Artes Cínicas

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Já confinada há dias, Bianca não sabia ao certo o que fazer ou com quem falar. Todos ali pareciam acoados, e isso a deixou na defensiva, com um certo receio de chegar e conversar com alguém.

– Oi. – A voz fina soa atrás de Bianca, a fazendo virar para a pessoa.

Manoela.

– Olá. – Bianca responde naturalmente, concentrada na cozinha.

– Bianca, não é? Eu nunca falei com você, mas eu uso bastante as suas makes... Elas são bem, digamos, resistentes. – Sua voz sai humorada, se aproximando do lado direito da Bianca.

– Ah, sério? Jamais soube disso. Você é bem famosa, achei que usasse coisas, sei lá... importadas? – Bianca não fita Manu, foca sua atenção no corte da banana.

– Sim, me recomendaram. E por mais que eu adore a cultura externa, eu sei reconhecer produto brasileiro. Acho a sua marca muito boa, parabéns. – Bianca finalmente a fita, observando o sorriso largo que a mulher menor carrega consigo.

O tempo todo sorrindo... Bianca achou isso um tanto suspeito.

Seria sua estratégia? Ser fofa o tempo todo? Talvez nunca nem tenha usado algo meu. – Pensa, analisando o semblante da Manu.

– Obrigada. Fico feliz que tenha gostado. – Sorri de canto, notando que a Rafaella está parada na porta da cozinha do vip, com o olhar em sua direção.

– Bem, qualquer coisa, estamos aí. – Cumprimenta Bianca, que só dá um aceno de cabeça.

Manoela caminha em direção da cozinha do vip, levando consigo a Rafaella. Bianca estranha a situação, não parando de pensar que ambas estariam planejando algo contra si.

– Não é nada demais, Bianca. – Pensa alto, terminando de cortar a fruta.

Ela termina de fazer a sobremesa: banana com leite em pó, algo que a mesma sempre comeu em casa. Não sabia se o restante do pessoal iria gostar, mas preferiu se arriscar.

O Babu, um ator que também está confinado, coloca a panela com rabada na mesa, seguido do prato de salada da Thelma e do arroz da Rafaella. Como a casa está em escassez de alimentos, o feijão ficou em falta, mas nada que fosse matar o pessoal.

– Banana com leite em pó? Eu nunca iria comer tal coisa. Só no BBB mesmo. – Thelma comenta, sorrindo pra Bianca, que cora na mesma hora.

– Parece bom. – Felipe Prior comenta, dando de ombro. – O arroz está impecável. – Ele continua, após dar uma garfada na comida.

– Pra mim, parece meio grudento demais. – Bianca fala, recebendo o olhar da Rafaella.

No mesmo instante, a mulher respira fundo e larga o garfo no prato ainda vazio.

– Real? Parece salgado demais, agora que você comentou. – Pyong acrescenta, agora deixando o clima mais tenso.

Thelma olha em direção da mulher mais alta, que abaixa o olhar, não conseguindo se controlar.

A opinião alheia ainda afeta demais a Rafaella. Desde criança, toda opinião de terceiros a faz ficar remoendo por dias.

– Quem não quiser, não come. Simples. – Gizelly por fim fala, já percebendo a inquietação da Rafaella, que sem aguentar mais, se levanta e entra pra sala com pisadas firmes. Só faltou o chão tremer.

– Calma, galera. Quem fez o arroz foi a Rafa... Ela fez com todo carinho e vocês correspondem assim? – Marcela bufa, se levantando da mesa e indo atrás da Rafella.

Bianca dá de ombros, mas no seu subconsciente a mesma se sentiu mal. Esperava que a maior rebatesse, na mesma altura, ou até pior, mas ela não o fez... Se calou. Atitude estranha.

Mesmo com tal incomodo, todos terminaram de comer. Bianca e Mariana ajudaram na louça, o restante foram se ocupar com qualquer coisa. Como as duas nunca conversaram, ambas lavaram tudo num silêncio, mas com sorriso no rosto. Nada de mal humor, bem casual. Ao terminar, Bianca secou a mão e resolveu ir deitar, mas antes parou na porta, pois parecia ter uma conversa séria do outro lado da porta.

