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Os dias se arrastaram com a lentidão de uma lesma. Cada minuto mais lento que o anterior. Desde aquele incidente na biblioteca, uma estranha frieza surgiu entre Anthony e eu, um abismo silencioso que parecia alargar-se a cada dia. Eu não conseguia entender o motivo, mas o fato é que ele me evitava. O silêncio entre nós tornou-se um muro invisível, crescendo em altura e espessura a cada olhar desviado, a cada tentativa fracassada de diálogo.
Naquele momento, enquanto arrumava minhas coisas na mala, a sensação de desamparo se tornava quase intolerável. As roupas eram cuidadosamente dobradas e organizadas, mas a minha mente estava longe, vagando pela memória do olhar triste de Anthony e tentando encontrar um sentido para seu comportamento distante.
Até que, um suave bater na porta me arrancou dos pensamentos turvos, seguido pelo som suave da maçaneta girando. A porta se abriu com um leve ranger, revelando a figura de Amaia, com seu sorriso caloroso e maternal.
— Pensei que podias precisar de ajuda com a mala. — disse ela com a suavidade de um abraço não dado, seus olhos refletindo um carinho sincero e atencioso.
Nas mãos de Amaia, repousavam algumas roupas de frio elegantemente dobradas, a precisão de sua arrumação demonstrando anos de experiência e um cuidado minucioso. As peças eram de uma elegância clássica, feitas de tecidos finos, adornadas com rendas delicadas e bordados sutis, cada detalhe sugerindo uma promessa de calor e aconchego. Sua presença iluminou a sala escura da minha mente, um raio de sol infiltrando-se pelas frestas de uma janela fechada.
— Oh, Amaia, eu estava quase terminando. Você não precisava se incomodar — murmurei, tentando esconder a inquietação que se escondia por trás do meu sorriso forçado. Amaia se aproximou, seu olhar mesclando compreensão e uma ternura que sempre me confortou.
— Incomodar-me? — ela repetiu, seu sorriso se alargando, o sotaque acentuando a musicalidade das palavras. — Nunca, querida. É um prazer ajudar-te. Além disso, quero ter certeza de que estarás bem preparada para o frio de outro ambiente. — disse ela, sua voz uma melodia de cuidado.
Ela começou a desembalar as roupas com um gesto ágil, dobrando corretamente cada peça e colocando-as com cuidado na mala. Havia algo tranquilizante na forma como ela manuseava cada item, e eu observei com um misto de deslumbre e alívio. Confesso que não tive coragem de pedir ajuda a ela.
— Falando assim, parece até que estou indo para um campo de batalha. — brinquei. Amaia riu suavemente, mas logo sua expressão se tornou séria, sua voz adquirindo uma tonalidade de advertência.
— A vida, às vezes, é uma batalha, não? — disse. — Não te preocupes com a família do senhor Anthony, são boas pessoas. Mas há sempre desafios em qualquer lugar, coisas que não se vêem à primeira vista.
