Capítulo IV

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Você entende o modo como nunca seremos os mesmos de novo?
O futuro em nossas mãos e nos nunca seremos os mesmos de novo
Bastille - Things We Lost In The Fire


Ele a encontrou no grande portão de madeira que protegia o clã Hyuuga de visitantes indesejados. O vento balançava os fios longos e escuros e o olhar que ela trazia nos olhos perolados fez com que o coração masculino batesse incomodado. Depois do jantar da noite anterior, Sasuke acreditava que a jovem estava bem, estava conseguindo lidar com as consequências daquela missão e que a conversa com a antiga mentora havia trago algum alivio para o sofrimento que ela sentia.

Sofrimento que ele era, em parte, culpado.

Mas agora, encarando a fisionomia ansiosa e o modo como os olhos claríssimos pareciam desfocados, a preocupação do ex—nukenin apenas aumentou. Hinata sempre colocava os outros a frente de si mesma, sempre tão bondosa, tão altruísta e, no fim, sempre acabava sofrendo com aquilo, física ou emocionalmente. Ele demorou muito para entender a jovem já que colocar as necessidades e vontades de outras pessoas acima das suas era algo que o ninja não estava acostumado.

Sasuke sempre fora, de certa forma, egoísta.

Nas primeiras semanas da missão, o silêncio era predominante entre eles. Não um silêncio desconfortável, a Hyuuga lembrava muito a matriarca Uchiha, o que fez com que fosse fácil e confortável estar na presença feminina, mesmo se só o necessário fosse falado. Foi só apenas após a primeira batalha, e o grande ferimento feminino, que os dois se aproximaram e passaram a formar um elo.

Um elo, ele percebeu, que ele tinha com pouquíssimas pessoas. Sasuke não se apegava facilmente, muitas vezes evitava criar laços pois sabia que eles só levavam a sofrimento, mas a amizade com Hinata nasceu de uma forma tão natural, gradual e confortável que foi só depois de muito tempo que o ex—nukenin percebeu o que estava acontecendo. Era como se ele sempre fosse atraído para a luz que a Hyuuga irradiava, como se a ninja fosse um grande ímã e ele apenas um pedaço qualquer de metal.

E, no fundo de seu coração, Sasuke tinha medo.

Quando a jovem percebeu a presença do moreno, o coração dele apertou involuntariamente pelo sorriso triste que ela lhe direcionou. Apenas um breve bom dia fora pronunciado e eles seguiram em silencio pelo caminho que levava ao principal prédio da vila. A mente masculina era um turbilhão de palavras e sentimentos, se nem a conversa com a mentora e amiga pudera acalmar totalmente o coração ferido o que ele, um ex traidor com nenhum tato com as palavras podia fazer?

Ele suspirou e jogou os fios que teimavam em cair em seus olhos para trás, escolhendo ficar em silêncio e apenas estar ali para ela do mesmo jeito que a ninja tinha feito tantas vezes. Quando chegaram ao destino, e antes que a Hyuuga batesse na porta, ele segurou uma das mãos dela com firmeza, fazendo com que ela o encarasse com os olhos perolados cheios de dúvida e dor.

— Nós podemos sair daqui a qualquer momento. – As palavras saíram um pouco mais sérias do que ele pretendia. – Você sabe, eu tenho certa habilidade em fugir de vilas.

Os olhos claríssimos se arregalaram e o olharam como se ele fosse louco, mas ao perceber o pequeno sorriso de lado que o ninja mostrou, a Hyuuga balançou a cabeça e sorriu brevemente.

— Obrigada, Sasuke. – Ela disse baixinho, apertando a mão masculina uma última vez antes de virar para a porta de madeira e respirar profundamente, deixando o ar fresco preencher seus pulmões e prepara—la para o que estava por vir.

Quando os dedos delicados bateram na porta de madeira polida, ela achava que estava pronta. Pronta para encarar o ex—noivo, para enfrentar as consequências daquela missão e seguir em frente, mas, quando a voz masculina preencheu seu ouvido, o coração disparou e a mente se perdeu por alguns segundos em memórias felizes e tristes. Foi só ao sentir outro breve apertão da mão do último Uchiha que a jovem engoliu seco e finalmente abriu a porta.

Nine in the AfternoonOnde histórias criam vida. Descubra agora