XI - Laço de irmandade

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Lunar:

“Ouça, minha lua, isso é um coração batendo, batendo por você. Um dia você estará apaixonada por um lindo príncipe e o coração dele vai bater tão forte quando você estiver nos braços dele. Me emociono só de imaginar, quero estar presente em todos esses momentos.”

Tudo ainda está confuso, minha mente é uma caixa de lembranças e quase todas elas são de momentos que tive com Mayn, momentos que ela me preparava para quando eu fosse encontrar o Sun.

Momento esse que está acontecendo agora e não está sendo do jeito em que imaginávamos, ela sequer está aqui.

— Eu não sei como fazer isso — é a quarta vez que o príncipe tenta iniciar uma conversa.

— Desculpa, eu não consigo.

E é verdade, não importa quantas vezes eu medite ou coloque na cabeça que isso tudo é uma maldição e ele não é um ser ruim, não adianta, o ódio continua gritando para eu me afastar.

— Espera — Sun agarra o meu braço inesperadamente quando eu ia me afastar dele. No impulso eu o jogo longe com o poder que a lua cheia me proporcionava.

— Desculpa — peço assim que ele se levanta e vem novamente até mim.

— Você pede muitas desculpas, não deveria ser assim, eu não vou te fazer mal.

— Mas eu vou te fazer, você vai morrer por minha causa e o pior é que eu nem consigo ficar triste. Por mim eu mesma acabaria com você.

— Está doendo — ele coloca a mão no peito e eu consigo sentir a marca no meu pescoço ficar quente — Isso está acabando comigo, mas você não se importa.

Eu queria poder me importar, queria sentir o amor que fui destinada a ter por ele, mas nada disso é possível e tudo graças as sombras.

Hesito em me afastar ou não, Sun ainda sentia dor e isso não me parecia certo.

Recito para ele um feitiço que imobiliza a dor por alguns minutos e me assusto quando sinto suas mãos nas minhas bochechas segurando o meu rosto para eu o olhar nos olhos.

— Lunar — perto, ele está muito perto — Eu não vou desistir de você, não importa o quanto doa.

“Dói só quando você aperta, algumas feridas são assim por dentro minha estrelinha. Por fora ninguém vê não é mesmo? Mas se eu tocar você sente. Um coração ferido é assim também.”

— Sabe Sun, acho melhor você me evitar. Se não tocar não dói — dito isso eu me afasto e cada um vai para um lado.

Apesar de ser noite, o quintal da casa de Stel está bem iluminado pela lua e as estrelas. Isso tem muito a ver com o que nós somos, não vou mentir.

Agora que sei toda a verdade não existe nada melhor do que estar diante da lua e aumentar o brilho dela, é como um remédio para a minha alma.

Fecho os olhos por um momento para sentir minha energia sendo restaurada e logo escuto um barulho que me deixa atenta. Eram passos se aproximando, meu coração dispara por um segundo, mas quando vejo quem é ele volta ao normal.

— Oi, Selena. Você viu o Sun por aí? — Elora pergunta.

— Foi para lá — aponto na direção em que o vi pela última vez. Era nítido o interesse dela, porém, nada recíproco.

— Obrigada.

Elora é uma humana que chegou aqui hoje com o Sun, poucos minutos depois de eu voltar para o meu corpo e contar para a Sammy e Stel que eu me lembrava de tudo. Elas vibraram e ficaram animadas, mas eu não consegui ver coisas boas nisso ainda.

Sou uma deusa, tenho poderes, sou a lua, estou destinada a um príncipe que me ama. Ok, isso seria incrível… Senão fosse pela maldição, pelo tempo que perdi como humana, por Mayn e pelas estrelas que perderam completamente a razão e estão sendo egoístas umas com as outras.

Vejo de longe Sammy sentada no gramado e vou até ela, aparentemente ela está meditando, mas parou quando me viu se aproximar.

Ia falar alguma coisa quando começamos a ouvir risadas, era Elora e Sun juntos.

— Também não entendo o porque ela ainda está aqui.

— Stel está tentando localizar o amigo dela — falo me sentando no gramado de frente para a Sammy e ignorando a cena pergunto: — E você, pretende ficar por aqui?

— Não, eu vou ir embora quando você for. Afinal, ainda somos amigas, não somos?

— É claro, sempre eu por você — respondo sorrindo.

— E você por mim — ela sorri completando.

“ — Tia Suzy só reclama por mensagens de texto, e Selena, Selena está bem, oras — minha mãe fala bastante chateada com o meu pai.

Tínhamos acabado de chegar na nossa casa nova e ela não está nem um pouco feliz.

— Ela só está preocupada, sempre foi apegada a menina — meu pai sempre ficava com a missão de acalmar a fera.

— Leva ela na praça, vou resolver aquilo.”

Nunca soube o que ela teve que resolver, mas o meu pai ter me levado na praça aquele dia foi a melhor coisa que poderia ter acontecido.

“ — Essas luzes artificiais tiram todo o brilho da noite — reclamo ao ver a decoração exagerada de natal ao redor das árvores.

— Você acha? Para mim fica tudo mais lindo e brilhante igual a você, minha bonequinha.

— Pai — repreendo pelo apelido, mas não espero ele responder.

Uma garota chorava sentada ao lado de um papai Noel gigante, corro até ela sem falar nada ao meu pai.

— Oi, tá tudo bem com você? Precisa de ajuda?

— Selena — meu pai estava ofegante, pois correu atrás de mim.

— Meu nome é Selena — estendo a mão para ela que apenas me olha com os olhos cheios de lágrimas — Vem comigo, não fique triste.

— Você está com alguém garotinha? — meu pai perguntou e ela negou com a cabeça.

— Podemos levar ela para casa, é natal ninguém merece ficar sozinha chorando numa praça. Por favor, pai.

— Você quer ir?

— Isso — comemoro ao ver a garota se levantando e segurando a minha mão.”

Não foi o melhor natal para a Sammy, mas prometi no momento em que conversei com ela, que seria sempre eu por ela.

E ela não hesitou em dizer que também seria ela por mim.

Astros: Lua MinguanteOnde histórias criam vida. Descubra agora