Pierre narrando...
Nunca imaginei que minha vida fosse uma farsa e pior, que mudaria da noite para o dia. Eu pensava ser filho do rei Cazi, que minha mãe havia morrido quando eu nasci. Fui criado no castelo dele sendo chamado seu filho, embora nós dois nunca termos sido próximos, eu não tive carinho e até conhecer meus pais verdadeiros não imaginei que isso fosse me fazer falta. Procurei minha vida inteira agradar ele não para ser reconhecido ou receber elogios, mas para não ser punido mesmo. Lembro que sempre me diziam que eu não podia cometer erros por ser "o escolhido" que tinha que ser o melhor em tudo e por muito tempo eu vivi para isso.
Minha vida só mudou um pouco quando eu conheci o cavaleiro misterioso, chamado assim por não querer revelar seu nome a ninguém, embora eu saiba que ele guarda um grande segredo os anos passados perto dele nos encontrando escondido na floresta não me deram o direito de especular sua vida. No dia que nos conhecemos foi uma situação constrangedora para ambos eu o peguei fugindo com duas das crianças que iam ser sacrificadas, em média vinte crianças eram sacrificadas por mês para Maloch, ele me olhou assustado imaginando que eu faria um escândalo por ser o príncipe e quando o tranquilizei que não faria nada só queria saber o motivo dele ter tirado elas do meio das outras, ele me contou parte de sua missão e passei ajudar, até porque eu era totalmente contra ao sacrifício. Houve vezes que desejei estar longe e não ver tudo que eles faziam. Passei a possuir duas faces uma de menino mal aos olhos do Rei Cazi e a outra de salvador junto com o cavaleiro.
Foi quando eu estava de castigo na torre (coisa que sempre acontecia) que eu conheci a Sofia, ela era linda como um raio de sol e criou-se em mim um sentimento de proteção por ela que chegava a fazer loucuras, para a proteger de presenciar tudo que eu presenciava e também de ficar perto dela. Não sabia que o que sentia por ela era amor, até que Suzie me disse.
Passei uns dois anos planejando tirar ela dali e entregar ela a sua família, no dia da nossa fuga eu estava nervoso e me sentindo estranho por deixar um lugar que sempre foi meu lar, mas eu precisava fugir e conhecer minha raiz, saber quem eu deveria ser e o rei Cazi me privou disso. Eu me esforcei e fiz o que deveria fazer principalmente por ela, precisava que tudo desse certo para vê-la longe de sua prisão. Fiz ela me prometer que um dia nos casaríamos e a embarquei no pequeno barco que iria lhe levar até sua felicidade, torcendo é claro que ela não me esquecesse.
Quando as duas embarcações saíram do cais, fomos atacados pelo pequeno exército do rei Cazi e quando o cavaleiro viu que eles apontaram o canhão para nosso barco, pulamos no mar a tempo de se afastar do barco antes de explodir, vi que o dela estava bem longe em segurança e nadei sentido contrário do porto para despistar os soldados. Ao chegar na França após muitos dias viajando em uma pequena carruagem que me foi arrumada, me deparei com uma realidade que não havia parado para pensar, era tudo totalmente diferente de tudo que vi e sabia. Meus pais verdadeiros eram completamente diferentes da referência de pai que eu tinha, minha mãe tentava tanto me agradar que se tornava chata, mas eu não a maltratava ou renegava não, sempre pensei que ela estava tentando seu melhor. Sei que eles também sofreram, mas isso não me impediu de começar a fugir, ou seja, eu me escondia deles o tempo todo para não estar no mesmo ambiente; passava horas trancado em meu próprio quarto e até as refeições eu fazia por lá, evitando me aproximar para eles não perceber que eu me sentia como um peixe fora d'água. Foi quando eles tiveram a ideia de trazer minha única prima para o castelo, ela tinha a missão de me socializar, eu gostava dela, mas as vezes ela me sufocava e então resolvi também a ignorar o que foi um trabalho em vão.
