Capítulo 16 - Biblioteca privada

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A GÊMEA

Escondida em um banco atrás das árvores, como quando era criança. Quando essa casa era uma fortaleza de Fundadores, mas agora resta apenas eu e meu irmão.

Aqueles olhos verdes me trazem arrepios e traumas muito esquecidos e que tento consertar. Mas é um erro irreparável. Lembro do cabelo loiro dele quando ficava manchado de sangue das pessoas da Vila que havia lá perto. Foi o mesmo cabelo que vi quando maltratei Merdith. Minha melhor amiga e irmã; que hoje nem sabe quem sou eu. Anne, essa é sua melhor amiga. Eu sou apenas uma história.

Nathan aparece pelas árvores e me encara com compaixão. Seus olhos são a única coisa sólida que me segura nesse mundo. A única pessoa que me impede de me transformar em um verdadeiro demônio sem vida. Meu irmão.

- eu sei que...O Senhor era um desprezível, mas Merdith não é ele, e você sabe - sua repreensão carinhosa me faz derramar mais lágrimas, elas sempre cairam silenciosas, nenhum pingo de barulho  - ela estava chorando também.

- por que não ficou com ela? Você sabe que ela é a mais sensível de nós  - digo ríspida.

- sim eu sei - um sorriso brota em seus lábios  - vem cá  - Nathan se senta ao meu lado e me abraça - demonstrar nossas dores nunca foi algo que nos beneficiou lá. Pode ser bom também desmoronar, mas eu sei que você é bem mais forte para deixar uma escória como aquele homem infeliz por seu trabalho bem sucedido.

Limpo as lágrimas com a manga da blusa e abraço meu irmão mais forte. Ficamos ali um tempo muito longo.

- pode ir. Quero ficar sozinha  - o dispenso com um sussurro. Nathan me olha suspeito  - estou bem, irei ficar - Forço um sorriso.

Meu irmão vai embora sem reclamar ou tentar me fazer desistir. Merdith e ele são o mais perto de um futuro que temos. Eu não conheço ninguém para crescer na família, mas Merdith e Nathan podem, eles podem crescer a família. Sorrio com o pensamento de como seria Nathan criando duas criança, como seria eu como tia.

Um dia sorriremos de toda essa merda. E até lá eu quero ser uma pessoa melhor; não precisando ver sangue para ficar feliz.

MERDITH

Sem ter muito o que fazer volto para a mansão. Corredores e corredores, acho que me perdi. Mas sigo eles mesmo assim. Depois de tantas curvas encontro um par de portas de madeira escura, tão altas. As empurro e dou de cara com um biblioteca de dois andares. O que eles procuram na biblioteca de Rystton quando tinham uma bem aqui? Entro maravilhada com a organização dos livros e as enormes estantes. Enrolo um bom tempo por ali até ouvir as portas de abrindo mais uma vez.

Desço a cabeça para enxergar melhor e lá está Nathan me procurando com as mãos no bolso. Faço um aceno e ele vem até mim.

- Já se sente em casa para sumir assim?

- Talvez tenha me perdido, mas no fim acabei em um bom lugar. Nunca vi nenhum desses livros na biblioteca de Rystton - digo impressionada.

- Porque ele não existem fora daqui - sua mão se estica me prendendo contra a estante - são únicos. Especiarias e segredos da família Fundadora  - o gêmeo sorri enquanto puxa um livro.

Nathan o folheia parando em uma página específica. Vejo o título, " As Vinte"

- São histórias detalhadas e as mais reais de todas as famílias que estavam aqui quando Rystton virou Rystton.

- Isso é o máximo, Nathan  - digo fissurada nas imagens.

Pego o livro de sua mão e folheio vendo fotos de famílias que sei quais são, mas nunca vi fotos tão...íntimas. Nathan por trás de mim, apoia o queixo no meu ombro e me abraça com uma mão em minha barriga. Relaxo e tento não demostrar minha vergonha pelo toque íntimo; depois de toda aquela história, vejo as coisas de modo diferente. Acredito neles porque confio em mim, e algo em mim diz que sim. Que é verdade. Vejo as fotos mais reais. A outra mão muda alguma páginas então ele aponta para uma foto.

