XXVI - Um cavaleiro que surge das sombras

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Lunar:

— Bebe isso logo — sussurro entregando uma garrafinha de água para a Shira.

— Não — ela sussurra de volta me devolvendo — É a última garrafa que você tem, não vou te deixar com sede.

— Bebe — abro a garrafinha e mais uma vez ela nega.

Sem muita paciência, me aproximo e enfio a garrafa na boca dela despejando uma boa quantidade de água dentro.

Só paro porque ela começa a se engasgar e rosnar para mim.

— Você está ferida e além disso eu consigo multiplicar objetos.

— Consegue me curar também?

— Só quando anoitecer, meus poderes aumentam com a presença da lua — explico — Vou fazer um feitiço de proteção para você aqui, por favor não fuja.

— Como se eu conseguisse.

Shira e eu andamos quilômetros até chegarmos em Eredhin. L

Chegamos no meio do dia e ficamos escondidas em uma casa completamente destruída, como todos os outros lugares daqui.

Ela está ferida e eu estou bolando um plano para atrair as sombras e saber do meu irmão.

— Você veio fazer o que aqui mesmo? — ela pergunta arrumando um lugar no chão para deitar.

— Salvar o meu irmão das sombras e você?

— Eu? Você me trouxe.

Reviro os olhos antes de formular a minha pergunta.

— Por que iam te matar? E por que você fala sussurrando?

— Eu sou uma quimera, valho muito mais do que a carne dos pobres coitados que aqueles canibais vendem — confesso que já imaginava que fosse isso — E sussurro porque não sei falar de outra forma, até porque me comunico por telepatia quando estou na minha forma original.

— Acabei — falo normal, eu estava sussurrando porque ela só falava assim e eu não sabia o motivo — A casa está segura agora, descanse que eu vou colocar o meu plano em ação. A noite eu saro suas feridas.

— Vê se não morre — fala sonolenta e eu sorrio antes de sair da casa.

Até que Shira é legal, as vezes dá muita vontade de jogar ela no primeiro rio que aparecer. Enfim, coisas normais quando você fica muito tempo na companhia de quem fala demais.

O silêncio é meu amigo, graças ao treinamento que tive com os cometas quando mais nova, estou indo bem na arte da espionagem.

Árvore por árvore, casa por casa, templo por templo, eu passava e não era notada por ninguém.

Tá, talvez porque não tinha visto nenhuma sombra até agora. Elas vivem aqui, mas se escondem e são boas nisso.

Só que eu também sou boa, por isso encontrei um deles, um homem que estava urinando sem nem ligar de ser no chão, a explicação do porque esse lugar é podre.

Infelizmente eu preciso do homem, então vou ter que usar golpe sujo para conseguir atraí-lo.

— Me perdoa, Mayn. A senhora nunca me ensinou isso — sussurro antes de chamar a atenção da sombra que estava guardando o seu membro dentro da calça.

De início ele se assustou com minha presença, mas bastou um sorriso para ele abaixar a guarda e permitir que eu me aproximasse.

— Oi, você pode me dar uma informação? — pergunto ficando de frente para ele.

— Claro, qual?

— Essa daqui — dou um soco com toda força na mandíbula dele o nocauteando.

Levei ele para outra casa que estava menos destruída, não quero perturbar o descanso de Shira e ninguém pode nos ver. Então teve que ser uma que estava no meio de várias árvores.

O amarrei de joelhos no chão e dei um tapa em sua bochecha para ele acordar.

— Vão sentir minha falta — ele fala tentando se soltar.

— É mesmo? — dou um sorriso falso — Uma pena que eu não ligo. Agora, fala o que você sabe do bebê que as sombras sequestraram alguns anos atrás.

— Vai se ferrar — o nojento cospe próximo ao meu pé me fazendo pegar um impulso e chutar a boca dele.

Levei horas o torturando, mas ele não queria falar.

Anoiteceu e assim que a lua surgiu no céu, eu vi no olhar dele que ele não ia aguentar o meu 100%.

— Última chance, não vai falar nada? — ele nega com a cabeça — Tudo bem, você pediu.

Tortura não é a arte que domino, no entanto, as vezes somos obrigados a sair da nossa zona de conforto.

Escuto um riso fraco assim que pego minha karambit, olhando o objeto quem dá risada sou eu. Por ser pequena e ter a lâmina curvada, insistem em subestimar a melhor arma na minha opinião.

— Eu também a subestimei quando ganhei das estrelas, só que eu ainda não sabia do que ela era capaz — falo me aproximando.

Comecei com pequenos cortes no braço, apenas para ele ver que ela não só corta como também dá choques.

Deixei de fazer cortes superficiais em sua pele quando perdi a minha paciência, segurando firme a karambit, eu passava ela pela bochecha da sombra, bem fundo perto dos olhos.

— Sabia que ela é ótima para arrancar olhos?

Seguro o cabelo dele puxando a cabeça do mesmo para trás, coloco a ponta da lâmina em sua pálpebra e passo fazendo um corte que pareceu bem dolorido.

— EU FALO — ele finalmente ia se render.

Ou não...

— Você não fala nada.

Um homem invade a casa, passando por minha proteção me deixando estática.

Ele estava com uma roupa toda preta e no pé um par de botas da mesma cor. Usava uma touca ninja onde só conseguia ver os seus olhos cor de âmbar e tinha também uma bainha com uma espada atravessada em suas costas.

Uma mistura de ninja com cavaleiro, porém, carregando uma energia bem sombria.

Nos entreolhamos por poucos segundos antes dele pegar sua espada e me atacar fazendo um corte em meu braço direito.

A dor me fez voltar a realidade.

— Atacando uma garota sem dar chances dela se defender — falo me referindo ao fato de estar desarmada.

— É assim que se vence uma batalha.

— Covardia não é batalha — fecho os olhos e respiro absorvendo energia da lua — Mas eu te ensino bons modos.

Uso ilusionismo para o confundir parecendo assim que ele estava em vários lugares ao mesmo tempo. Aproveito de sua distração com meus reflexos e paro alguns centímetros atrás dele, criando esferas de luz em cada uma das mãos eu as lanço no homem que tem seu corpo jogado em uma das paredes.

— Tá legal, o que você é? — pergunta ficando de pé.

Confesso que sua resistência me impressionou.

— Eu sou a lua — minha revelação causou reação no homem, pois ele tirou a touca ninja e me olhou profundamente.

— Espera aí — não, não pode ser. Essa mancha na bochecha — Você deveria ser um humano — revelo sentindo meu coração bater mais forte.

— Então você é a maldição que os meus pais escolheram ao invés de mim — cambaleando ele caminha em minha direção. Seu tom de voz carregado de mágoa partiu meu coração — É você quem eu esperei tantos anos para matar.

Agora de frente um para o outro, nos encaramos dividindo o mesmo sentimento.

A dor de um coração em estilhaços.

— Luny Lunar.

Astros: Lua MinguanteOnde histórias criam vida. Descubra agora