Capítulo 3

2.6K 345 298
                                    


Gokhan


Estavam em cima de uma das construções autorizadas pelo Alfa. Uma futura escola. Seu pai dominante, Mustaf, tinha lhe dito que aquela construção mudaria a vida de centenas de pessoas. Gokhan não entendia exatamente o que mudaria. O que "saber ler e escrever" poderia agregar na vida de alguém?

Suspirando, enquanto recolhia algumas madeiras espalhadas pela laje, furtou um olhar a Emir, o carpinteiro que trabalhava para o seu pai. Gokhan raramente conversava com ele, isso porque o homem era pelo menos dez anos mais velho do que ele e tinha um namorado.

Um lupino mil vezes melhor do que um desdentado como ele.

Seus pais e irmão sempre diziam que a falta dos caninos nunca o faria menos do que ele é. Que ainda poderia encontrar um companheiro para compartilhar sua vida. Mas Gokhan duvidava muito disso. Que dominante se interessaria por um lupino sujo como ele? Sem os dentes mais importantes para um lobo?

A lembrança era viva de quando eles foram arrancados durante uma sessão de tortura pública, tudo porque havia ajudado seu amigo Neil a escapar com alguns aldeões para fora de Hammock e descoberto dias mais tarde. Teve sorte que não perdeu a vida ou um braço e uma perna. Mas os caninos eram uma parte honrosa do corpo de um lobo... sentia-se como se houvessem roubado um pedaço de sua humilde existência.

E o momento em que foram arrancados com um alicate na frente de todos, além de humilhante, havia sido tão doloroso que ele desmaiou ao final e ficou trancado em seu quarto por um mês, envergonhado do que se tornou.

Entretanto, apesar de tudo isso, nunca tinha se arrependido, pois mais tarde descobriu que seu amigo Neil na verdade tinha saído grávido de lá e garantiu a vida do bebê em Wohali.

Pelo menos alguém era feliz por sua causa.

Olhou mais uma vez para Emir enquanto colocava as madeiras em um canto quando o viu sorrir para o seu pai, mas no momento em que olhou em sua direção, o sorriso desapareceu.

Gokhan provocava isso nas pessoas. Era difícil alguém sorrir em sua direção. Todos tinham pena. Exceto seus pais e Irmak que não o tinham tratado melhor desde que perdeu os dentes, eles continuaram os mesmos.

— Gokhan! Está demorando! — Seu pai gritou do outro lado da construção.

— Já vou! — Ergueu-se, segurando várias tábuas pequenas nos braços e as levou até ele. Emir nem sequer olhou em sua direção. Mas havia alguns dos trabalhadores que olhavam toda vez que ele se aproximava de seu pai.

— Ei, Gokhan, dê um sorriso para nós! — Um deles gritou abanando a mão.

— É, mostre-nos seus caninos! — Gritou outro.

— Calem a boca e voltem ao trabalho! — Foi tudo o que seu pai respondeu.

Gokhan sempre engolia em seco em momentos assim, porque era muito doloroso ouvir a zombaria dos outros. E saber que seu pai não se importava tanto assim, porque ainda mantinha as mesmas pessoas no trabalho, era ainda mais cruel.

— Ei, Gokhan, já beijou seu namorado hoje? — Perguntou um homem que passava por ele. — Ah, lembrei, você não tem um! — Ele começou a rir e os outros riram juntos.

Aquilo doía. Era assim todos os dias e nunca se acostumava.

— Gokhan, você quer dar uma mordida na minha maçã? — Perguntou outro trabalhador com zombaria, erguendo a fruta para o lanche.

— Vocês não tem o que fazer? — Gritou seu pai, calando-os.

Tremendo, Gokhan foi buscar mais madeiras do outro lado da construção e por um momento olhou para o beiral. Lá embaixo algumas pessoas caminhavam, lupinos bem vestidos, crianças brincando, lobos em patrulha, vendedores ambulantes.

O Alfa de Hammock [Romance Gay]Onde histórias criam vida. Descubra agora