- São seus ancestrais - a voz dele no meu pescoço me arrepia.

Observo a figura com mais cuidado. Mulheres e homens sentados em volta de uma fogueira comendo peixe. Tão primitivos sem usar roupas, apenas cobrindo o básico.

- Os Rhouzana - Nathan vira a cabeça para beijar meu pescoço.

- Está mais a vontade que eu depois de me contar a história ? - digo mordendo o lábio, não consigo evitar o sorriso.

- Com você eu sempre me senti, só não podia demonstrar - confessa entre os beijos, o que me faz rir pelo tom da voz preguiçosa - Como eu disse, precisamos esquecer você. Quando voltei para Rystton não imaginava que ainda estaria aqui, sempre dizia que ia embora, pensei que tivesse ido. Não ousei me deixar pensar para não me magoar depois.

- Se magoar? Como o fundador mais poderoso e psicótico pode ser tão sensível? - coloco minha mão sobre as suas.

- Não me provoque  - sussurra e um choque de prazer passa por minha coluna, me lembrando do que ele fazia comigo quando essa frase saia dele - quando me esbarrei na biblioteca com você, travei e me lembrei de tudo em um piscar de olhos. Doeu em mim quando você nem sabia quem eu era, mas era compreensível - uma pontada toca meu coração - senti vontade de te tirar dali e te abraçar te encher de beijos. Como não podia, assim que sai dali...fiquei horas em um pânico que não havia sentido há anos atrás. Crescemos em meio a morte e doentes mentais; mais mortes e sangue. Ver você, me lembrou que nem sempre fomos aquilo.

Seus beijos se espalham pelo meu ombro até ele se afastar e massageá-los. O que estava lendo no livro da aula de literatura é um terço do que esse mostra. Lá havia desenhos das pessoas, nesse há fotos. Como existiam fotos tão antigas?

- Amélia está bem? - viro a cabeça para encarar Nathan, sua boca se curva - conseguiu acalmá-la?

- Ela quis ficar sozinha, ela ficará bem.

********

Na mesa, para almoçar, só apareceu Nathan e eu. Imagino que Amélia deva estar no quarto pensando em algo. Para ela deve ser um choque relembrar de tudo, ou não, eles não sentem essas coisas; remorso, tristeza, amor. Rystton deve estar mudando eles. E eles estão me mudando. "o fato de você andar conosco, fez com que pensasse como nós dois. Como os fundadores pensavam". Talvez eu não esteja mudando...Eu disse a mim mesma que ia parar, por conta da absividade deles. Principalmente do Nathan, mas eu não sinto isso por ele desde agora. Não conheci ele dessa forma, mas ninguém a mesma pessoa que era aos 5, 6 ou 7 anos de idade.

Ele vai precisar se esforçar pra que as coisas entre nós deem certo. Não vou aprovar o que eles fazem, não os culpo mas não irei passar pano. Me levanto da cadeira rápido o suficiente para ela quase cair. Eu mesma me surpreendo quando bato as duas mãos na mesa e encaro o gêmeo, que me encara também.

- Não aprovo o comportamento de vocês! Eu tenho certeza que amo os dois, só não...me lembro! Mas têm que se esforçar para deixar isso de lado. As coisas podem ser melhores.

- Bom, estava esperando que voltasse a bordo capitã - Nathan mastiga a carne sem desviar a visão de mim - não está no seu instinto ser dócil como vi.

Não consigo pensar em nada. Bebo todo o suco e ando para meu quarto - de Nathan. Quando passo por ele escuto seu sussurro:

- Está belíssima nesse vestido colado. Como uma de nós.

Sinto um nervoso, mas sem corar dessa vez.

- Eu sei que fiquei.

RYSTTON HERGREELY: O Livro LunarOnde histórias criam vida. Descubra agora