³⁵⁷¹ Words
Saí do quarto, sentindo a força de cada palavra que havia proferido como uma corrente de ferro ao redor do meu peito. O ar parecia mais rarefeito, cada passo mais lento e duro do que o último. Lauren ficara lá, no silêncio que eu deixei para trás, sua presença ainda queimando como um ferro em brasa na minha pele. Eu precisava de ar, de um espaço onde pudesse pensar sem a sua sombra pairando sobre mim. Então, como tantas vezes antes, me dirigi àquele canto esquecido do jardim.
Esse jardim... era meu refúgio antigo, um espaço onde o tempo parecia se arrastar, onde as rosas vermelhas floresciam com uma beleza quase cruel, suas pétalas carmesim destacando-se como feridas abertas contra a escuridão que devorava o horizonte.
O perfume doce, porém opressivo, das flores impregnava o ar, enredando-se ao meu redor como um véu sufocante, trazendo à tona memórias que deveriam ter sido enterradas. O pequeno lago, ali adiante, refletindo as estrelas num céu sem lua, parecia mais um portal para um abismo do que uma mera superfície aquosa.
Sentei-me no banco de pedra, sentindo o frio rastejar pelo meu casaco, a superfície gélida se infiltrando na minha carne, como o eco de um toque esquecido, um toque que ainda queimava nas profundezas da minha alma.
O vento da noite sussurrava entre as folhas das roseiras, trazendo consigo aquela antiga tormenta. Fechei os olhos, tentando me perder naquela escuridão, buscando um momento de paz na quietude ilusória ao meu redor. Mas dentro de mim, uma tempestade se enfurecia, incontrolável. Honestamente, há tantos anos, eu vinha a controlando bem. Ou pelo menos achava que sim.
Cada pensamento, cada batida do coração, me arrastava de volta a ela. Lauren. O perigo que ela representava não estava em quem ela era, mas no que despertava em mim. Uma fraqueza, uma rachadura na armadura que eu não podia permitir. E então, o som suave de passos no cascalho rompeu a calmaria atrás de mim.
Abri os olhos lentamente, mas não me virei. Não precisava. Eu sempre soube quando minha mãe estava por perto. Havia algo no ar que mudava antes de sua chegada, uma calma estranha. Mesmo sem vê-la, eu sentia seu olhar perfurando minhas defesas, como sempre fazia, expondo cada fissura, cada sombra que eu tentava esconder, sem dizer, sequer, uma palavra.
— Você sempre escolhe as noites mais escuras para se esconder aqui — a voz dela finalmente quebrou a quietude, baixa e cheia de algo que não consegui definir de imediato. Talvez fosse tristeza, talvez fosse desapontamento. — Como se a escuridão pudesse realmente te proteger.
— Às vezes, é a única coisa que resta, mãe. A escuridão não faz perguntas, não exige respostas. — Ainda sem me virar, fixei meus olhos no reflexo das estrelas no lago, que pareciam mais distantes agora.
Ela se aproximou, e eu senti a temperatura aumentar levemente, como se sua presença sugasse o frio do ar.
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MEᑌ ᗪOᑕE CᗩTIᐯEIᖇO
RomanceSᴇus oʟнos, ʟáʙιos, cᴀʙᴇʟos, ᴇɴтʀᴇʟᴀçᴀᴅos coмo ᴘᴇʀsoɴᴀԍᴇм ᴇм uмᴀ ᴘᴇçᴀ ᴅιvιɴᴀ, ʟᴀɴçᴀʀᴀм-ɴᴀ ᴀ uм ᴀʙιsмo ᴅᴇ ᴅᴇsᴇנo ᴀʀᴅᴇɴтᴇ. No ᴘʀιмᴇιʀo oʟнᴀʀ, o coʀᴀção ᴅᴇʟᴀ, ouтʀoʀᴀ sᴇʀᴇɴo, ᴅᴀɴçou ᴀo ʀιтмo ᴅᴇ uм ᴀɴנo, ᴀʟнᴇιᴀ ᴀo ғᴀтo ᴅᴇ Quᴇ ᴀтé мᴇsмo cʀιᴀтuʀᴀs ᴀɴԍᴇʟιc...