Capítulo VI

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Reme o barco para terrenos mais seguros
Mas você não sabe que somos mais fortes agora?
Meu coração ainda bate e minha pele ainda sente
Meus pulmões ainda respiram, minha mente ainda teme
Aurora - Running With The Wolves

O último Uchiha se remexeu na cama uma última vez antes de desistir e levantar, caminhando até a pequena varanda que existia no quarto. O sono nunca havia sido seu melhor amigo, mas naquele dia parecia ainda pior. Pesadelos eram comuns em sua vida, mas pelo menos ele conseguia três ou quatro horas de sono, o que não ocorrera naquela noite. A preocupação e lembranças sobre a missão ameaçavam esmagá-lo sem dó.

Ele abriu a porta de correr e fechou os olhos, aproveitando o vento fresco que fazia sua pele desnuda se arrepiar. O céu era uma beleza a parte, ele percebeu quando abriu os olhos, as cores da noite e da manhã se mesclavam como num quadro pintado por mãos habilidosas. Sasuke não se lembrava a última vez que ficara assim, apenas observando a beleza do mundo já que, grande parte de sua vida era apenas lutas, guerras, intrigas.

Sangue.

Inspirou e expirou fundo algumas vezes, ao fundo ele podia ouvir o barulho do trem que cruzava Konoha e seguia em direção a outras vilas. Tanto havia mudado, crescido, evoluído, parte de si se orgulhava de como o melhor amigo cuidava e liderava a vila. Definitivamente Naruto era a pessoa certa para aquilo.

Então Sasuke percebeu algo que nunca havia imaginado ou esperado: havia uma parte dentro de si, a parte negra que vivia escondida no fundo de sua alma, que se amaldiçoava por ter perdido tanto tempo. Ele acreditava que não tinha laço afetivo algum com a vila, já que sua vinculação se resumia ao patrimônio póstumo herdado dos Uchihas, porém, pelo jeito, a vida não era tão clara como o moreno imaginava. Aquela parte negra invejava o Uzumaki pelo o que ele tinha construído, não só em Konoha, mas em sua vida pessoal.

Naruto, novamente, tinha algo que Sasuke não tinha. Carreira, esposa, filhos. Família.

Ele jogou os fios negros para trás e suspirou, entrando dentro do quarto. Seus olhos foram automaticamente atraídos pela pasta que estava em cima do criado-mudo. Ele passara boa parte da tarde de ontem, após a reunião, lendo os documentos sobre o distrito. O que não havia sido destruído na invasão de Pain estava caindo aos pedaços pela negligência. Sua mente viajara em possibilidades, ele pensava em reformar as casas e alugá-las. Fazer aquele lugar algo bom e não somente o lugar onde fora realizado um massacre. Os Uchihas tinham uma boa quantia reservada e, junto com as próprias economias que ele fizera ao longo da vida, ele tinha dinheiro suficiente para a reforma.

Isso era tudo que o jovem tinha em mente sobre o que fazer da sua vida de agora em diante. Sasuke não tinha outros sonhos ou perspectivas. O ódio e a vingança não guiavam mais seus passos e pela primeira vez em muito tempo ele estava completamente perdido sobre como continuar vivendo.

Ele havia dito para Hinata que não tinha nada a perder com os doze anos que foram arrancados deles e, uma sensação esmagadora de tristeza agarrou seu coração nesse momento, infelizmente era a verdade.

Um Uchiha sozinho no mundo.

Ignorando esses pensamentos ele caminhou até o armário e pegou uma roupa casual para passar o dia. Precisava tomar café e passar no mercado para abastecer a geladeira vazia já que algo lhe dizia que, daquela vez, passaria muitos dias em Konoha antes que tivesse que partir novamente.

Com um suspiro, Sasuke trocou de roupa e caminhou pelo pequeno apartamento, colocando as sandálias ninjas que ficavam paradas na porta e saiu. O sol já estava alto, iluminando toda a vila, e ele podia ouvir a conversa animada dos moradores e sentir o cheiro delicioso dos restaurantes e da pequena feira que havia na rua de trás.

Nine in the AfternoonOnde histórias criam vida. Descubra agora