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A chuva batia contra as janelas como dedos impacientes, enquanto trovões distantes rompiam o silêncio da noite. Cada relâmpago iluminava brevemente o saguão sombrio, jogando sombras nas paredes. Parei de pé no primeiro degrau da escada, os olhos fixos na porta, o frio da noite se infiltrando pela madeira antiga, tentando me alcançar.
A água escorria pelo telhado, caindo em cascatas furiosas. Era como se o céu estivesse desmoronando, cada raio iluminando brevemente a paisagem lá fora, revelando as árvores retorcidas pelo vento e o caminho lamacento que se estendia diante da propriedade. Um frio cortante se enroscava ao meu redor, mas a verdadeira frieza vinha de dentro, de algo muito mais profundo do que a noite lá fora.
A expetativa pendia no ar, tensa como uma corda prestes a romper, e eu senti aquele velho nó se apertar no meu peito. Não era arrependimento — não, eu tinha me livrado dessa fraqueza há muito tempo. Era a sensação de um ciclo se fechando, de um plano que enfim chegava ao seu clímax. Mas nem mesmo a certeza desse momento conseguia aliviar o peso que carregava nos ombros.
Eu me perguntava se Lauren sabia que algo estava para acontecer. Se ela pressentia que, em algum lugar nos corredores sombrios daquela casa, os fios de seu destino estavam sendo puxados por mãos que não eram as dela. Mas essas reflexões não faziam diferença agora. A escolha já havia sido feita, por ela e por mim, e tudo o que restava era aguardar pela conclusão.
O relógio marcava pouco mais de onze e meia da noite quando os faróis do carro atravessaram a cortina de chuva, iluminando a estrada lamacenta por alguns instantes. Observei enquanto o veículo se aproximava, cada metro percorrido até a porta de entrada trazendo consigo um misto de alívio e apreensão. E uma sombra que sempre me acompanhou, e que agora, diante do que estava prestes a acontecer, parecia sussurrar mais alto em meus ouvidos.
Quando o carro parou diante da casa, a porta do motorista se abriu, revelando uma figura envolta em um sobretudo escuro, sua silhueta recortada pelos relâmpagos que iluminavam a noite. Ele desceu, os passos afundando na lama enquanto caminhava até mim, e eu me movi para abrir a porta, recebendo-o no abrigo seco do saguão.
Por um momento, nos entreolhamos, os pingos de chuva escorrendo pelo rosto dele, enquanto a água formava uma poça aos seus pés. Sua expressão era séria, olhos de um azul gélido que não revelavam nada além de um pragmatismo brutal. E então ele quebrou o silêncio, sua voz soando baixa, mas com uma firmeza que perfurava a atmosfera pesada da sala.
— Ela está pronta?
Eu não respondi imediatamente. Passei os olhos pela silhueta dele, o rosto levemente encoberto pela aba do chapéu encharcado, e percebi que a sensação de desassossego que carregava não vinha dele, mas de mim. Era o confronto entre o que eu tinha que fazer e a pequena chama de dúvida que insistia em arder, escondida entre as sombras de meus pensamentos. Mas eu a apaguei, como já havia feito tantas vezes antes.