Depois da aula eu, Anne e Shatt fomos ao Unpr. Sem esperar Henri. Contei tudo a ela, como ele estava, o que me disse e como a situação pirou mais do que achei ser possível.
- Uau...não esperava isso de Henri na verdade - Anne da um gole na cerveja - e ainda mais por ele não me considerar tudo isso, como o considero.
Os dedos se apertam na garrafa apoiada no balcão. Shatt apenas coloca a mão no ombro dela.
- Também fiquei surpreso com toda essa cena - Shatt estende a mão para o Unpr (barman) lhe trazer uma cerveja.
- Você não tinha me contado sobre o Fundador - Anne me lança um olhar malicioso e curioso. Fico envergonhada, mas feliz por ela não ficar magoada como Henri.
- E-ele... nos esbarramos na biblioteca e em outros lugares. Nessa vez no lago nós...ficamos... - sussurro a última palavra envergonhada.
- Não me disse esse detalhe também! Por isso Henri estava tão surtado - ela diz rindo - Merdith ficou com alguém? MERDITH! - Ela grita atraindo olhares.
Me encolho envergonhada enquanto ela gargalha como um macaco. Shatt tenta a acalmar.
- Pega leve com a Mer - ele esfrega as mãos nas costas arqueadas, por conta da gargalhada.
- aaah como eu sofro, Shatt! - me lanço ao balcão levantando a mão, Unpr aparece rindo de Anne - Uma coca, Unpr. Por favor. Com limão - digo morrendo.
- É pra já, Mer.
- Obrigada.
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Minha sorte era que Shatt estava conosco, assim eu posso ir pra casa em paz sabendo que Anne chegará em casa bem. Ela diz que está bem, mas cuidado nunca é demais.
Na minha cama, com um vestido de seda até o meio das coxas, me viro para a parede. O manto com cheiro de canela com maçã, o cheiro dele, esta sobre o travesseiro. O puxo para mim, o delicioso cheiro invade minhas narinas com uma graça. Sorrio só de imaginar ele aqui do meu lado. Pego no sono tão rápido, talvez as lágrimas de frustação que soltei no Unpr estejam me deixando exausta.
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Um estrondo na janela me faz acordar sobressaltada. O quarto já está escuro, sendo iluminado apenas pela lua. A porta da janela estava aberta, foi só o vento. Vou até ela e fecho, olho algumas vezes para as árvores. Minhas mãos soam frio quando vejo os olhos pratas. Quietos me olhando com uma névoa prata caindo pelos seus cantos. Diferente dos olhos amarelos, esses me dão medo, um calafrio percorre minha coluna só por ele me encarar. Não deve ser diferente dos amarelos.
Na primeira vez que vi os amarelos, disse a mim mesma que não iria, que já via filmes demais para saber que era uma péssima ideia. Mas...minha curiosidade canta tão alto que meus pêlos se arrepiam. Eu sinto o medo me arranhar, mas em coragem aos amarelos, pego o manto preto na cama, me cubro e saio pela janela. Pelos telhados vou andando devagar. Espero não me arrepender depois, espero que não ficar pior do que já estou. Passo a língua pelos lábios me lembrando do corte que se cura devagar, me lembro da pessoa que deixou ele em mim. Minhas veias se enchem de coragem.
Desço pelas vinhas sem fazer muito barulho. Meus pés se chocam na grama gelada e espinhosa, tampo a boca para abafar o grunhido. Os olhos ainda estão entre as árvores, me encarando, toda aquela coragem aquece meu corpo pelo manto, o agarro com força e sigo até os olhos. De acordo com que ele se move pela floresta densa em escuridão, corro atrás. Os gravetos e pedras pequenas arranham meus pés, deixando-os ardendo. Os olhos enfim param em um lugar pouco aberto.
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RYSTTON HERGREELY: O Livro Lunar
Novela Juvenil[CONCLUÍDO] Rystton Hergreely é uma cidade pequena e isolada das outras. Um lugar movido por suas lendas estranhas. Um dia, gêmeos aparecem causando agitação na população, vários boatos mortos revivem - e não é só os boatos. Merdith é uma garota ce...