¹³ || Uma carta de casa

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  ⁴⁴⁴² words

     — A quanto tempo está aí? — Perguntei a ela, debruçada sobre o parapeito da sacada

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     — A quanto tempo está aí? — Perguntei a ela, debruçada sobre o parapeito da sacada. Tão linda como um encaixe daquele anoitecer, com aqueles olhos que sempre foram um farol na minha escuridão.

     Não esperou que eu me aproximasse dela, tomou a iniciativa e encurtou o espaço entre nossos corpos. Seu toque era suave, uma carícia que tentava apagar todas as cicatrizes que eu trazia. Havia sempre uma mistura de esperança e desespero no ar, como se ambos soubéssemos que nosso amor era tanto uma salvação quanto uma condenação. Ou era algo que somente visto por mim?

   — Dance comigo? — Pediu.

   — Mas não há música para dançar. — Sorri,  procurando pela música em ausência.

   — Não há? E os tambores que são nossos corações tocados pela energia do que sentimos? — Um riso envolvente escapou de seus lábios onde frisei meus olhos. Tão vermelhos quanto cerejas. — Não é música o suficiente?

     Convencido por suas palavras como sempre, estendi a mão para ela. Ela aceitou com um sorriso satisfeito, como quem sempre consegue o que deseja.
Começamos a dançar naquela sacada, beijada pelo vento frio que soprava naquele lugar, carregado de sussurros, recheados com os gritos dos perdidos.

   — Você está magnificamente linda.

     Ela riu novamente, um som suave e melodioso que parecia aquecer até o vento mais frio. Enquanto nos movíamos lentamente, o mundo ao nosso redor desaparecia. Era apenas nós dois, dançando sob a luz tênue do crepúsculo, embalados pelo ritmo silencioso de nossos corações.

     Nossos passos foram hesitantes no início, mas logo encontraram uma harmonia natural. Cada movimento, cada giro, era um reflexo da intimidade que compartilhávamos. Seus olhos, sempre tão brilhantes, estavam fixos nos meus, como se procurassem desvendar todos os segredos que eu ainda não tinha coragem de revelar. Mas até eu me perguntava, o que ela ainda não sabia sobre mim?

     A noite avançava, e com ela, as sombras se alongavam. Os sussurros dos ventos traziam memórias esquecidas, vozes do passado que ecoavam na escuridão, condenadas. Senti um arrepio percorrer minha espinha, mas seu toque, firme e reconfortante, me mantinha ancorado no presente.

   — Você sente isso? — Ela perguntou, a voz quase um sussurro, como se temesse quebrar a magia do momento.

   — Sinto, — respondi, apertando sua mão um pouco mais forte. — É como se estivéssemos dançando à beira de um abismo, mas sem medo de cair. — Ela sorriu, um sorriso triste e belo, como se estivesse vendo algo além do que meus olhos podiam captar.

   — Às vezes, acho que estamos destinados a dançar assim para sempre, presos entre a esperança e o desespero, sem nunca encontrar um verdadeiro descanso.

MEᑌ ᗪOᑕE CᗩTIᐯEIᖇOOnde histórias criam vida. Descubra agora