– Não, eu tô bem. Não me afetou, eu entendo que são dezoito paladares diferentes. – O som abafado sai pela margem da porta.

A indecisão de entrar ou não invade a mente da Bianca, mas a mesma ignora e entra mesmo assim.

O clima fica pesado. Ao redor da Rafaella se encontra Manoela, Gizelly e Marcela, que parecem consolar a mais alta. Todas olham de lado para a Bianca, menos a Rafella, que mantém seu olhar baixo.

Bianca não se intimida, senta em sua cama e passa o removedor de maquiagem.

As meninas parecem incomodadas, já que mudam de assunto.

– Podemos levantar e ir fazer academia, o que acham? – Manoela comenta, com o seu ar irônico.

Todas riem da fala, mas Rafaella nega.

– Eu vou ficar por aqui... Preciso recarregar as minhas energias. – Solta um sorrisinho pra elas, que não se põem contra sua vontade.

Não demorou muito pro quarto ficar em um silêncio perturbador, com apenas Rafaella e Bianca no local.

Bianca, pelo espelho, percebe a inquietação da Rafella, o que a deixa também aflita. Não saberia o que a mesma teria coragem de fazer. O silêncio foi cortado pela ofegação da respiração dela... Não poderia ser algo bom.

– Sabe, Bianca, eu não entendo o porquê de você ter falado aquilo.

No mesmo instante o algodão cai da mão da Bianca, a fazendo ficar estática. Não esperava um dialogo.

– Sobre o arroz? Eu nem sabia que você que tinha o feito. – Mentiu, engolindo em seco.

A outra mulher levanta e fica de frente para ela, não acreditando em seu cinismo.

– Ah não? Porque eu tenho certeza que sabia sim, caso contrário, jamais falaria algo assim. Não teria coragem de falar algo tão grosseiro para outra pessoa, aliás, obvio que teria. Você é muito baixa. – Sua voz eleva, principalmente por perceber a calmaria de Bianca.

Ela não irá rebater a altura?! – Rafaella se questiona, procurando por qualquer ponto de irritação no semblante de Bianca.

– Eu não sabia, sua maluca. Entrei aqui na paz, não vou ficar me estressando por arroz. – Ignora o estresse em forma de pessoa que está do seu lado, pegando o algodão do chão e amassando.

– Faz nem uma semana e você já começa assim. Olha, esperava um teatro mais duradouro. – Sua fala sai humorada, exaltado seu puro deboche.

A cada fala Bianca gargalha por dentro. Sua intenção de ferir o enorme ego da Senhorita Kalimann havia funcionado.

– Rafaella, vem cá. – Comenta, após terminar de retirar toda a maquiagem. – Vamos lá fora? Respirar ar puro? Aí você aproveita e come a banana com leite em pó, está um delícia. – Levanta, com um sorriso debochado nos lábios.

Rafaella gargalha, não acreditando no que acabara de ouvir.

– Bianca, você não mexe com quem tá quieto. Eu sou uma pessoa de Deus, mas eu não sou trouxa não. – Bianca ignora as falas da mulher e sai do quarto, se direcionando para qualquer local fora dali. Não iria contribuir para o seu teatro, iria evitar essa nuvem cinza, de quase 2 metros de altura, com sobrenome Kalimann.

Ao abrir a porta, acaba dando de cara com metade da casa, se fingindo de idiotas, após escutar cada segundo da conversa pela porta.

Bianca nada diz, apenas ri e sai porta a fora.

Dentro do quarto, Rafaella volta a pedir espaço, pois novamente queriam a consolar. Ela percebe que Bianca não facilitará para ela, e que não terá paz da forma que pensou que teria.

Desde o momento em que a viu entrar, jamais pensou que iriam se estranhar. Pensou que tudo de diferente teria ficado lá fora, mas não tem como deixar para trás a sua personalidade.

Assim como ela, Bianca entrou para ganhar, e com certeza irá jogar com todas as cartas para ganhar o prêmio.

A Diaba e a MissionáriaOnde histórias criam vida. Descubra agora