Capítulo 2

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Ayse


Não era sempre que conseguiam surpreendê-lo, não como aquele monge fez. Ele tinha os olhos repletos de inocência enquanto falava com ele, olhos de um homem que acabou de se apaixonar.

Tinha visto isso em muitos de seus pretendentes. Mas aquele rapaz não era um deles e nem estava ali com o intuito de cortejá-lo, tudo o que fez foi ter uma conversa agradável consigo.

Tinha que admitir que o cheiro dele era interessante. Cheiro de orvalho da manhã e neblina, uma pitada de madeira regada da chuva e grama iluminada pelo sol. Era difícil alguém captar sua atenção tão rápido como ele fez. Saber que tinha escondido sua própria presença quando entrou na sala e sorrateiramente se sentou perto dele para assisti-lo dormir o deixou um pouco envergonhado, mas ver o seu sorriso fez cócegas em seu interior.

Ele era um homem muito bonito também. Simples, como esperado de um monge. Tinha um olhar humilde, de quem não esperava mais do que tinha e até um pouco solitário.

— A-Alfa... perdão, eu... — O visitante gaguejou, engolindo em seco, provavelmente nervoso depois de descobrir que estava falando com o Alfa e não com um lupino qualquer. Estava tão divertido ser tratado normalmente... mas o trabalho chamava.

— Não se preocupe. — Gesticulou para que ele permanecesse sentado. — Irmak, Yarim, por favor, sentem-se conosco também.

E ambos fizeram sem hesitar.

— Alfa, não sei como ele veio parar aqui, mas... — Irmak começou a dizer sem jeito. — Ele é Tarkan, um monge viajante que pode exorcizar os demônios de Mahamut.

— Hum. — Olhou para Tarkan que assentiu, com o rosto ainda ruborizado. Que fofo. — Interessante. E como poderia provar isso?

O olhar determinado que recebeu em sua direção prometeu que ele sabia muito mais do que deveria. Isso foi suficiente para deixar Ayse desconcertado.

— Quer mesmo que eu prove na frente deles? — Perguntou Tarkan gesticulando para Irmak e Yarim, seu assistente pessoal. Ayse olhou para eles por um momento antes de balançar a cabeça.

— Podemos ter essa conversa mais tarde, no momento tenho outros assuntos a tratar. Você pode ficar, Tarkan, mas com algumas condições. — O monge o olhou ansioso assim como os demais. — Não pode obrigar ninguém a acreditar em seu deus. Não o proíbo de fazer cultos, no entanto. Irmak será o seu contato enquanto estiver em Hammock.

O líder de armas sorriu para Tarkan como se esperasse aquilo. Já viraram amigos?

— Senhor, posso levá-lo ao templo?

— Não vejo problema. Agora, vocês poderiam me dar um minuto a sós com o nosso visitante? — Pediu educadamente. — Não vai demorar.

— Claro, Alfa. — Respondeu Yarim, já se levantando. — Vamos, Irmak.

Eles seguiram para fora, Irmak sempre olhando sob o ombro. Ayse o compreendia, estava preocupado pelo novo amigo.

— Então? — Ayse incentivou o monge, olhando-o com interesse. — Agora pode me provar.

Tarkan tinha olhos tão negros como carvão, muito bonitos e diferentes do que já tinha visto. Entretanto por um momento pensou ter visto chamas azuis percorrerem suas íris, logo desaparecendo.

— Você está bem com essa coisa dentro de você? — Tarkan perguntou. Demorou alguns segundos para Ayse compreender o que queria dizer e o conhecimento que ele sabia sobre a "coisa" dentro dele o fez congelar.

O Alfa de Hammock [Romance Gay]Onde histórias criam vida. Descubra agora