XXXIX - Príncipe do Sol

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Hunter:

A noite sempre me causa lembranças dolorosas.

Por isso desde a minha infância que eu mantenho uma frequência de dormir apenas de 3 em 3 noites.

Isso evita a minha mente de entrar em colapso e também equilibra os meus pesadelos.

Chovia muito lá fora, uma tempestade devastadora capaz de derrubar até casas.

Sei que o frio não a incomoda, mas ter um lugar para se abrigar é sempre bom quando acontece esses temporais.

Sim, estou falando da minha irmã cuja magoei e me arrependo amargamente.

Minhas palavras foram desnecessariamente cruéis, não devia tê-las falado com a pessoa que lutou por mim e graças a ela hoje eu posso desfrutar de outras emoções que não seja a dor e o medo.

Graças a persistência dela eu tenho um pai que me ama de verdade, um cachorrinho que não desgruda de mim e uma irmã mais velha que cuida de todos.

— Concordamos que sou um burro — falo com Doug que havia deitado na minha cama por causa do frio — Devia ir atrás dela junto com o papai, não posso deitar e fingir que nada está acontecendo, sei que com os poderes ela não é indefesa, mas eu me preocupo.

Já de casaco e calça bem aquecidos, calço uma bota e pego um guarda-chuva no armário pronto para ir atrás da Lunar.

Deixo um recado para o meu pai, mas não é necessário já que ele entra todo encharcado da chuva.

— Tá caindo o mundo lá fora — fala desanimado — Não vamos encontrá-la a menos que ela queira.

— Eu sou um babaca.

— Concordo, não devia magoar quem te ama e faria de tudo para te ver bem.

— Amanhã eu saio bem cedo, vou achar ela, preciso fazer isso — afirmo voltando para o meu quarto — Boa noite, pai.

— Boa noite, filho.

Passei a noite acordado e vi o dia amanhecendo sem aquele temporal de ontem. Preparei um café para mim e para o meu pai e tomei uma xícara bem rápido.

Coloquei ração para o Doug e saí para procurar a minha irmã sem ter a menor ideia de para onde ela iria.

Pensei no óbvio e segui em direção a casa da melhor amiga dela, a Sammy.

Sim, eu já tinha aprendido a andar por Oxford, Lunar e o papai me apresentaram quase todos os lugares.

Estava na metade do caminho quando notei a temperatura do ar esfriando rapidamente, parei para vestir o casaco que tinha colocado no ombro e fui envolvido por uma nuvem de poeira trazida pelo vento.

Essa nuvem me fez perder a visão por alguns segundos e quando me recompus, notei uma silhueta a minha frente e senti uma energia muito negativa vinda da pessoa que só vi quem era quando a poeira abaixou.

— Pequeno Hunter, quanto tempo — a coisa sorri satisfatória me deixando em alerta — Confesso que foi difícil seguir seu rastro, mas nem toda magia é perfeita.

— O que quer aqui?

Meu medo é o meu pai decidir vir atrás de mim e encontrar com essa mulher que desgraçou a vida dele.

— Lembra de seis anos atrás quando me livrei dela para você? Quero o meu pagamento.

— Vai embora, não tem mais acordo, não vou te entregar nada.

Minha moral de hoje não me permite ser como eu era a algum tempo atrás.

— Pequenino, é só um humano agora, sabe que se usar os poderes que te dei você vai ser facilmente rastreado.

— Já falei para você, não tem acordo, vai embora.

Viro de costas para poder voltar para a casa. Tenho que tomar muito cuidado com os passos que darei agora, meu passado nunca vai me deixar em paz.

— Péssima escolha dar as costas a alguém que te mataria — ela fala rindo.

— Concordo plenamente.

Não estava muito certo se essa voz era de quem eu pensava, porém a reação que a sombra teve me fez ter uma confirmação.

Só de ouvir a mesma voz que eu, a coisa que voltou do meu passado para me assombrar, fugiu como se tivesse visto o seu pior pesadelo.

— Você não estava morto?

Pergunto sentindo o sol que até o momento não tinha dado muito sinal além de sua claridade, esquentando.

— É uma longa história que contarei outra hora, cadê a sua irmã? Não consegui sentir nossa ligação, ela está bem?

— Sim, acho que sim.

— Acha? — ele arquea uma sobrancelha me olhando desconfiado.

— Não me frita, tá legal? Mas ontem eu acabei falando coisas que não devia para ela e desde então ela sumiu, meu pai falou que só vamos encontrá-la se ela quiser ser encontrada.

— Hunter, ela não está bem.

Sun se ajoelha no chão aparentemente começando a se sentir mal.

— Os seus poderes — exclamo surpreso ao não sentir magia quando cheguei perto demais.

— Ainda estão com ela, sou um humano como você.

Confessa colocando a mão no desenho de um sol e uma lua que tinha no pescoço, igual ao da minha irmã.

— Ainda tenho uma vibração poderosa já que sou a personificação do sol, porém não tenho os meus poderes.

— Então se aquela coisa não tivesse fugido?

— Sim, eu ia me dar muito mal.

— Mal você já tá, isso tá relacionado a Lunar? Essa marca de vocês, tá sentindo o que?

— Eu...

Não deu tempo de ouvir o resto já que o mesmo desmaiou. Era só o que faltava, me deixar preocupado e sem respostas.

Sem muita escolha, pego o ruivo e volto para a casa o carregando.

Seu corpo não é leve, porém já estou acostumado a carregar peso desde criança quando as sombras me usavam para levar e trazer materiais que eu não sabia para o que eram usados.

Não ousava perguntar e ter que aguentar as torturas que era exposto sempre que "tirava a paciência" de algum deles.

— Pai.

Chamo assim que chego em casa e vejo ele com cara de quem acabou de acordar vindo ver quem eu tinha colocado no sofá.

— Esse é o príncipe namorado da sua irmã?

— Bem que ele queria — dou uma risada contida.

— Ele não morreu? Sua irmã está tão mal e se culpando pela morte dele, tem certeza que esse é mesmo o rapaz?

— Sei não, acho que é sim, ele disse que a Lunar não está bem e logo em seguida desmaiou, vou tentar falar com alguém que possa ajudar a localizar ela.

Fui até o quarto da minha irmã vê se tem alguma coisa para ajudar a entrar em contato com os seus amigos e o meu pai me seguiu.

— Faça isso meu filho, porque eu não pressinto coisa boa.

Astros: Lua MinguanteOnde histórias criam vida. Descubra agora