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Sair do banheiro não trouxe alívio. A água fria da pia escorrendo pelas minhas mãos não me despertara, não apaziguara a inquietação que ardia sob minha pele. O silêncio era denso, apenas quebrado pelo som irregular da minha respiração, ressoando nas paredes altas do quarto vazio.
— Então, foi aqui que ele viveu por um tempo breve? — A pergunta escapou dos meus lábios como um lamento, enquanto meus olhos viajavam pelo quarto, onde o tempo parecia ter parado, como se o próprio ar estivesse impregnado de uma ausência. Tudo aqui falava em sussurros — os móveis imóveis, a luz fraca que vazava pelas cortinas pesadas, as sombras que pareciam dançar de maneira lenta e cruel. Cada coisa no lugar, cada objeto guardando um segredo que Anthony nunca ousaria me revelar.
Com um movimento quase cerimonial, abri o guarda-roupa. O cheiro de roupa lavada encheu o ar, mas não era um cheiro de conforto, era um aroma que evocava uma vida meticulosamente mantida. Meus dedos roçaram os tecidos, a maciez fria das roupas penduradas, perfeitamente alinhadas. Era uma imagem perturbadora de perfeição, como se ele nunca tivesse partido, como se o tempo esperasse por seu retorno.
Eu caminhei de móvel em móvel, uma espécie de voyeur em sua vida cuidadosamente empacotada, tocando o que restava de sua humanidade, e quando digo humanidade, falo sobre o coração. As gavetas deslizavam suavemente, mas havia algo de estranho na quietude daquele quarto, como se ele estivesse me observando mesmo na ausência, seus segredos espreitando nas sombras.
Em uma das gavetas, algo me chamou. Não por curiosidade banal, mas por uma atração visceral, algo que meu corpo sentia antes mesmo de meus olhos verem. Meus dedos encontraram uma pequena caixa. Era leve, mas havia um peso invisível nela, algo que fez meu coração acelerar com uma mistura de medo e fascínio. Ao abri-la, encontrei algo.
Lá estava o anel — um círculo perfeito de ouro, simples e ao mesmo tempo de uma beleza estonteante. O brilho do metal parecia absorver a luz, não era apenas um objeto qualquer, ele pulsava, como se a alma de quem o usara ainda estivesse presa ali. Ao lado do anel, uma carta, suas bordas amareladas, dobrada como uma relíquia esquecida. Minhas mãos trêmulas desdobraram o papel, conscientes de que eu estava cruzando uma linha não permitida. Não deveria estar mexendo em segredos que não me pertenciam, mas Anthony se revelava cada vez mais enigmático, e eu precisava entender o que ele escondia — ou, talvez, por que eu mesma estava tão determinada a descobrir. Cada linha escrita parecia vibrar com uma energia complexa, um eco de um sentimento não identificado completamente, que terminara de maneira devastadora. Isso já havia ficado claro.