⁶⁴⁷⁶ Words
Os dias que se seguiram foram envoltos em quietude. Não houve grandes eventos, nenhuma reviravolta dramática ou uma descoberta. Eu me aproximei mais da família de Anthony, especialmente de Amélia, cuja leveza era uma distração bem-vinda. Ela era um furacão de energia, o tipo de pessoa que fazia com que o tempo passasse rápido, preenchendo o ar com risos e conversas triviais que, por algum motivo, me confortavam. Era como se, ao seu lado, eu pudesse fingir, ao menos por alguns momentos, que tudo era simples.
Enquanto Christian... Ele se tornou uma presença constante. Havia algo nele que me intrigava, algo em suas palavras e olhares profundos que me puxavam, como se ele tentasse entender algo em mim que eu mesma ainda não compreendia. Ao contrário de Anthony, Christian era mais direto, mais aberto. No entanto, o mistério em seus olhos parecia quase tão denso quanto o silêncio de seu irmão.
Mas Anthony... Ele estava sempre ali, como uma sombra, sempre observando. Eu sentia seus olhos sobre mim, embora raramente os encontrasse. Havia algo nele que me deixava inquieta, como se ele estivesse sempre à beira de dizer ou fazer algo que mudaria tudo, mas nunca o fazia. Ele me seguia com o olhar de uma maneira que fazia o tempo se alongar, pesado e carregado. Era como estar constantemente à beira de um precipício, sem nunca saber quando — ou se — iria cair.
Às vezes, eu notava seu olhar de relance, complexos, reprimidos, como se minha presença causasse um conflito interno que ele lutava para compreender. Nunca se abriu sobre isso, tampouco perguntei. Preferi me apegar ao silêncio entre nós, fingindo que era algo suportável.
Então o dia da celebração havia chegado com um silêncio denso, como se o próprio tempo estivesse aguardando. Amélia deixou a caixa no quarto com um sorriso cúmplice, o som suave de seus passos desaparecendo no corredor. A expectativa pairava no ar. Eu respirei fundo antes de abrir a caixa, como se estivesse prestes a revelar algo muito mais profundo que um simples traje.
E ali estava ele — o vestido que parecia feito de sombras e estrelas. O tecido, uma seda que mal pesava em minhas mãos, era de um azul profundo, quase negro, refletindo uma luz suave que parecia vir de algum lugar além das janelas do quarto. Era o tipo de cor que capturava o crepúsculo, aquele momento exato em que o dia morre e a noite começa a dominar, como se o próprio mistério estivesse costurado na trama.
O decote era elegante, delicado, um corte perfeito que realçava a curva dos ombros e do pescoço, deixando a pele exposta, pálida contra a escuridão do vestido. A saia deslizava suavemente sobre meus quadris, fluindo ao redor das minhas pernas com a leveza de uma brisa noturna, quase como se o tecido estivesse vivo, acompanhando cada pequeno movimento que eu fazia.
Havia detalhes preciosos ao longo da cintura, um cinto fino de cristais que cintilavam como pequenas estrelas, sutis, mas presentes, dando um brilho quase imperceptível, como se fosse um segredo que apenas a noite conhecesse. E os sapatos... uma obra de arte em si. De um prateado fosco, os saltos altos faziam-me parecer flutuar, enquanto o detalhe das tiras finas ao redor dos tornozelos lembrava-me grilhões, belos e inevitáveis.
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MEᑌ ᗪOᑕE CᗩTIᐯEIᖇO
RomanceSᴇus oʟнos, ʟáʙιos, cᴀʙᴇʟos, ᴇɴтʀᴇʟᴀçᴀᴅos coмo ᴘᴇʀsoɴᴀԍᴇм ᴇм uмᴀ ᴘᴇçᴀ ᴅιvιɴᴀ, ʟᴀɴçᴀʀᴀм-ɴᴀ ᴀ uм ᴀʙιsмo ᴅᴇ ᴅᴇsᴇנo ᴀʀᴅᴇɴтᴇ. No ᴘʀιмᴇιʀo oʟнᴀʀ, o coʀᴀção ᴅᴇʟᴀ, ouтʀoʀᴀ sᴇʀᴇɴo, ᴅᴀɴçou ᴀo ʀιтмo ᴅᴇ uм ᴀɴנo, ᴀʟнᴇιᴀ ᴀo ғᴀтo ᴅᴇ Quᴇ ᴀтé мᴇsмo cʀιᴀтuʀᴀs ᴀɴԍᴇʟιc...