XXI - Por minha família

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Lunar:

" — Não consigo, papai monta para mim?

— Claro, minha coelhinha.

— O que é isso? Rey, não.

— Ele vai montar, mamãe. Tá muito difícil.

— Não vai não. Minha vida, você consegue fazer tudo o que quiser, só precisa de esforço, determinação, e muita fé em si mesma. Você acredita que consegue? A mamãe e o papai acredita. E posso te contar um segredo?

— Pode, mamãe.

— Já vimos você fazer coisas incríveis, você pode isso e muito mais, apenas confie em si e será capaz do que quiser.

— Eu consigo, papai?

— É claro que sim, vai montar essa ponte sozinha e ela vai ficar linda."

Em 1000 anos, eu nunca havia me sentido tão sozinha como agora. Minha mãe sempre foi minha amiga, não era tão carinhosa como o meu pai, mas sempre que ela me ensinava algo era para que eu aprendesse a viver.

Ela só nunca me ensinou a como viver sem os ensinamentos dela.

" — Ficou muito bom, parabéns, você é muito dedicada.

— Eu só precisei de esforço, dedicação e fé, muita fé em mim mesma.

— Isso mesmo, agora limpe toda essa bagunça.

— O que foi? Fiz algo que não gostou?

— Você está crescendo, já não precisa de mim.

— Não fala essas coisas, nós garotas sempre precisamos de nossas mães. Não é, vovó?

— É sim, minha bolinha. Sua mãe está com medo, não ligue para essas coisas.

— Medo do que? Mãe, relaxa. Enquanto eu estiver aqui nada vai acontecer com você e nem com a vovó. Eu vou cuidar de vocês duas sempre."

Fiquei furiosa quando vi aquela sombra matando a minha mãe, senti tanto ódio que quase a matei. Estou quase certa de que foi alguma divindade do universo que mandou Isaac para me impedir porque naquele momento do jeito que eu estava ia acabar matando a vovó.

Isaac também não me pareceu muito surpreso, antes de eu apagar a memória dele, ele confessou que já sabia que o sobrenatural existe devido a experiências que teve quando criança.

Tentei de tudo para trazer a minha mãe de volta, mas nada funcionou. Eu havia falhado com ela, com elas na verdade. Agora a minha mãe está morta e a minha avó está solta por aí sendo controlada por uma sombra.

— Filha.

— Papai — esse foi o primeiro abraço reconfortante que ganhei em todo o velório.

Decidi velar a minha mãe em casa, ela amava tanto o nosso lar.

Pessoas entravam e saiam a todo momento para me desejar condolências.

— Violet era uma boa mulher, ainda não consigo acreditar que a vovó fez isso — meu pai fala acariciando o meu cabelo.

— O que disse? — me afasto imediatamente do abraço e assumo uma postura cautelosa.

— Não... Eu... — ele se atrapalha todo e eu consigo ver medo em seus olhos.

— Você não estava aqui, como sabe que a minha avó fez alguma coisa? Isso nunca foi comentado.

— Selena.

— Silentium — estendo a mão na frente do rosto do meu pai e o vejo ficar paralisado — Agora você vai me falar toda a verdade, somente a verdade.

— Coelhinha, não faz isso — ele implora em tom de súplica e uma voz no meu interior diz que estou prestes a me machucar profundamente.

Fechando os olhos e sentindo as lágrimas escorrendo, respirei fundo algumas vezes antes de o obrigar a contar tudo o que sabe. Já chega de segredos.

— Vere dicam.

— Violet e eu não somos seus pais de verdade — ok, isso eu já sabia — Ela estava grávida de 8 meses quando você apareceu em nosso quintal, tão linda e delicada, parecia que não era daqui. Você mal entendia o que a gente falava, foi um processo longo para se habituar ao nosso idioma. Um mês depois, três dias que nosso filho nasceu, recebemos uma visita. Um homem, Brandon era o nome dele.

Brandon? Não pode ser.

— Ele exigiu que nós entregasse você a ele, mas jamais faríamos isso, você já nos chamava de papai e mamãe, já era nossa filha. Violet negou, eu falei para ela pegar você e o seu irmão e ir para a casa da mãe dela, ela estava entrando no carro quando aquele homem a abordou novamente. Exigiu você e mais uma vez ela negou, eu estava disposto a matá-lo para proteger vocês três, mas ele não era um humano, assim como você.

Então eles sempre souberam.

— Eu tinha uma arma, consegui ela assim que sua mãe ficou grávida, o lugar onde a gente morava não era conhecido por sua boa vizinhança. Eu ia matar aquele homem, já estava com o dedo no gatilho quando aconteceu.

O meu pai se derramava em lágrimas e eu não sabia o que esperar do fim dessa história.

— Ele se transformou, em um segundo ele era um homem com boas feições e no outro, ele já não era tão atraente mais. Manchas negras enormes começaram a cobrir o seu rosto, os olhos dele brilhava em um preto intenso com alguns pontos vermelhos, foi uma coisa assustadora. Atirei três vezes, mas ele não morreu, ele nem sequer sentiu dor.

O meu pai foi muito corajoso.

— Sua mãe com medo por você e o bebê, entrou no carro e ia sair, mas...

— Continua — peço em prantos.

— Ele a atacou, eu não vi o momento e nem o que ele fez, foi muito rápido, só vi quando o corpo dela caiu no chão. Corri desesperado para amparar vocês, mas fui jogado do outro lado da rua. Eu nunca consegui esquecer daquela mulher aparecendo do nada e salvando você.

— Salvando a mim?

Essa mulher só pode ter sido Stel.

— Ela fez com que o homem desaparecesse, quando levantei e decidi agradecer por ela não deixar nada acontecer com a minha família, eu notei que uma parte nossa estava faltando.

Eu não me lembro disso ter acontecido.

— Brandon havia levado o nosso bebê, aquela mulher permitiu que ele o fizesse. E desde então eles sempre nos ameaçaram, fazíamos tudo o que eles queriam para que o nosso filho não sofresse nenhuma consequência. Todos esses anos, todos os segredos, a minha separação com a sua mãe, tudo, foi tudo por culpa dessas sombras.

O meu coração já estava destruído só por saber que tudo isso foi culpa minha, o meu irmão foi levado por culpa minha.

— Me desculpa filha, sua mãe já não queria mais ser refém, ela já não obedecia, então terminamos, eu não suportava saber que o nosso filho estava sofrendo pela decisão dela. Eu só sei que por vocês dois, eu seria escravo de quem fosse, mas jamais iria permitir que fizessem mal aos meus filhos.

— Pai — o abraço mais forte que consigo — Escuta, eu prometo pela alma da minha mãe que vou atrás de cada uma dessas sombras e vou fazê-las pagar por tudo, uma por uma, eu vou matar todas.

— Não faça isso, o seu irmão...

— Eu vou trazê-lo de volta, vou salvar a minha família. Nem que para isso eu tenha que morrer.

Astros: Lua MinguanteOnde histórias criam vida. Descubra agora