XVII - Surpresas desagradáveis

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Lunar:

— Lunar.

Uma voz abafada adentra os meus ouvidos me fazendo abrir os olhos.

— Sabe onde estamos?

É a Sammy, mas eu não consigo vê-la pelo simples fato de eu estar com uma venda nos olhos.

— Não, o que aconteceu? Estou presa.

— Eu também, não consigo me mexer e nem usar os meus poderes. Só me lembro de você ter me dado o seu sangue e depois acordei aqui.

Eu tinha dado o meu sangue a Sammy porque tinha ido à galáxia alguns dias atrás, foi uma tentativa arriscada de salvar a minha amiga e que por sorte deu certo.

— Vovó Bessie — falo triste — Ela com certeza sentiu a ligação que fiz para o Sun, que droga.

Após um breve silêncio consegui escutar o barulho de portas abrindo e fechando, Sammy solta um gemido frustrado e eu fico em silêncio escutando passos se aproximando.

— Brincar com vocês é bem divertido — é a voz da vovó — Selena não gostou do que vocês duas fizeram, tentaram nos enganar.

— Você é de fato louca, conversando com uma boneca.

Dou um soco mentalmente em Sammy por estar perdendo o controle e atiçando a raiva dela, sei que ela deve estar enlouquecendo com toda essa situação, entretanto, agora é um momento para se pensar em cada coisa que fizermos, por menor que seja.

— Prepotente, Selena não é uma boneca.

— Elas nunca entenderiam.

Uma segunda voz desconhecida se manifesta, não parecia uma voz que eu já tivesse ouvido antes.

Em um rápido movimento eu sinto a venda sendo puxada dos meus olhos, pisco repetidas vezes até me acostumar com a claridade do local.

É um quarto verde bastante iluminado e sem nenhum objeto, apenas as cadeiras em que Sammy e eu estamos amarradas.

— Hoje nós vamos brincar — a sombra coloca a boneca no colo de Sammy e caminha até mim.

— Por que está fazendo tudo isso? — me arrisco em perguntar e fico surpresa ao ver a expressão de confusão no rosto da sombra.

— Não sabe quem eu sou?

— Sempre achei que fosse a minha avó, mesmo humana eu nunca senti nada sobrenatural no seu corpo.

— Oh não, nessa velha eu tive que entrar na última vez que você esteve no hospital e ela estava lá também. Não cheguei a tempo então tive que encontrar um hospedeiro.

— Está usando o corpo da minha avó?

— O que você acha? Eu não conseguiria ficar cinco minutos perto de você sem demonstrar o quanto te odeio, é muita ignorância pensar que em todos esses anos eu estaria me passando por uma velha caduca.

— RESPEITE A MINHA AVÓ — grito com raiva e consigo me soltar das amarras surpreendendo tanto a mim quanto a sombra que é lenta demais para agir e assim eu acabo a imobilizando com o próprio tecido que ela usou para me amarrar.

Eu poderia matar ela agora só com o peso do meu ódio, mas ainda é a minha avó ali dentro, eu não posso machucar uma das pessoas mais importantes para mim.

Sem tirar minha atenção da sombra, corro até Sammy desamarrando a mesma. Ela me agradece, mas nota que ainda não conseguimos usar os nossos poderes.

— Se nós não podemos, ela também não — falo olhando para a sombra que agora assumia sua aparência nojenta.

— Me machuca e quem sente é a sua vovózinha.

— CALE A BOCA — Sammy grita indo para cima dela, mas eu a seguro antes dela agredir a sombra.

— Minha avó está ali, não podemos machuca-lá.

— Também não podemos deixar ela livre.

Pensativas, Sammy e eu discutia jeitos de manter a sombra sobre o nosso controle sem que seja preciso atingir a minha avó.

Já estávamos nessa linha de raciocínio a um bom tempo e só paramos quando escutamos o barulho de uma campainha tocando.

Sem entender nada, ficamos assustadas até a sombra começar a rir e tudo ficar óbvio para mim. Feitiço de ilusão, mas é claro.

Nunca saímos de minha casa, a sombra apenas manipulou nossas visões para enxergamos um local vazio. Era um feitiço bem fraco porque acreditando que o local é falso a pessoa enfeitiçada consegue quebrar e enxergar tudo normal novamente.

Espero Sammy levar a sombra para o quarto da vovó e vou até a porta ver quem era.

Estava na esperança de ver Stel, mas tudo o que vi foi um homem.

Seu tom de pele é claro, ele tem uma barba aparada e os olhos de duas cores diferentes, acho que nunca o vi.

— Quem é você? — pergunto sem dar muita liberdade.

— Selena Villin — ele deu uma risada que me fez mudar o semblante — Quem diria.

E é claro que eu jamais iria me esquecer dessa risada.

— Isaac Newton.

Não espero resposta e já vou logo fechando a porta. Isaac, entretanto acaba sendo mais rápido, batendo a mão na porta e a empurrando ele me impediu de fechar ela completamente.

O garoto parecia estar desesperado para falar, então dei uma chance.

— Espera — ele deixou as ironias de lado e ficou mais sério de repente — Eu estava indo para o hospital só que algo me fez voltar e eu não faço a menor ideia do porque vim até aqui, mas acredito que a Stel precisa de ajuda.

E desde quando ele conhece a Stel?

— Ela está bem ali — ele aponta para o lado esquerdo do portão e eu vejo minha protetora caída no chão.

Corro até ela e a pego no colo, Stel está fria e pesada, a sensação de estar carregando um cadáver é desesperador.

— Como você conseguiu? Ela está muito mais pesada do que qualquer outra coisa — Isaac fala quando entro na minha casa e coloco ela no sofá.

Começo a examinar cada parte do corpo dela e percebo que suas pernas estavam endurecendo por dentro, era como se estivessem virando pedra.

— Oh não — Sammy nos vê e vem correndo, ao ver Stel desacordada ela coloca a mão na boca e assume uma postura de desespero — Lun… Sel ela vai morrer.

— Não, ela é imor… Importante, não pode morrer.

— E não deveríamos chamar uma ambulância? — Isaac interrompe nos olhando estranho.

— Somnum — falo e logo ele dorme.

Não deveria usar meus poderes com Isaac, mas foi necessário.

Após ele dormir, Sammy faz um feitiço que eu não conhecia direcionando-o a Stel e terminando ela me olha e sorri.

— Eu vou salvar ela — é tudo o que ela diz antes de segurar a mão de Stel e as duas desaparecerem.

Astros: Lua MinguanteOnde histórias criam vida. Descubra agora