IX - O meu ódio é maior

31 6 1
                                    

Desde pequena a minha determinação sempre foi admirada.

De uma garotinha aparentemente frágil e danificada, eu fui crescendo entre os grandes nomes com quem lutava e fui criando minha essência mostrando o meu valor.

E tudo com apenas um objetivo.

Meu nome é Luny Lunar, sou uma deusa, e não, isso não faz de mim um ser perfeito.

Tenho um milênio de idade e uma bagagem enorme para carregar. Só que a minha história também não é apenas fracassos, eu não permiti que fosse.

Mayn foi a mulher que me criou, me moldou e graças ao seu amor puro e verdadeiro, eu aprendi a ser a melhor versão de mim. Devo a ela tudo o que sou.

Como humana eu não me lembrava de nada disso, minha vida era até que perfeita demais considerando o que sei agora. Brandon tirou tudo de mim, meu lar, minha família, minhas lembranças.

E o que eu estou fazendo? Fugindo igual uma covarde. Mayn não me ensinou nada disso.

— Eu não sei se você é muito burro ou muito ignorante — falo ficando de pé determinada a fazer Brandon pagar por toda a dor que me causou — Talvez seja os dois, mas lembrando de tudo eu te derroto facilmente.

— Igual na primeira vez? Foi humilhante a grande deusa perdendo para um oponente superior a tudo o que podia fazer — sua voz está distante, mas o cheiro indica que estamos no mesmo ambiente.

— Covarde — começo a caminhar atenta a todo tipo de som ao meu redor — Aproveitou de um momento de fraqueza para me derrotar, reconheça que não é nada, Brandon.

Cada passo que eu dava, conseguia sentir uma energia muito ruim. Não sei se é o chão, o céu, a rua ou tudo, cada parte desse reino parece ter sido engolido por uma enorme escuridão.

Não é nem de longe parecido com o lugar de onde eu vim, nunca tinha pisado em um solo desse antes. Infelizmente é uma vantagem para Brandon já que ele é uma sombra.

— Sabe, eu até que queria poder reconhecer isso, mas — ele está três passos a minha frente e não havia me notado ainda.

— Te achei — dou um sorriso ao ver a expressão de surpresa dele ao se virar e ficar de frente comigo.

Minha avó humana sempre dizia que para todo mal existe uma cura e a vingança não nos tornava melhor, nem trazia a paz desejada.

Entretanto, estando diante de Brandon, eu só consigo me lembrar das vezes em que os polos** diziam que a paz só vinha com a matança.

Concentrei na palma da mão toda a energia que consegui e apontei em direção a Brandon, senti toda a carga do poder eletrocutar o meu corpo antes de ser liberada causando um grande estrondo ao atingir com sucesso o meu alvo.

— Eu falei que um dia o véu ia cair e você ia desejar nunca ter feito mal ao meu povo — a raiva consumia cada célula do meu corpo — Que bom que esperou.

Sem saber onde estava, fecho os olhos e tento me comunicar com alguma estrela.

Não sei se estava perto, mas pude sentir quando uma delas caiu e se revelou em minha frente como uma mulher que eu tinha uma leve impressão de já a conhecer.

— Lunar? É você mesmo?

— Elyon — corro a abraçando.

Nós duas começamos a chorar de emoção.

— Minha pequenina, há quanto tempo espero por esse abraço.

— O que aconteceu? Onde estamos? Por que está aqui sozinha? Esse lugar é tão negativo — eu a enchi de perguntas igual costumava fazer quando era criança.

Elyon cuidava de mim nas horas em que Mayn estava ocupada.

— As coisas mudaram desde que você foi tirada de nós, as estrelas começaram a formar suas próprias constelações e quem não tivesse um grupo se tornava um solitário — Ely estava triste e isso me partia o coração — Esse é o reino de Bilz, era inabitável até a resistência começar a criar abrigos.

— Mas por quê?

— Muita coisa mudou desde o afastamento de Mayn, minha pequenina.

— Afastamento? Ely o que aconteceu com minha mãe? Me leve para vê-la, vamos — meu coração estava apertado de um jeito que só quem já perdeu alguém que ama sabe.

— Não podemos — ela responde e eu pude sentir seu medo — Pequenina, você tem que voltar para a Terra, já recebeu o selo, agora tem um objetivo maior lá embaixo.

— O ruivo que eu odeio — pondero.

— Você tem que lutar contra as forças que a impede de ser dele.

— Que coisa mais brega, me desculpe Ely, mas se tem algo que aprendi muito bem com minha mãe humana é que eu não sou de ninguém, além de mim mesma.

— Mayn precisa desse seu esforço.

— Me conte o que aconteceu, por favor.

— Sabe que pode usar seus poderes para me convencer, a lua está bem cheia hoje — Elyon adorava testar meus poderes, mesmo sabendo que jamais os usaria como trapaças. Pelo menos não com ela.

— Nunca faria isso com você, agora me conte vai.

— Tudo bem — ela reluta, mas começa a falar — Foi um ano após seu rapto, Mayn tentou um feitiço proibido de localização e acabou ficando presa em uma espécie de sonho da morte.

— Os sonhos, eu conseguia falar com ela, mas não me lembrava de muita coisa ao acordar — uma luz se acende em minha cabeça — Como tiro ela de lá?

— Não fale que você voltou e se lembrou, ela irá morrer porque esse era o objetivo dela quando ficou presa. O que pode ser feito é você concluir a profecia, só o Sun consegue quebrar a maldição, pois a mesma foi criada por sua mãe, a rainha Nehal.

— Mas ele só pode pisar aqui se estiver comigo — minhas esperanças toda se esvaíram — Droga, eu o odeio, muito mesmo, de verdade. Não consigo lutar contra isso.

— Eu acredito em você, pequenina — Ely me abraça apertado, depositando um beijo em minha testa — Agora vai, eles estão preocupados.

×××××××××××××××××××××

**Polos: cometas responsáveis pelo aprendizado de ataques e defesas de batalhas quando os guerreiros ainda são crianças.

Astros: Lua MinguanteOnde histórias criam vida. Descubra agora