XLII - Meu sol, minha lua

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Sun:

Eu havia voltado, não sei como e nem me lembro de muito, mas estou vivo e isso é tudo o que importa.

Foi totalmente o acaso encontrar o irmão da minha deusa ou pelo menos é assim que eu penso, antes de reencontra-lá novamente.

Estamos em seu quarto, Rey a trouxe após o desmaio.

Visivelmente preocupado não pretendo sair daqui enquanto ela não acordar e nos confirmar que está bem.

— Sabe o que isso significa? — Maha pergunta e eu a encaro sem entender — Essas dores que ela sente? Tem sido constante.

— Não sei o que pode estar acontecendo.

— Ela acha que a maldição passou para ela junto com os seus poderes, alguma possibilidade?

— Sem chances, pelo menos eu espero.

Queria poder dizer que isso não faz sentido, mas como eu vou saber? Nunca compreendi de fato qual é a maldição que nos colocaram.

Fomos bem ingênuos em deixar isso passar sem um conhecimento básico, assim que Lunar acordar eu farei de tudo para entender e poder quebrar isso.

De forma alguma ela irá morrer.

Lunar é essencial para o equilíbrio do mundo, ela não é só a lua, também tem o sol em si e se morrer tudo pode acabar indo junto com ela.

— Acho que ela não acorda hoje — Hunter fala entrando no quarto — O pai foi dormir, passou muito tempo a procurando.

— Tenho que me desculpar, fui extremamente grosseiro com ele — falo e os dois me olham concordando.

O que eu poderia fazer? Mal voltei e descubro que minha deusa está vagando por aí, sozinha e exposta a todo tipo de maldade.

Não consegui raciocinar com clareza, só queria garantir que ela estava bem. Ainda mais depois de sentir uma forte angustia e a marca em meu pescoço começar a queimar, conclui que ela estava em perigo.

— Sun.

Foi muito baixo, mas eu escutei a voz dela me chamando.

Olhei para a Maha e vi que ela também havia escutado, pois se aproximou e segurou a mão de Lunar como se para conseguir sentir alguma coisa.

— Não, não toque nele.

Agora não foi baixo, a voz de desespero dela deixou até Hunter em alerta. Parece que ela está tendo alucinações.

— Acho melhor vocês saírem — Maha declara preocupada, Lunar está quase saltando da cama de tão agitada.

— Não vou deixar ela desse jeito.

Eu consigo sentir a angustia no peito dela, o medo de perder alguém que não está claro para mim quem é, porém podia sentir sendo próximo.

— Vocês são os humanos aqui, vão.

— Não me deixa, Sun.

Ela estava prestes a pegar fogo, mas como vou deixá-la depois desse pedido? Mesmo sendo inconsciente, o meu dever é ficar e jamais a abandonar.

— Não vou sair daqui, meu amor — acaricio sua bochecha e me assusto com o quão quente estava.

— Sai — Maha expulsa Hunter o empurrando e assim que os dois saem, Lunar começa a pegar fogo.

Chamas avermelhadas cobriam todo o seu corpo causando um calor insuportável.

Quando eu era o sol isso não me incomodava, então não vou permitir que me incomode agora.

— Et refrigescant — Maha sussurra tocando a testa de Lunar, fazendo assim as chamas em seu corpo se apagarem.

— Obrigado — agradeço sorrindo, mas ela me encara sem esboçar muita reação.

— Muitas coisas eu não compreendo — começa a falar — Por que você voltaria depois de morrer e ter passado os seus poderes para ela? E ainda alega que não sabe como aconteceu, isso não faz sentido.

— Me conhece desde o meu nascimento e agora está desconfiando de mim, tia?

— Não confio em humanos, não é pessoal.

— Pareceu confiar no Hunter — aponto a questionando e ela sorri me virando as costas.

Sempre assim, adora demonstrar as suas desconfianças, mas quando é questionada ela dá as costas.

Não estou julgando ninguém, Maha é adulta e eu não tenho nada a ver com o que ela escolhe para a sua vida, nunca fomos próximos e eu só a chamo de tia porque a minha mãe a considerava irmã.

Começo a dar pequenas voltas pelo quarto que não é muito grande e reparar nos pequenos detalhes, não sei como era a vida de Lunar quando humana, mas a julgar pelo quarto era bem simples e monótona.

Não tem muitas coisas, tudo é bem simples e delicado, assim como ela.

Vejo uma foto jogada debaixo da cama e me abaixo para ver melhor, é uma montagem de quatro fotos com Lunar e sua família.

Dedico uma atenção maior a foto dela com a avó e percebo que é a mesma mulher que estava com o Hunter naquela rua deserta o ameaçando.

Me levanto para guardar a foto em outro lugar e quase volto de novo ao chão com o susto que levei.

Lunar estava sentada, suas mãos apoiadas na cama estava sustentando o seu corpo. Porém havia um detalhe, os seus olhos estavam acinzentados, a impressão que tive foi de que ela não estava enxergando.

Fiquei de pé ainda em choque pelo susto repentino, ela está estranha.

Deixei a foto na mesinha que fica ao lado de sua cama e tomei outro susto quando ela virou a cabeça de repente em minha direção.

— Sol me — sua voz saiu melódica e sussurrada.

No mesmo instante senti um formigamento em meu pescoço, a marca estava queimando minha pele.

Algo se apoderou de mim, não pude definir o que era e nem controlar as palavras que queriam sair da minha boca.

— Luna meum — minha voz soou como um rugido, algo que estava preso dentro de mim durante todo esse tempo e necessitava ser dito.

Lunar se levantou e caminhou até mim, seu corpo emanava um certo nível de calor só que não me incomodava.

Seus olhos ainda cinza cintilantes ficaram presos nos meus e sem falar nada ela colocou os braços em meu pescoço nos envolvendo em um abraço unindo os nossos corpos como imãs.

Somente quando os seus lábios veio de encontro aos meus me embalando em um beijo surreal, que eu entendi.

A maldição assustadoramente havia sido desfeita.

Astros: Lua MinguanteOnde histórias criam vida. Descubra agora