde, até que sentiu a lembrança martelar em sua mente. Aquele bilhete que viera juntamente com as flores enviadas pela pessoa que lhe enviava os e-mails, era com certeza com a mesma letra.

- Eu... pedi que Ruby fizesse por mim. Mas por favor, não conta ao chefe. Sério! _ Don responde e implora.

- Ruby? Vo-você tem certeza? _ Zelena pergunta ainda sem acreditar.

- Sim, tenho. _ Don responde, mas fica bem confuso ao ver Zelena dar as costas e seguir para a mesa de Ruby.

Era o horário de almoço de Ruby, sua mesa estava vazia, não poderia ser mais perfeito. Zelena poderia procurar por pistas, algo que concretizasse que era ela mesma a garota dos e-mails. Zelena dá uma olhada rápida na mesa, corre até a sua e pega o bilhete o qual havia guardado na última gaveta, segue até a baia de Ruby e abre as gavetas a procura de algo que tivesse sido escrito a punho, e esbugalha os olhos ao ler em um caderninho, frases poéticas que Ruby escrevia somente para si. Zelena não sabia como reagir, era sim a mesma letra, era sim Ruby, a garota que estava em contato com ela todo este tempo. Uma pessoa que sentava em sua frente por tempos. Ela não conseguia acreditar que era alguém que estava tão perto e em como poderia não ter percebido antes. Zelena guarda rapidamente o caderno ao ver que já estaria na hora de Ruby voltar, retorna a sua mesa e trabalha o resto do dia em silêncio, pensando em tudo, em quantas informações havia trocado com Ruby sem saber, em como Ruby agia tão naturalmente mesmo, com certeza, sabendo de tudo que tivera feito à Emma.

A antiga Zelena não entenderia como alguém poderia ser tão boa, humilde e atenciosa como Ruby. Mas a nova Zelena via, entendia que somente Ruby via que existia algo de bom nela e que mesmo com todos os problemas e conflitos, foi a única que permaneceu ali tentando ajudar. E era altruísta, era sincera a intenção de Ruby, Zelena sabia disso e gostava do que sentia em seu coração após ter descoberto. Não era um sentimento ruim ou com rancor, talvez gratidão ou amor, não sabia. Zelena se sente bem inspirada e decide, mesmo sem aviso prévio, ir até o apartamento de Regina. ''Somente você saberá o que fazer'', lembrava-se Zelena das palavras de Ruby, e sentia que sabia exatamente o que fazer.

- Obrigada, Ruby! _ Zelena sussurra para si mesma ao pegar sua bolsa e se preparar para sair. Disfarçadamente, vigia Ruby com os olhos, que estava concentrada em seu trabalho, e sua pele brilhava de tão macia, seu cabelo, seus olhos eram perfeitos. ''Como ela é linda, como não vi antes?'', pensava Zelena. 

Epic Return - [SwanQueen]Onde histórias criam vida. Descubra agora