Suzie se aproximou de mim e confessou que sabia de tudo que eu passei, que minha mãe havia dito até de Sofia para ela e ela começou a me fazer perguntas como se minha história fosse um conto de fadas. Ela se tornou para mim uma amiga, com ela eu podia dizer como me sentia e falar de Sofia, só nunca contei que queria casar com ela. Com Suzie eu aprendi a me portar no meio da realeza francesa e também era obrigado por suas chantagens a sentar na mesa em todas as refeições. Mas só hoje depois de conversar com Sofia, que percebi que fui um completo egoísta e não soube valorizar o que tinha.
Agora estou aqui deitado na cama olhando o teto e pensando como vou ser amigo de meu pai? Como aceitar os excessos de carinhos de mamãe? Claro que eu gostaria de estar à vontade com eles, mas travo ao chegar perto, travo ao tentar falar com eles. Podem me chamar do que quiserem, mas me digam como devo agir para deixar de ser esse garoto fechado e sério que me tornei.
Batidas na porta me tiram da minha conversa com o lustre, levanto e vou ver quem bate com tanta urgência. Ao abrir vejo meus pais ali, visivelmente constrangidos me olhando como sempre, com cautela e preocupação.
- Aconteceu algo? – Pergunto abrindo espaço para que entrem.
Eles se olham e meu pai tempera a garganta como sempre faz quanto trata de algo importante, isso é uma coisa que já pude observar nele.
- Filho é que nós achávamos que ao ver a sua amiga você fosse ficar mais feliz. Sua prima, no entanto, nos disse que a evitou o dia todo e está trancado nesse quarto faz muito tempo já. – Ele olha para mamãe e ela assente então sei que é a vez de ela falar, só vou ouvir e ver até onde querem ir.
- Sabe que só queremos seu bem, te amamos muito e para nós é uma situação difícil não saber como ajudar você a se acostumar conosco. Temos paciência e isso é bom, sei que passou por coisas ruim, mas agora é passado nada vai voltar como era antes.
- Mãe eu estou bem, até peço perdão a vocês dois por não estar facilitando as coisas, mas como disseram eu passei por muita coisa e tudo que eu achava que era meu não é, chegar na França e conhece-los foi totalmente surreal para mim, é como se eu estivesse em um livro e tivesse sido transferido para outro. Não posso dizer que os amo, mas sinto carinho por vocês, me tranco muito e fico isolado com medo de os machucar ao esperaram ser o filho que vocês sonharam e receberam um traumatizado e cheio de feridas internas. – Tento me abrir, mas é tão difícil.
- Podemos ajudar de alguma maneira? – Papai pergunta e eu consigo sentir o amor que eles têm por mim.
- Podem me perdoar e continuar tendo paciência comigo? – Pergunto.
- Claro meu amor. – Mamãe fala e com um gesto pergunta se pode me abraçar e eu deixo.
Abraçado a minha mãe parece que se rompe uma barreira dentro de mim e sinto o quanto eu senti falta disso. Nunca havia sentido uma necessidade tão grande de estar perto de alguém como hoje.
- E a princesa? Posso falar com o pai dela sobre casamento? – Papai pergunta.
- Eu e ela decidimos ir devagar pai, vamos deixar as coisas acontecerem, a vida dela também mudou muito, mas não desisti do casamento, talvez depois do baile dela quem sabe. – Digo pensativo e eles sorriem para mim.
- Janta conosco?
- Claro mãe e por favor digaa metida da minha prima que eu estou bem. – Ela sorri e passando a mão por meuscabelos iguais ao dela me beija na testa e se vai com o homem ao qual eu queriaque tivesse me servido de espelho na infância.
Quando os dois se retiram vou até a varanda e fico olhando para onde Sofia está abraçando uma jovem e sua avó.
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Na sombra do Onipotente
SpiritualSofia a filha mais velha do imperador da Mongovia foi sequestrada por uma religião que odiava seus pais por serem cristão. Vamos saber o que essa menina sofreu e como chegou até seus pais. Uma coisa é certa ela vivia a sombra do Deus todo poderoso.