XXXII - O meu fim

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Lunar:

O feitiço de sangue funciona como uma ligação e em algum momento Érebo usou o sangue do meu irmão para criar um vínculo entre os dois.

Agora a vida de Hunter está ligada a dele e se eu o matar o meu irmão também morre.

— Vamos dar um jeito, nenhum feitiço é irreversível — Sammy tenta me acalentar, o que não está funcionando.

Passei tanto tempo sem saber da existência do Hunter, fui a maior culpada por ele ter tido a vida que teve e quando finalmente o encontro para poder fazer as coisas diferentes, eu corro o risco de perdê-lo.

Minha mente está a milhão, é tanta coisa que eu pensava.

— Elora — Sun se levanta com a mão no peito, ele está enfraquecido por ter usado uma carga elevada de poder a noite — Você é uma maga, não pode fazer nada?

— Ele é muito poderoso, não sei se consigo reverter — responde olhando para Érebo, ele está preso em uma espécie de cela que as estrelas fizeram.

— Pode tentar? — pergunto esperançosa.

— Claro, mas vou precisar de umas coisas.

— Te ajudo — Ártemis se oferece e as duas se teleportam para algum lugar.

Cada minuto estava sendo uma tortura, as coisas não saíram da maneira que eu esperava.

Odeio batalhas, nenhum dos dois lados ganham, sempre alguém que luta conosco morre e o que resta é somente a culpa.

Mas eu sei que vou salvar o meu irmão, nem que seja preciso transferir o feitiço dele para mim, não vou permitir que ele morra.

Esse desgraçado sabia que tinha chances de perder ou quis fazer isso para vingar seu filho. E mais uma vez eu estragando a vida do meu irmão.

Fico em alerta quando Ártemis e Elora voltam, a expressão no rosto delas não era nem de longe uma das melhores.

Comecei a me sentir mal, uma dor por dentro me atingiu com tudo.

— Desculpa — Ártemis fala, me ajoelho no chão e começo a chorar.

— Não dá para reverter, ele fez o feitiço quando o seu irmão não tinha nem 2 anos ainda — Elora explica me deixando pior do que já estava — No caso temos que ler livros e grimórios antigos, levaria tempo e isso seria pior porque o seu irmão vai começar a absorver todos os poderes do Érebo e se tornar um servo leal até quando ele estiver livre das grades das estrelas.

— Isso não é possível — Elyon intervém ficando de frente para o meu irmão — Sammy.

Ela chama e minha amiga pega nas mãos de Hunter, ela iria fazer algum feitiço.

— Sim, o processo já tinha começado, Hunter não é totalmente humano e isso vai corrompê-lo assim que a escuridão rodear seu coração.

Desnorteada, me levanto sem saber o que fazer. Matar o meu irmão ou deixar ele se tornar uma pessoa cruel? Quem em sã consciência seria capaz de fazer uma decisão difícil dessa?

— Me mata — Hunter chorava muito — Eu sei que você não quer, mas não pode deixar ele vivo, você sabe.

O pior é que eu não sei de mais nada, preciso de espaço. Muita carga emocional, muito sufocamento, estou me sentindo um fiasco, uma fracassada.

— Não consigo, me perdoe.

Dou as costas sem imaginar a loucura que viria a seguir.

— Ou você me mata, ou eu me mato.

Meu irmão pega sua espada e aponta para o próprio coração ameaçando se matar. Sinto o meu sangue gelar e o meu coração para por alguns segundos.

— Hunter, não faz isso.

— Você escolhe, não vou deixar esse monstro matar pessoas e também não vou me transformar nele, prefiro morrer. Eu não ligo para a minha vida, Lunar, nunca tive nada de bom e sempre pensei que iria morrer como escória. Você mudou tudo, me trouxe uma esperança que eu nunca tive — declara fazendo eu me sentir um lixo incapaz de proteger a própria família — Você não tem culpa de nada, és incrível, não tinha como os nossos pais deixarem levar você. Eu te amo irmã, obrigado por me fazer ter pelo menos um dia de sentimentos e momentos bons.

— Eu vou matar ele — me aproximo devagar — Por favor, solta isso.

— Eu te perdôo — Hunter soluça baixinho soltando a espada no chão, eu conseguia sentir o medo dele de morrer.

Ele não quer morrer e ninguém quer que ele morra.

Ninguém ousava falar nada, acredito que todos compartilhavam a mesma dor.

Elyon abre a cela de Érebo e o tira de lá colocando-o caído na minha frente, meu maior desejo é matá-lo, mas não posso se isso for levar uma parte de mim junto.

Ergo a lança e miro para o coração de Érebo, um golpe e ele não existirá mais.

— Um golpe, Lunar — sussurro com minhas mãos trêmulas.

Isso não está certo, não posso matar o meu irmão, jamais farei isso.

— Irmão — me viro para ficar de frente com Hunter que estava abraçado com Sammy.

Ia falar que não precisa fazer isso, podemos criar uma prisão e manter o Érebo sob vigilância até acharmos um jeito de desfazer o feitiço.

Mas...

Sinto algo perfurando o meu peito por trás, uma longa espada de prata banhada de algum tipo de magia que até então eu desconhecia, tinha acabado de adentrar o meu coração.

Caio de joelhos sentindo uma dor fora do normal, a dor era tanta que eu não conseguia sentir mais nada além da vontade de fechar os olhos para parar de senti-lá.

Conseguia ouvir vozes abafadas gritando, mas já não reagia.

Tive um leve vislumbre do rosto dos meus pais verdadeiros, coisa que nunca tinha acontecido antes e fechei os olhos definitivamente sentindo que esse é o meu fim.

Astros: Lua MinguanteOnde histórias criam vida. Descubra agora