X - Ainda príncipe

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Sun:

Já faz horas que Sammy fez o feitiço de revelação para a Selena e até agora ela não voltou, ela está paralisada com os olhos completamente brancos em frente a cama de Stel.

Isso está me deixando preocupado. Esse comportamento costuma ser comum nesse tipo de feitiço, mas nunca durou tanto tempo. Algo está acontecendo com suas lembranças e só quem pode controlar é ela mesma.

Sem muito o que fazer e cansado de esperar, decido sair para tomar um pouco de ar. O calor não me incomoda, mas a carga emocional que venho sentindo tem sido grande e isso faz eu me sentir sufocado.

Saber que eu tenho que fazer quem eu amo me amar senão vou morrer, me assusta em proporções inimagináveis.

Já tinha andado uns bons quilômetros e estava ficando cansado. Olho ao redor e não consigo mais avistar a casa de Stel, só existiam árvores e todo tipo de planta no meu campo de visão.

Um dia eu ainda tento entender porque uma estrela quis morar em uma floresta isolada.

O sol já estava se pondo, esse é um dos momentos que eu menos gosto, ver o dia chegando ao fim. E não tem nada a ver com eu ser o sol, mas sim porque eu me lembro muito do meu pai e isso dói.

Admirando o céu, começo a questionar os meus pensamentos.

— O que o senhor faria meu pai?

— Aposto que ele daria um jeito — uma garota fala aparecendo do nada, me assustando — Me desculpe, não queria te assustar.

Fico olhando para ela pensando que poderia estar toda queimada nesse momento se eu não estivesse me controlando o máximo que posso.

Decido parar de pensar bobagem, afinal Selena precisa de ajuda para sair de suas lembranças e a humana está bem, teve a sorte de não ter me assustado em um momento pior.

Viro de costas decidido a voltar para a casa de Stel, mas a humana não ia me deixar tão cedo. Mal dou o primeiro passo e sinto sua mão pequena no meu braço, me impedindo de continuar.

— Espere. Tem como me ajudar? Meu nome é Elora, eu estava indo na cidade entregar umas mercadorias quando deu algum problema no meu caminhão e agora ele não quer ligar.

Elora é uma bela mulher, branca, olhos verdes, cabelo preto com mechas coloridas. Provavelmente não deve ter mais de 20 anos, se tiver ela está muito bem reservada.

Igual minha deusa, um milênio com o rostinho de adolescente, parece até um anjo de tão linda.

Por cavalheirismo decido ajudar, afinal ainda sou um príncipe.

— Onde você estacionou?

— Logo ali.

Nunca tive contato direto com humanos, essa é a primeira vez desde que cheguei e não sei muito o que fazer, não me sinto confortável estando assim tão perto.

— Eu acho que acabou a gasoli… Cadê o caminhão? — Elora se desespera ao ver o local vazio, não tinha nenhum veículo, apenas árvores de todos os tamanhos na estrada — Ele estava aqui agora mesmo, ai eu vou morrer.

— Como chegou nessa floresta? Nunca ouviu os boatos de que é perigoso?

— Não — ela começou a chorar — Eu nunca nem vim aqui, eu não sei o que vou fazer.

— É… Hum... Eu acho que consigo te ajudar.

Stel vai me matar quando eu chegar na casa dela com uma humana, mas eu não posso deixar a garota chorando no meio de uma floresta.

Aqui não tem perigo, mas Stel fez todos acreditarem que sim para não ter pessoas rodeando sua moradia.

Andávamos lado a lado e Elora não falava uma palavra, eu também não queria me socializar com ela.

Mas me surpreende o fato de até agora ela não ter perguntado o meu nome, nem nada de mim, nem sequer quis saber o que eu estava fazendo sozinho em uma floresta.

— Você é muito gentil, mas não me falou seu nome — foi só eu pensar, que estranho.

— Meu nome é Sun.

— Sol, é diferente, mas muito bonito a pronúncia — ela estava pensativa — Mora por aqui?

— Na verdade, é uma amiga que mora aqui, vamos ver se conseguimos entrar em contato com algum familiar seu ou alguém de confiança para você voltar segura para a sua casa.

— Eu não tenho ninguém.

Paro de andar por um segundo e encaro Elora, cada vez eu fico mais desconfiado, porém, não sinto nada especial nela. É só uma humana.

— Como não? Nem um amigo?

— Tenho um, mas ele desapareceu já tem três dias. Pedi ajuda a um moço na estrada e ele falou para levar essas mercadorias para um fabricante na cidade e que ele ia me ajudar a encontrar o meu amigo, agora eu estou completamente ferrada.

— Vamos dar um jeito — falo sem muita certeza.

Bato na porta da casa de Stel só para garantir mesmo que elas não estejam fazendo nada que possa aterrorizar a garota.

— Finalmente apareceu, a deusa vol…

Stel para de falar quando vê a humana atrás de mim, não tinha muito o que fazer, já estamos aqui mesmo.

— Essa é a Elora, acabaram de roubar o caminhão dela e agora…

— Espera, você veio do interior atrás de alguém? Disseram para você entregar uma mercadoria na cidade e que eles iam te ajudar a encontrar a pessoa que deseja? — Stel me interrompe e vejo Elora concordar com a cabeça — Ah mocinha, te enganaram e você não foi a primeira. Sempre fazem isso, colocam a quantidade certa de gasolina para acabar na floresta, aí vocês saem atrás de ajuda e quando voltam eles já foram e sumiram com o caminhão.

— Mas…

Elora voltou a chorar, dessa vez eu compreendo, se ela não tivesse me encontrado vai saber o que teria acontecido.

A floresta não é perigosa, mas os humanos são e infelizmente as mulheres não estão seguras.

— Sinto muito, porém pare de chorar e entre — Stel está sorrindo, pelo menos não ficou brava comigo — A casa está tão cheia hoje.

Assim que entramos eu vejo que tudo está organizado e Sammy está fazendo algum tipo de chá. Só não vi a Selena em algum lugar.

Fiquei preocupado e já ia perguntar para Stel onde ela estava, mas assim que me virei eu a vi, tão linda e radiante, vindo falar comigo.

— Podemos conversar?

Astros: Lua MinguanteOnde histórias criam vida. Descubra agora