Na sombra do Onipotente

V

- Antes de falar minha filha preciso saber de Jade como foi que a abandonaram em Marcóvia? - mamãe pergunta e vejo minha amiga se endireitar na cadeira, acredito que ela achava que a parte dela nessa história não seria interessante.

- Fale Jade, você é importante para todos nós. - digo e ela sorri para mim.

- Eu não lembro de muita coisa, lembro que vivia em um lugar fechado cheio de jaulas e em cada jaula tinha uma criança, nós nunca saíamos de lá para nada e a minha jaula não dava para estirar as pernas e as minhas doíam, as vezes vinha um homem e levava alguma criança ou trazia mais. Um dia um homem veio me buscar dizendo que chegou a hora e me levou para um lugar distante, quer dizer eu acho que era distante. Fui colocada em uma nova jaula e uma mulher cuidava de mim, eu tinha ferimentos dos bichos do lugar onde eu estava, eles picavam e eu não podia me mexer muito. 

- Meu Deus como você sofreu minha filha. - mamãe fala a puxando para perto de si como se quisesse proteger.

- Um dia eu acordei com a mulher me chamando e pedindo para eu ir com o homem que estava com ela, me soltaram da jaula e eu o segui floresta a dentro, não lembro o que aconteceu só lembro que quando eu vi estava minha mãe me abraçando e chorando, como que eu cheguei aqui eu não sei dizer.

- Acha que drogaram ela? - papai pergunta.

- Eles drogam as crianças sim, mas acredito que ela tenha dormido na viagem, é um navio de carga quem me trouxe e talvez tenha vindo nele também.

- Eu acredito que o rapaz seja um anjo, mas não explica o navio e ele não agir só, como essa mulher que cuidou da Jade. - papai diz e faz sentido o que ele pensa.

- São amonitas infiltrados nos hebronitas. - digo e todos me olham assustados. - É simples Hebroni é um país dividido pois o rei Cazi era o segundo a sucessão do trono em lugar de seu irmão. Antes o país se chamava Amoni e quando o pai deles morreu o rei Cazi queria matar o irmão pela coroa e alguns países esconderam o irmão dele, ele sabendo que não conseguiria matar o irmão e ficar com tudo começou a dividir o povo usando o fator religião, os que eram adoradores de Maloch o serviriam como rei até que esse deus iria escolher um rei substituto e ele passaria a coroa, assim foi criado Hebroni.

- Quem não servia a esse deus? - mamãe pergunta.

- Eram os ateus que passaram a ser os amonitas e que antes disso tudo diziam que era um país ateu e tinha um grupo grande adorando Maloch. Os amonitas foram discipulados por um grupo de cristãos e deixaram de ser ateu para crer no nosso Deus, claro que uma minuria ainda era ateu. - digo e eles estão pasmos.

- Então esses cristãos amonitas se infiltraram dentro do reino e salvavam as crianças? Eram muitas crianças?

- Eles viviam raptando crianças de todas as idades para sacrificar a Maloch. - vovó respondeu.

- Eu tive uma sorte melhor que Jade eu vivia no palácio e era cuidada por Indira que eu gostava. Ela mandou fazer um balanço debaixo de uma árvore e as vezes me deixava brincar lá, foi quando um dia eu vi uma luz semelhante a que vovó falou, fiquei sentanda no balanço olhando e parecia que ela me envolvia e me penetrava foi quando eu disse: Se não for pedir muito gostaria que essa luz sempre me acompanhasse.

- Era a presença de Deus. - mamãe diz e eu confirmo com a cabeça.

- Mas eu só soube disso quando Indira me pegou falando só e ao me questionar com quem eu falava ela me disse que minha mãe pregava um Deus invisível e que se fazia presente em todos os lugares porque ele era Onisciente e Onipotente.

- Se ela guardou no coração tudo que aprendeu aqui, como ainda era do lado mal?

- Mãe ela era do lado deles sim, mas acredito que o apego que ela teve por mim a mudou lentamente, fico feliz de saber que ela pode estar na glória.

- Eu penso que se não fosse ela lá o que seria de nossa Sofia? - vovó fala e eu concordo.

- Não é porque ela era uma feiticeira que Deus a rejeitaria, ele me usou para ganhar ela para Ele.

- Você presenciou ela fazer feitiços? - papai perguntou.

- Eu presenciei algumas coisas sim, mas nada envolvendo ela, porém nas instruções ela me dizia como ia ser meu futuro.

- Tipo ela dizia que você ia ser salva e vir para casa?

- Não o futuro se eu tivesse ficado lá para ser a noiva de Moloch.

- Não sei se quero ouvir mais, com licença. - minha avó disse e eu a abracei grata por ter vindo. - Eu sofro sabendo que sofreu. - ela diz em meu ouvido e eu a beijo com carinho.