XXVII - Fatídico passado

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Lunar:

Não fui capaz de reagir quando o meu irmão se lançou sobre mim e juntos caímos no chão, ele estava bem disposto a me matar.

Suas mãos firmes apertavam com bastante ódio o meu pescoço.

— Você sabe tudo o que eu passei? Tudo o que tive que aguentar?  — manchas negras cresciam ao redor de seus olhos cada vez que ele aumentava a força do aperto — Enquanto você tinha a vida perfeita, eu era obrigado a fazer tudo para agradar aquelas malditas sombras.

— Mostre que aprendeu, mate ela — a sombra que sequestrei e que ainda estava amarrado, fala rindo.

— Perit — sussurro com raiva fazendo ele morrer engasgado.

O meu irmão me odeia e com toda razão, ele foi tirado dos nossos pais por culpa minha. Olhando para seus olhos sombrios e vazios, eu consigo sentir o quão interiormente ele está machucado.

— Você não morre.

— Não por você — falo e vejo seus olhos voltando ao normal. 

Pensei que ele ia me atacar com sua espada quando se afastou e me deu as costas, entretanto, ele chutou o cadáver da sombra e com um grito se jogou sentado no chão.

— Tiraram tudo de mim — o tom de voz dele estava trêmulo como se fosse chorar a qualquer momento  — Me mostravam todos os dias você ocupando o meu lugar na minha família. Anos e anos e ninguém sentia a minha falta, eu não significava nada.

— Não é verdade — me sento alguns centímetros de frente para ele.

— As sombras se divertiam com o meu choro e todo momento eu me sentia um lixo que foi trocado por alguém bem melhor.

— Eles tiraram você da gente, a mãe e o pai ficaram anos fazendo tudo o que as sombras queriam só para você não ter que sofrer — ele não olhava diretamente para mim, sua cabeça estava baixa — Não estou mentindo.

— Estavam sempre sorrindo — vi lágrimas pingando no chão e segurei para não começar a chorar também, a culpa corroía todo o meu ser — Chega um momento que não dá mais, a escuridão reina e o ódio é a única esperança que a gente se prende.

— É o momento em que juramos vingança, nosso coração fica escuro e despertamos o nosso pior.

Confesso tudo o que sentia em relação as sombras, mas ele não se deixou convencer.

— O que você entende disso? É perfeita.

— Não me julgue sem me conhecer — eu odeio isso, porém ele não precisa saber agora — Já estou a mais de 4 dias sem dormir, tudo pelo ódio. Desde que uma sombra matou a nossa mãe e o nosso pai me contou sobre você, eu jurei matar cada uma delas e eu vou, nem que custe a minha vida.

— Violet morreu?

— Com licença — me aproximo e coloco minha mão em sua cabeça passando para ele as lembranças horríveis da morte da mãe e também a revelação do pai.

Até o meu caminho até encontrá-lo eu passei.

Eu conseguia visualizar cada lembrança que ele tinha acesso, foi doloroso rever nossa mãe morrer. Se o meu coração estava em pedaços, ficou pior, eu já não segurava mais as lágrimas, elas simplesmente desciam.

— Não tem como forjar isso?

— Não — respondo de prontidão — Eu realmente não sabia de você e quando soube vim sem nem pensar duas vezes te levar de volta para a casa. Infelizmente a mãe não vai poder te ver novamente, mas o pai vai ficar muito feliz.

Um silêncio se fez presente e eu pude perceber que o meu irmão lutava contra os seus sentimentos.

Mas ele é do bem, eu sinto isso.

— Me perdoa? Todos esses anos eu alimentei um ódio sem limite por vocês e olha o que eu me tornei só para conseguir matar você.

— É...

Travo sem saber como chamá-lo e incrivelmente ele percebe.

— Hunter, meu nome é Hunter — ele sorri muito fofo, notei que mesmo parecendo durão, ele tinha a doçura de uma criança — Fui eu que escolhi.

— Não tem que me pedir perdão por nada, a culpada de tudo sou eu, você foi apenas uma vítima — fico de pé e abro os braços — Vem cá dá um abraço na sua irmã mais velha.

— Eu pareço mais velho — fala se levantando e me abraçando.

— Eu tenho um milênio, garotinho — o aperto em meus braços sentindo nossos corações batendo no mesmo ritmo — Vou te levar para a casa viu? E te proteger de tudo, sempre. Eu prometo não falhar novamente.

— Não posso ir, vão atrás da gente.

— Eu sei, você é quase um deles e pelo que entendi não vão deixar barato essa "traição" — faço aspas com os dedos — Mas eles que venham, vão ter que enfrentar uma lua bastante furiosa.

Minha vontade era de nos teleportar para a casa, queria tanto dar essa alegria ao meu pai, mal posso esperar para ver a emoção desse reencontro.

No entanto, a Shira ainda está me esperando para curá-la.

— Vamos ir embora, ok? Só tenho que fazer uma coisa antes.

Ele assente e sem falar nada me segue até a casa que Shira estava.

Ela dormia tão serena, vi que meu irmão ficou impressionado. Talvez pelos ferimentos que são muitos ou a beleza incomum que ela tem.

Shira é uma negra bem corpórea, suas dobras são lindas e tudo nela combina, o cabelo é super cheio e cacheado, mas os olhos são incríveis, um tom de caramelo que nunca tinha visto antes.

Chamo ela algumas vezes até ela acordar confusa, fiz o processo de cura bem rápido graças a lua cheia.

Shira ficou tão animada que até se transformou assustando nós dois, quase vi Hunter ter um ataque cardíaco.

Depois do susto, pensei bastante e a fiz uma proposta.

— Não quer vir com a gente?

Como eu sobreviveria na Terra? Minha forma humana é temporária, em algum momento eu preciso me transformar.

— Não precisa ficar na Terra, o universo tem muitos reinos onde ninguém vai te fazer mal.

Só vou para tirar vocês de confusão, você ainda não pode usar os seus poderes até estar longe daqui.

— Sim, eu sei — sorrio contente por ela vim com a gente — Então vamos?

Direciono a pergunta ao Hunter que ainda estava assustado.

— Ele ficou com medo de mim — Shira se transforma em humana de novo e juntas damos risadas do meu irmão.

O caminho a partir de agora será longo, temo pelas sombras que infelizmente sei que virão atrás do Hunter, mas independente do que acontecer, ninguém nunca mais vai fazer mal a ele.

Astros: Lua MinguanteOnde histórias criam vida. Descubra agora