¹¹ || Para alguns, sou tido como anjo, mas para outros...

3.4K 282 120
                                        

  

      Liguei o chuveiro, deixando a água cair com força, mas ainda assim permaneci de frente para o espelho, incapaz de desviar o olhar das terríveis marcas de sangue que agora manchavam não apenas minhas roupas caras, mas também minha consciência

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.


      Liguei o chuveiro, deixando a água cair com força, mas ainda assim permaneci de frente para o espelho, incapaz de desviar o olhar das terríveis marcas de sangue que agora manchavam não apenas minhas roupas caras, mas também minha consciência.

     Não era a primeira vez que testemunhava a fragilidade humana, mas nunca antes havia tido importância, tão próxima de mim… Lauren, com sua estrutura aparentemente frágil, parecia conter dentro de si uma fortaleza invisível, uma coragem que eu mal podia compreender. Como alguém tão aparentemente vulnerável poderia ser tão forte? Era um paradoxo que me atormentava enquanto tentava limpar o sangue e a lama que agora maculavam não só minhas roupas, mas também minha alma.

     Eu não deveria me importar. Desde o primeiro momento em que meus olhos pousaram sobre ela, decidi que jamais me importaria com um ser tão inferior a mim. Mas, ali estava eu, sentindo-me desconfortavelmente perturbado com a ideia de que a ferira. Com a ideia de que ela estava ferida.
Por que eu me sentia assim? Por que a simples visão daquele sangue me causava uma confusão interna tão grande? Era como se algo dentro de mim estivesse começando a se despedaçar, a revelar uma vulnerabilidade que eu não sabia que existia. E isso começou a me assustar.

     Rasguei as roupas do meu próprio corpo, evitando os pedaços que caíam no chão, e me afundei debaixo do chuveiro. A água desabava sobre mim, tão quente quanto minhas próprias emoções. Uma tentativa vã de me livrar daquele peso insuportável que se empilhava por dentro.
Cada gota que tocava minha pele parecia arrancar de mim uma parte do meu próprio controle. Eu era feito de gelo, mas ali, sob aquele chuveiro ardente, eu começava a derreter. As lágrimas se misturavam com a água, tornando impossível distinguir onde uma terminava e a outra começava.
Tentei ignorar, tentei afastar aquela sensação de fragilidade, mas era como lutar contra uma maré furiosa.
Houve ocasiões em que minha vontade era abrir a porta e levá-la de volta, não nego. Outras em que desejava ardentemente tê-la ao meu lado. Outras em que ansiava apenas por vê-la distante de mim. Mas agora, se essa fosse a verdade, espalhada no lugar onde não pertencia, até eu fugiria.

     Após o banho, envolto apenas em uma toalha, caminhei até o guarda-roupa, para me vestir com roupas sem seu cheiro e suas marcas, mas a confusão dentro de mim não cessava.
Era como se seus olhos melancólicos e torturantes estivessem dilacerando-me lentamente, como um sádico sedento por sangue. A loucura não cabia naquela garota, mas em mim, que a feria sem que ela soubesse o motivo ou a razão. Era eu que a conduzia a pensar em um destino miserável e cruel, por nada.

   — Merda! — Um grito profano escapou de meus lábios, ecoando pelas paredes do quarto. Sem pensar, avancei em direção à grande cômoda, onde repousavam garrafas de vinho e whisky. Com um único movimento violento, derrubei tudo ao chão, ouvindo o som estilhaçante do vidro se quebrando em mil pedaços. A raiva pulsava em minhas veias, uma tempestade que precisava encontrar uma saída. Cada garrafa que se despedaçava no chão parecia aliviar um pouco da pressão que sentia dentro de mim. Mas mesmo assim, a confusão persistia, e o vazio deixado por ela apenas crescia.

MEᑌ ᗪOᑕE CᗩTIᐯEIᖇOOnde histórias criam vida. Descubra agora