Nine in the Afternoon

Capítulo III

Se eu te dissesse que eu estava quebrado, estava quebrado
Você me consertaria?
Se eu dissesse que eu estava no fundo do poço
Você me ergueria novamente?
OneRepublic - Lift Me Up

Os dedos delicados batucaram a mesa de madeira por alguns segundos enquanto a jovem pensava como finalizar aquele relatório. Algumas lágrimas ainda escorriam pelo rosto pálido, resultado das inúmeras lembranças que preencheram a mente e o coração da perolada nos últimos dois dias.

"Parece que minha vida vai ser para sempre resumida a lembranças, sejam elas boas ou ruins." Ela pensou tristemente e anotou os últimos detalhes da missão no papel. Aquele havia sido um trabalho árduo, doloroso e lhe trouxe muitas perguntas e poucas respostas, mas ela estava satisfeita com o resultado. O relatório continha todas as informações cruciais relacionadas a vila que o líder da folha precisava saber.

Hinata levantou da cadeira com um sorriso triste e caminhou até o banheiro para jogar um pouco de água gelada no rosto. Encarou o próprio reflexo no espelho e não se surpreendeu ao notar grandes bolsas escuras embaixo dos olhos claríssimos: o sono não lhe vinha com facilidade, ainda mais depois do encontro que teve no cemitério.

Voltou para o quarto enquanto enxugava o rosto em uma toalha felpuda. Parou ao lado da janela e observou as folhas caindo pelo quintal. Seu coração doía, sua mente continuava confusa e a ninja não tinha nenhuma noção do que fazer com sua vida. Queria seguir em frente, reencontrar os amigos, voltar à rotina confortável que tinha há doze anos atrás.

Mas como?

Todos haviam seguido em frente.

E sem ela.

"Mas talvez..." Pensou e uma pequena fagulha de esperança se acendeu. "Kurenai-sensei!"

Kurenai havia sido como uma mãe para a Hyuuga, sempre zelara pela menina e a ensinara tudo o que podia, muito mais do que apenas os ensinamentos ninjas. Fora Kurenai que incentivara seu amor por Naruto, que a ensinara a seguir em frente mesmo que tudo estivesse contra a ela, que a consolara no momento de maior tristeza de sua vida.

Talvez agora a ex mentora pudesse lhe ajudar mais uma vez.

A morena caminhou rapidamente pela vila, dessa vez não deixando ser notada em meio as várias pessoas que estavam pelo centro. Ao chegar em frente à casa tão conhecida, hesitou ao bater na porta. Sua mente e seu coração estavam aterrorizados com a possibilidade de até mesmo Kurenai ter sido tirada de sua vida.

Ela não soube dizer quanto tempo ficou ali, parada com uma das mãos postas para bater na porta. Poderiam ter sido segundos ou minutos até que um par de olhos carmesins abriu a porta e o coração da Hyuuga disparou, quase descontrolado.

— Hinata... — A mulher sussurrou, os olhos agora enchendo-se de lágrimas, de felicidade ou de tristeza? A jovem não conseguia distinguir. – Minha querida...

Somente quando ela foi enlaçada pelo corpo da antiga professora em um abraço apertado e cheio de carinho que a ninja finalmente pode respirar. E foi como se ela tivesse respirado verdadeiramente pela primeira vez desde que botara os pés dentro de Konoha. Ela tentou falar, mas as palavras ficaram presas em sua garganta.

O tempo havia sido gentil com Kurenai, mas ela ainda podia enxergar as marcas dos doze anos passados.

— Meu Kami-sama... — A mulher suspirou levando as duas mãos ao rosto da Hyuuga e sorrindo. — É um alívio tão grande ver você novamente. Nós pensamos...

A Yuuhi não completou a frase, mas Hinata entendeu. A jovem apenas balançou a cabeça e os lábios formaram um sorriso triste.

Nós pensamos que você estava morta.