Astros: Lua Minguante

IV - O laço que une almas

— Dessa vez segue o caminho certo — Sammy avisa mexendo no celular, provavelmente ligando o GPS.

— Eu sei, não sou idiota.

— Não foi o que eu disse, só que da última vez você estava nos levando para a morte.

— Sempre aumentando as coisas, era apenas uma fábrica em construção — falo dando risada com a lembrança, nunca vou me esquecer do quão pirada eu estava naquele dia — Olha, já chegamos.

— Que comece a diversão — Sammy comemora com uma dancinha ridícula no banco do meu carro, nunca vi uma pessoa achar um curso de verão tão divertido.

Estacionei em uma vaga na rua e peguei o meu material esperando Sammy pegar o dela, nos encaramos cheias de expectativas assim que atravessamos os portões da faculdade.

O Exeter College continuava exatamente igual a última vez em que estive aqui, também o que eu esperava que mudasse? Provavelmente nada. A grama continua verde.

Oxford é conhecida por muitas de suas faculdades, mas confesso que essa daqui me encantou bastante, principalmente por ser a única da Inglaterra que tem o curso de astrologia que eu queria, agora estamos eu e Sammy aqui prestes a iniciar mais uma jornada de nossas vidas juntas.

Conheço Sammy desde os meus 13 anos, ela foi a primeira pessoa que conheci quando me mudei com os meus pais para a Inglaterra.

Me lembro bem, era uma noite de Natal e ela estava chorando na praça, infelizmente tinha acabado de perder a irmã, assunto que não comentamos. Só sei que ela é a minha melhor amiga, uma irmã que nunca tive e sinto que algo a mais nos une, só não sei explicar bem o que.

— O que será que vamos aprender hoje no primeiro dia?

Sammy é bem desatenta para algumas coisas, ela meio que pode ser super interessada em algo e não prestar muita atenção em nada referente ao assunto.

— Você abriu seu material? Tem um cronograma detalhado de tudo o que vamos fazer nesses cinco dias, não é possível que você só pense em assistir séries.

— Eu tinha que terminar Legacies e também gosto da emoção de descobrir na hora o que vamos fazer.

— Mentirosa — dou risada com ela e agarro seu braço para entrarmos na universidade juntas — Vem, vamos logo.

O Astrology in Action é um curso de astrologia como já mencionado, oferecido pela Exeter College. São cinco ou três dias para aprofundar nossos conhecimentos sobre a astrologia, podemos escolher o que melhor serve para a gente.

Eu queria fazer apenas o de três dias, mas Sammy acabou me convencendo a fazer o de cinco e aqui estamos nós, prestes a entrar na sala com outros 65 alunos.

Uma sensação de nostalgia me atingiu assim que entrei na sala, sensação essa que vem sendo muito comum nos últimos meses.

Cumprimento algumas pessoas que eu conheço e me sento no meio da sala ao lado de Sammy, preferimos as carteiras do meio porque na frente é ruim e atrás é pior ainda para nós que não gostamos de chamar atenção.

Confesso que estava um pouco nervosa, nunca lido muito bem com certos tipos de atenção que infelizmente acabo recebendo de alunos e até professores.

Sou bem reservada e toda vez que algo assim acontece eu me sinto desconfortável, não por achar ruim, mas sim por sentir que isso faz parte de quem sou e isso me deixa bem intrigada.

Exatas 13h da tarde quando a professora Maggie entrou na sala, ela fez uma breve descrição de quem era e logo começou a falar sobre o que faríamos.

Tive tempo de ler o meu material depois do "desmaio" e devaneio que tive em casa esses dias.

No primeiro dia examinaremos brevemente o sistema único de correspondências celestes e pensamento simbólico da astrologia e depois exploraremos os componentes essenciais de um mapa de nascimento.

Já tinha se passado duas horas, estávamos estudando o nosso mapa de nascimento quando comecei a sentir uma dor atrás da orelha, começou com uma queimação e até então fui ignorando, porém, aumentava cada vez mais e eu não conseguia mais disfarçar.

— Ai — gemo ao sentir a dor mais forte, começo a me contorcer na cadeira e quando percebo já estou no chão não conseguindo raciocinar as coisas direito.

— Sel — Sammy estava na minha frente ocupando a visão do resto da sala, queria gritar que doía, mas minha voz não passava de gemidos doloridos — Selena, por favor.

— Sol et luna non confundantur.

É tudo o que me lembro de dizer antes de sentir alguém me pegar no colo e eu apagar logo em seguida.