Capítulo VII

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O que você diria
Se você pudesse dizer
Tudo o que você precisava
Para quem você precisava?
The Maine - Black Butterflies and Dèjà Vu

Os olhos perolados ardiam levemente e a pele molhada estava arrepiada pelo mergulho rápido nas águas geladas do lago. Nadar sempre fora algo que trazia alguma paz para o coração da princesa do byakugan e era algo que ela tinha feito constantemente nos últimos dois dias. Toda vez que as lembranças que foram engatilhadas durante a reunião ameaçavam sufocá-la, ela caminhava até esse local e deixava que a água levasse embora sua dor.

"Você precisa enfrentar isso, Hina, não fugir." Ino havia lhe dito quando chegaram na residência da Hyuuga após a reunião e, por mais que ela soubesse que a loira estava certa, Hinata sentia medo. Doía demais enfrentar aquilo, doía demais não enfrentar. Quando ela praticamente vomitara o que acontecera para Kurenai, ela sentiu melhor, mais leve, mais confiante que as coisas seguiriam o caminho certo.

Mas bastou um questionamento de uma situação específica e sua mente mergulhou tão fundo em lembranças que ela achou que nunca mais voltaria para a superfície. Se não fosse a ajuda da amiga talvez não voltasse, então era fácil para perolada ter medo do que aconteceria se ela enfrentasse tudo o que acontecera com ela.

Era fácil ter medo de abrir a caixa de Pandora.

"Negar algo não vai fazer com que ele não exista." As palavras de Kurenai passaram por sua mente. "Você precisa conversar com ele."

Ele.

Hinata respirou fundo e mergulhou uma vez mais, segurando o ar embaixo da água até que seus pulmões gritassem por oxigênio. Todos os dias ela pensava sobre o que e como falaria. Ele conhecia o que havia ocorrido na missão de forma geral, é claro, mas não tudo. E ela sabia que Uzumaki Naruto tinha todo o direito naquela verdade.

Ela voltou para superfície e sugou todo o ar que aguentava, respirando rapidamente depois. Quando a ninja abriu os olhos claríssimos encontrou os orbes azuis que tanto fugira nos últimos dias e que tanto preencheram sua mente nos últimos momentos afundada no rio.

— Eu achei... achei que você estaria aqui. — Ele disse tão baixo que, se não tivesse visto os lábios se movendo, poderia ter sido uma ilusão. — Nós precisamos conversar, Hinata, eu...

Mesmo em meio a toda aquela água, ela sentiu a garganta extremamente seca. As palavras estavam presas dentro de si e seu coração batia tão rápido que a ninja receava que ele sairia de seu peito. Suas mãos tremiam e ela sabia que não tinha nada a ver com a temperatura do rio. A ninja nadou até a borda e, num impulso, saiu do rio. A água escorria pelo corpo definido por anos de luta e aquela visão fez com que o Uzumaki engolisse seco. Ele teve que lutar contra a vontade de correr até ela, abraça-la, beija-la, amá-la como se nada tivesse acontecido, como se não existissem doze anos entre eles.

Como se não existisse outras pessoas entre eles.

Ele percebeu cicatrizes novas espalhadas pela pele branquíssima e fechou os punhos com força para refrear a vontade de depositar um beijo em cada uma delas. Seu coração doía, implorando para se aproximar, para esquecer tudo o que passou.

Mas ele sabia que não deveria.

A tensão entre eles era praticamente palpável. Enquanto se secava e colocava a roupa novamente, a Hyuuga sentia o coração palpitando dolorosamente. Seu corpo antecipava o toque que ela enxergava nos olhos azuis e sua mente insistia em escolher lembranças doces de um passado que não existiria mais.

Um ano havia se passado para ela.

Mas doze haviam se passado para ele.

Mesmo após terminar de colocar as roupas, Hinata sentia-se gelada. Seu coração teimava em querer ser abraçado, amado novamente pela pessoa a sua frente e, para refrear aqueles sentimentos ela abraçou o próprio corpo com força, como se aquilo pudesse ser um escudo contra Uzumaki Naruto e seus malditos olhos azuis.

Nine in the AfternoonOnde histórias criam vida. Descubra agora