XIV - A dor do amor

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Lunar:

A chuva caía forte do lado de fora acompanhada de raios e trovões. O cenário perfeito para um momento dramático em algum filme de terror.

Sammy fazia o jantar, enquanto eu arrumava a mesa do jeito que a minha avó havia instruído.

Já passava das 20h da noite e eu não sentia nem um pouco de fome, talvez seja pela situação em que nos encontramos.

— Muito bem — vovó Bessie fala provando a sopa que Sammy fazia — Continue assim.

Faz alguns dias desde que descobri que ela é uma sombra, de início eu não tive reação, simplesmente fiquei paralisada e esse foi o meu erro.

A sombra conseguiu me render com um feitiço que eu não conhecia, não durou muito tempo em mim, mas foi o suficiente para ela o transferir para a minha mãe e assim manter Sammy e eu como reféns.

— Olha Selena, eu não tenho paciência para os seus choros, você está me enlouquecendo — me assusto pela advertência até ver que ela estava xingando a boneca.

— Maldita traidora, vai ficar aí.

É uma cena bizarra e sem sentido, mas que vem se repetindo já a uns três dias, a sombra sempre tem uns surtos onde xinga e bate nessa boneca que tem o meu nome de humana.

Eu pensava que era só uma brincadeira, mas toda vez que se repete sinto uma sensação ruim.

Ignoro a vontade de perguntar o porque ela briga com a boneca e termino de colocar os copos perto dos pratos, não está uma arrumação perfeita, mas acho que ela não irá reclamar.

Sem a permissão de sair da vista dela, puxo uma das cadeiras e me sento. Tudo é um tédio, mas não posso fazer nada que coloque a vida da minha mãe ainda mais em perigo.

Apoiada, quase dormindo em cima da mesa, eu fico em alerta quando escuto a porta da sala sendo aberta.

Sammy faz menção de ir ver quem era, mas não foi preciso já que a minha mãe não demorou a entrar na cozinha.

— Oi meninas, tá um caos lá fora, mas consegui o remédio da sua avó.

— Que bom, tia — Sammy sorri forçada — O jantar já está pronto.

— Eu… Vou tomar banho, não demoro — aproveito que a chegada da minha mãe deixou o clima leve e me levanto já indo para o banheiro, mas não antes de ouvir a sombra dizer:

— O silêncio é o que mantém o ser humano vivo.

Silêncio, como se não bastasse o que eu e Sammy estamos fazendo.

Nem lembro qual foi a última vez em que conversei com Stel, não tínhamos muito tempo livre e isso torna tudo mais difícil. Porém, agora vou arriscar.

Não tinha muitas coisas que eu poderia fazer, uma sombra poderosa está no corpo da minha avó e ela ia sentir assim que eu começasse a usar os meus poderes.

Porém, eu e Sammy repassamos essa tentativa diversas vezes e eu só preciso ligar o chuveiro para ela fazer a parte dela e eu conseguir entrar em contato com Stel.

Minha respiração estava descompensada, era medo, se algo dê errado e a vovó desconfiar, eu nunca vou me perdoar pelo o que ela vai fazer com a minha mãe.

Com as mãos trêmulas eu não hesito muito em ligar o chuveiro, agora está feito, que seja o que os deuses quiserem.

Na velocidade de um raio corto a palma da minha mão e bato ela na porta recitando o encanto que iria impedir mesmo que por alguns segundos, qualquer ser com magia de sentir minhas vibrações no banheiro.

— Otiosum magia.

Nervosa, com medo, ansiosa… Estava um misto de emoções que provavelmente iriam interferir no feitiço, entretanto essa é a única chance que teremos.

Me ajoelho no chão e de olhos fechados recito o encantamento que iria ligar minha mente a de Stel ou a do príncipe.

O que estiver mais relaxado no momento, sem aflições internas e muitas preocupações.

— Príncipe Sun?

— Lunar, não precisa me chamar de príncipe, só você ainda continua com essas formalidades.

— Ouça, Sammy e eu estamos em perigo.

— Você tem um pedido? — droga, estou muito nervosa e não consigo manter uma conexão boa — Perigo? Lunar?

Estava quase elevando a voz para falar, quando um estrondo na porta me assustou e rapidamente encerrei a ligação de nossas mentes.

— SELENA — é a sombra.

— Já estou saindo — tento responder o mais natural possível antes de sair do banheiro.

Olhar para a minha avó e ver a sombra cruel que ela é me machuca, principalmente ao lembrar de todos os momentos em que passamos juntas e ela nunca sequer havia dado qualquer indício de que poderia nos fazer mal. Eu ainda a amo, porém esse amor me fere.

Ela me encara duvidosa como se soubesse o que eu havia feito, ainda me encarando ela agarra as minhas mãos e começa a analisar em busca de alguma coisa que me entregue.

Por sorte eu consegui fechar o corte, graças a lua lá fora que intensifica o meu poder.

— Você é uma garotinha bem astuta — fala sorrindo.

Começo a chorar, pois não aguento ver e ouvir ela como sombra, sem me lembrar dela como uma velhinha com alzheimer que eu daria a minha vida se fosse necessário para proteger.

— Tá na hora de dormir — minha mãe fala ao ver eu e a vovó paradas — Deixe que eu levo a sua avó, vai ver a sua amiga, acho que a Sammy não está bem.

— O que?

— O silêncio é o que mantém o ser humano vivo.

— Pare de falar essas bobagens, mãe.

Corro até a sala e vejo Sammy sentada de cabeça baixa, sangue pingava no chão e provavelmente é do seu nariz.

— Amiga.

— Deu certo? — ela pergunta quase que sem forças para falar e confirmo me sentando ao seu lado.

— Aquela desgraçada me envenenou, eu só preciso de algo da galáxia para ficar bem.

Fico pensando no que fazer para ajudar minha amiga, mas sou lenta demais, Sammy acaba desfalecendo no sofá, me deixando ainda mais desesperada.

Astros: Lua MinguanteOnde histórias criam vida. Descubra agora