²² | | Vamos para casa

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⁴⁰⁰⁵ Words

       Antes que o tempo desabe por completo, corremos desesperados em busca de abrigo, acreditando que podemos escapar das primeiras gotas

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       Antes que o tempo desabe por completo, corremos desesperados em busca de abrigo, acreditando que podemos escapar das primeiras gotas. Há um frenesi, um pânico silencioso, como se o céu cinza nos desse tempo para fugir. Mas nem todos têm essa sorte. Alguns são capturados no exato instante em que hesitam, presos no meio do caminho, entre a esperança e o açoite cruel do temporal. Olham para o céu, incrédulos, como se os avisos não fossem suficientes, ou talvez, simplesmente, não haja refúgio por perto. E então, impiedosa, a tempestade desaba — não perdoa, não espera, apenas consome tudo em sua fúria.

   E eu fui consumida. Não pela chuva comum, mas por uma tempestade de olhos dourados, tão intensos quanto o sol se despedindo do horizonte, trazendo consigo a promessa de escuridão. Lábios vermelhos, como amoras prestes a ceder à gravidade e se esmagar contra a terra, me puxaram para um caos irresistível. Fui pega pelo temporal, e por muito tempo, amei o inverno—aquele frio que trazia paz, isolamento—até que ele, sorrateiro, invadiu meu lar, transformando meu refúgio em uma prisão. Lá, onde eu acreditava estar segura, ele me afogou lentamente, e o frio, que eu tanto amava, tornou-se meu carrasco.

   Então percebi que estava perdidamente apaixonada por Anthony Ergen. Mas, se fosse honesta comigo mesma, cada pulsar desse sentimento era, na verdade, uma assinatura silenciosa no contrato da minha própria ruína. Amar Anthony não era apenas ceder ao desejo, era me entregar de corpo e alma a algo que, desde o início, prometia devastação. Cada olhar, cada toque, trazia consigo uma sensação de que, ao me aproximar, eu caminhava direto para o precipício — e ainda assim, eu não conseguia parar.

   Encontrei o jardim e nem sei como. Eu não estava pensando, respirando, só tentando escapar. Retirei os sapatos e os joguei longe, bem como fiz com o colar que ele havia me dado.

   O chão frio mal fazia sentido sob meus pés, enquanto o ar da noite parecia denso demais, sufocante. As lágrimas vinham sem controle, queimando meu rosto, mas a outra dor era mais profunda, como se algo dentro de mim estivesse sendo arrancado à força. A imagem de Anthony, seus lábios nos dela... não saía da minha cabeça. Cada segundo, cada movimento, cada toque deles…

   — Como eu me deixei levar até aqui… como eu deixei isso me acontecer? — Minha voz tremia, mas eu não conseguia parar de falar, as palavras desabando, como uma confissão amarga que eu já não podia mais manter escondida. — Eu fui tão cega... tão estúpida.

   Meus soluços pareciam ecoar pelo silêncio do jardim, em meio à minha agonia, ouvi passos urgentes se aproximando. Não precisei me virar para saber que era Christian. Ele sempre estava por perto, sempre observando, mas desta vez foi o único a me ouvir.

   Quando parei de andar, o som dos seus passos cessou atrás de mim. Olhei para o céu, tentando controlar a respiração, mas sentia sua presença se aproximando, suave e cuidadosa.

MEᑌ ᗪOᑕE CᗩTIᐯEIᖇOOnde histórias criam vida. Descubra agora