XLIII - Objetivos

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Lunar:

Mil sóis queimavam dentro de mim.

Uma sensação até então desconhecida estava se apoderando de todo o meu ser e pela primeira vez eu senti o véu se rasgar por completo.

Estava a enxergar tudo com clareza, não só o verdadeiro valor do humano a quem minha boca mantinha um contato bem íntimo, como também o quanto tudo isso é importante para o nosso desenvolvimento como futuros governantes.

Não é a primeira vez que eu beijo, mas tudo está diferente.

Em nenhum beijo que dei os nossos corpos foram envolvidos por chamas levemente ardentes e um brilho um pouco excessivo.

Éramos nós, o sol e a lua um do outro, com uma leve diferença de que eu era os dois e o príncipe somente um humano.

— Me sinto livre.

Ele sorri dando um beijo terno em minha testa assim que encerro o beijo.

— Não fala nada — o abraço gostando da sensação de nossos corações estarem em chamas um pelo outro.

Foi tudo de repente, sem planos ou aviso prévio, simplesmente aconteceu sem nenhum tipo de explicação, mas as coisas são melhores assim.

O mistério faz parte de quem nós somos, seres galáticos que muitos não fazem a menor ideia que existem.

Vêem o sol e a lua, mas nunca pensam que somos reais e temos um destino juntos.

Isso me faz lembrar até de uma história que uma professora me contou quando estava no Year 12.

Na história o sol e a lua viviam um romance até Deus criar o mundo e desde então sol e lua nunca se encontraram porque um iluminava o dia e o outro a noite, Deus então vendo a tristeza dos dois resolveu criar o eclipse e assim poucas vezes em milênios sol e lua podem se amar e ficar juntos novamente.

Talvez isso possa ser um eclipse, não acredito que a maldição seria facilmente quebrada desse jeito e nenhuma sombra apareceria para nos tirar a paz.

Todo cuidado é pouco e precaução nunca é demais, vou ficar bem atenta a tudo que estiver acontecendo e para facilitar vou encontrar um jeito de devolver os poderes do príncipe.

— Isso é muito estranho, gostar de você — confesso atônita, nunca estive apaixonada e não sei se estou.

Pelo menos não de verdade.

— Entendo, você tem muito dos humanos.

— Sim, na Terra pessoas não são destinadas antes mesmo de seus nascimentos, o amor tem que ser conquistado.

— Irei te conquistar, minha lua.

— Pode fazer isso depois, preciso muito que recupere os seus poderes.

E não é só para mantê-lo seguro, uma pessoa importante para mim ainda está correndo perigo e só o príncipe pode me ajudar.

— Talvez Maha ajude — Sun sugere algo que eu já tinha em mente.

Maha é mais antiga que nós dois, conhece todo tipo de magia existente e com certeza sabe feitiços para tudo. Não tem mais ninguém que possa nos ajudar, pelo menos não agora.

— Estou pronta — ela aparece no batente da porta segurando um copo de leite.

— Estavam espionando a gente — falo com Sun que ficou confuso após ver Hunter atrás da entidade que iria nos ajudar.

— Qual é? Seu quarto nem tem porta, só quando usa magia que não dura muito tempo.

— E respeito a irmã mais velha ninguém tem — brinco descontraindo um pouco antes de me concentrar no que realmente importa — Você sabe como podemos devolver os poderes dele?

— Conheço um feitiço, mas é muito perigoso.

— Faça.

Acho admirável a coragem do príncipe, mesmo sendo humano ele continua destemido.

Nota-se muito que independente do que aconteça ele jamais perderá os princípios da realeza.

— Vamos lá — Maha estala os dedos nos teleportando para um deserto, literalmente — Desertos são bem quente, por isso estamos aqui.

— O que fazemos agora? — pergunto e logo sou surpreendida por braços fortes me agarrando e me imobilizando por trás.

— Lunar — pude ver que Sun também estava imobilizado, mas o pior foi reconhecer quem estava nos mantendo presos, eram guardas de Dominion, seguidores fiéis da Maha.

Não entendi muito o que estava acontecendo, no entanto sei que tem alguma explicação para estarem fazendo isso conosco.

— Spirituum immortales, elige sole
relinquo luna.

Senti algo entrando e saindo de dentro de mim como se tivesse atravessado o meu corpo, o guarda que me segurava começou a me levar até Maha que estava aparentemente cansada.

O que ela acabou de fazer?

— Desculpa, não temos muito tempo — ela fala respirando pesado — Solte ela.

— Muito obrigada, você é uma ótima irmã — agradeço mesmo confusa.

Eu não sentia estar no controle do meu próprio corpo. A prova disso foi tentar várias vezes perguntar se o que ela fez devolveu os poderes ao príncipe, mas nada saia da minha boca.

Sun me abraça sorrindo e pela energia que seu corpo emanava ele com certeza recebeu os poderes de volta, sem falar nada ele nos envolve em uma bolha e começamos a flutuar no ar.

— ESPEREM — Maha grita, porém já é tarde, estávamos longe.

Eu queria questionar, falar, gritar, mas nada saia.

O que fizeram comigo? Por que o meu corpo não me obedece? Para onde ele está me levando nessa bolha?

São tantas perguntas que não serão feitas nem se eu forçar.

— Vamos salvar sua mãe, não se preocupe.

Por um lado fiquei feliz em saber que estamos indo para Orbs, entretanto, porque não nos teleportar? O que de fato está acontecendo comigo e com o príncipe?

Estou a ponto de enlouquecer, não consigo retomar o controle de mim mesma e isso tudo é loucura.

— Chegamos.

Onde estamos? Eu quis perguntar e obviamente não consegui.

Meu rosto não demonstrava muita emoção, estávamos entrando em um quarto todo azul e cheio de estrelas brilhantes onde só tinha uma cama, uma enorme cama com uma pessoa deitada.

É a Mayn, quase corri eufórica até ela, se eu conseguisse com certeza teria feito.

Calma e serena, é assim que ela estava. Dou um sorriso e me aproximo acariciando os seus cabelos loiros, sinto tanta falta de ver o brilho no olhar da minha mãe estrela.

Involuntariamente seguro a mão de Sun e juntos fechamos os olhos concentrando os nossos poderes, faço um corte profundo em meu pulso e ergo o meu braço até a testa de Mayn derramando ali o meu sangue.

— Surgit mater stellas.

O corte em meu pulso cicatriza no mesmo instante em que Mayn abre os olhos, tão intensos e brilhantes, me joguei em seu colo a abraçando e chorando muito.

Entretanto eu ainda não estava no controle do meu corpo, somente o meu subconsciente.

— Aguardei ansiosamente o levantar de vocês, agora o objetivo pode ser cumprido — Mayn sorri e eu não entendo nada.

— Com certeza faremos — Sun faz um gesto de reverência e logo abraça a minha cintura.

Não sei porque, mas me senti desconfortável.

Algo nesse "objetivo" me faz sentir calafrios, nem consigo imaginar o que me espera.

Astros: Lua MinguanteOnde histórias criam vida. Descubra agora