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Dez anos atrás, ao encontrar Emily gravemente machucada, minha mãe estava em pânico, tentando, sem sucesso, lidar com a situação. Eu fiquei lá, imóvel, os olhos fixos nela, até que algo profundo e esquecido no passado se despertou dentro de mim. Eu já havia socorrido um animal ferido antes, por que não minha irmã também?
Sem refletir, avancei e toquei sua perna, sem saber ao certo o que faria. Enquanto minha mãe estava distraída ao telefone, tentando obter ajuda, Emily começou a se acalmar de forma tão repentina que parecia impossível.
A dor que antes dominava seu rosto desapareceu, mas, na mesma instantaneidade, a dor que ela sentira se transferiu para mim. Senti-a pulsando através de mim, pesada, insuportável, como se fosse uma carga impossível de carregar. Era como se aquela dor nunca pudesse ser completamente superada, como se fizesse parte de mim. Mas eu engoli o choque, e fingi apenas um mal estar. Minha mãe, ao ver a cena, ficou aterrorizada, mas, em sua angústia, escolheu o silêncio, mantendo aquele segredo entre nós, como algo que nunca deveria ser falado.
Foi a mesma técnica que usei em Anthony ao vê-lo caído, gritando de dor ao lado de um corpo. A cena parecia tirada de um pesadelo: sangue espalhado pelo chão, a chuva batendo contra as janelas como um lamento, e Anthony ali, curvado, as mãos cravadas no peito, a dor escancarada em seu rosto.
Naquela tarde, o frio rastejava pelos cantos desde o amanhecer, como uma presença que nunca deixava os cômodos realmente vazios. Amaia, sempre diligente, ofereceu-me uma xícara de chá fumegante, o vapor subindo em espirais preguiçosas. Seu olhar, entretanto, era mais morno do que reconfortante, como se me estudasse em silêncio, procurando algo que eu mesma não sabia possuir.
Bebi o chá sem questionar, sentindo o calor tímido deslizar pela garganta, mas logo um peso doce começou a envolver meus sentidos. Um sono inesperado instalou-se, pesado e inevitável, convidando-me a deitar na cama. Não lutei. O tecido frio e áspero parecia se moldar ao meu corpo enquanto o mundo começava a escurecer. Então veio o som.
No início, parecia um lamento distante, algo que o vento poderia carregar pelas frestas da casa velha. Mas cresceu. Uma agonia, profunda e pulsante, reverberando pelos corredores, como se as próprias paredes estivessem acordando comigo. Meu corpo gelou antes que eu pudesse abrir os olhos. Não era possível dizer se o grito vinha de dentro da casa ou de dentro de mim.
Sem pensar, deixei o quarto. O corredor parecia mais longo, as escadas mais íngremes, e o som daquele grito, agudo e terrível, me guiava como se fosse uma corda presa ao meu peito. Quando o encontrei, ele estava ali, imóvel, mas desfeito.
A dor em seu rosto era quase viva, uma presença que preenchia o espaço entre nós. O mundo lá fora desapareceu. Não havia mais casa, mais luz, mais frio — só Anthony e aquela dor, tão vasta que parecia ecoar dentro de mim. E, mesmo sem saber como, compreendi que precisava tomá-la para mim. Eu sabia o que ia acontecer, sabia que o preço seria alto, mas fiz mesmo assim. Não era coragem, nem amor, talvez nem desespero — era inevitabilidade, tão fria e sólida quanto a pedra sob meus joelhos. Ao me inclinar para ele, o ar ficou denso, pesado demais para respirar. Minhas mãos, trêmulas como folhas no vento, vacilaram antes de tocá-lo. Por um instante, Anthony parecia menos real, como se a dor o estivesse apagando. Quando meus dedos encontraram sua pele, o mundo pareceu parar. A dor nos olhos dele — tão insuportável, tão humana — escoou para dentro de mim como uma enchente sombria, carregando cada vestígio do que eu era. O peso era insuportável, mas eu sabia que não havia volta.