XXXVII - Pelo universo

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Sammy:

— Enxaqueca, como eu queria não ter mais dos humanos do que deveria — reclamo de olhos fechados, minha cabeça está explodindo.

Me jogo no sofá com um copo de água na mão e resmungo me xingando por ter esquecido o remédio na mesa da cozinha, cada movimento que eu faço é uma tortura.

Juro que não compreendo essas dores de cabeça constantes, nenhum feitiço fazia elas parar.

Cheguei ao ponto até de chamar Elora aqui para me ajudar, porém sem solução. Só me resta sofrer com essa dor mortal.

Um pouco de exagero para uma dor? Talvez. Mas veja bem, graças a isso eu estou sendo uma péssima amiga, não consigo entrar em contato com a Lunar e isso me machuca.

Toda vez que ouso olhar para a claridade de um celular eu sinto como se fosse morrer com meu cérebro explodindo.

Minha vida está sendo somente a noite, durante o dia eu tenho que manter tudo escuro, senão é o meu fim.

Escuto batidas na porta e juro matar quem quer que seja. Cada batida é uma badalada do sino da minha morte, eu conseguia ver os pontos de luz que me esperavam no além e nem é drama, estou de verdade muito mal.

— Apolo — minha voz saiu o mais baixo possível, cheia de ódio — Se você pode se teleportar, porque essas batidas infernais na porta?

— Não quis ser um sem educação e nem te assustar.

Ele acendeu a luz da sala, não creio que ele foi capaz disso.

— Não gosta mesmo de mim, né?

— Hein?

— Minha cabeça está... Ai — deito no sofá tampando minha vista da claridade, eu preciso saber o que está acontecendo comigo.

— Transformação.

Não entendo muito bem o que ele disse, não entendo nem a sua presença aleatória na minha casa, não somos amigos.

— O que disse?

— Você está passando por um processo lento e doloroso de transformação, daqui a pouco será uma linda nebulosa.

Nebulosa? Do que ele está falando?

— Sério que nunca se questionou sobre ser um pedaço de galáxia? Isso nunca te pareceu esquisito?

— Nunca, isso não faz sentido nenhum, digo, os meus pais, eles...

— O seu pai não sabia o que você é porque sua mãe te mandou para a Terra bem nova. O problema é que ela sempre soube, desde que você estava no ventre dela que ela quis esconder isso de todos.

Como ele sabe da minha família mais do que eu?

— Sei porque estou desde sempre pelo universo, minha mãe sabe tudo o que acontece e por isso estou aqui hoje. Vim te salvar, não precisa agradecer.

— Tá lendo a minha mente?

— Não — muito suspeito — Bebe isso e depois vem comigo, preciso da sua ajuda para deter a desordem que sua mãe causou lá em cima.

O líquido colorido que ele me deu é bem suspeito, mas bebi mesmo assim.

Acreditem se quiser, me senti renovada na hora.

Empolgada até demais, me controlei na animação e agradeci Apolo por essa divindade que nem sei o que é, mas já amo.

Assim que chegamos na galáxia eu nem acreditei no que vi, as estrelas estavam piores que dá última vez e o pior é que ninguém sabe o motivo dessa revolta, a minha mãe não pode ter sido tão influenciável a esse ponto.

— Que bom que chegaram, precisamos colocar ordem nisso o mais rápido possível — Ártemis está bem agitada.

— Algum de vocês podem me informar como a Stel está? — pergunto um pouco desanimada, já se passaram dias e ela continua desacordada.

— O processo é lento mesmo, o importante é que ela está indo bem e logo estará com vocês novamente.

Por que parece que eles estão sempre lendo a minha mente?

— Sammy — Elyon surge do nada me abraçando — Que bom que chegou, as estrelas estão achando que o buraco negro já foi aberto e tudo porque a sua mãe os manipulou, você é a única da linhagem dela e nossa única opção.

Começo a chorar mesmo com eles me olhando sem entender.

O que acontece é que desde criança eu sofria me sentindo rejeitada, odiava todos os seres da galáxia e desejava de todo o coração que eles não se dessem tão bem assim na vida.

Sempre odiei o fato de ser só um pedaço de galáxia, uma coisa indefinida e sem muita importância.

Agora, sabendo que estou me transformando em uma nuvem de matéria interestelar, meu choro é de alegria.

Eu sou muito importante para as estrelas já que graças a algumas de minha espécie, as estrelas são formadas.

Sinto tanto orgulho. Acredito que o meu pai e a Lunar iam vibrar tanto por mim.

— Desde que te vi pela primeira vez eu soube o quão especial e importante você era — Apolo sorri.

— Para — seco minhas lágrimas constrangida.

— Então, humildemente eu te peço — ele segura minha mão me olhando nos olhos — Sammy, aceita viajar pelo universo comigo para conter as estrelas e fazer essa galáxia ser como era antes?

— Não sei para que tanta cerimônia — nota-se que estou com muita vergonha dessa situação, o que aconteceu com esse garoto? — Eu aceito.

— Tive o vislumbre de um casamento — Ártemis fala divertida e todos dão risada do meu constrangimento.

Sem chances de acontecer algo entre Apolo e eu, ele é muito brigão e impaciente, imagina como seria a convivência? Sem contar que parece sempre que ele comeu algo e não gostou.

Contudo, confesso que ele é bem atraente com esse cabelo encaracolado quase loiro, porém parecendo ter sido queimado do sol. Essa pele bronzeada, os olhos cor de mel  e o corpo todo atlético, minha fraqueza para homens, confesso.

— Você sabe que não vai ser fácil — Apolo fala com pesar.

— Sim, eu ainda nem me transformei — sussurro — Se ao menos a Lunar estivesse aqui.

— Ela deve estar mal, todos estamos.

Verdade, todos estão tão mal que nem ousam falar do Sun. Não enquanto a Lunar não vier para se despedir como é a tradição.

— Vamos?

— Que seja o que os deuses quiserem.

Não vai ser fácil, mas tenho fé em mim mesma e farei o possível para que tudo volte a ser como era antes.

Astros: Lua MinguanteOnde histórias criam vida. Descubra agora