¹² || Eu poderia te ferir mil vezes

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       Fui despertada pelos gritos ecoando pela casa, misturados ao som ensurdecedor das trovoadas

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       Fui despertada pelos gritos ecoando pela casa, misturados ao som ensurdecedor das trovoadas. Era como se o céu, solidário à sua dor, chorasse junto com ele, lançando sua ira sobre o mundo. No fim daquele dia, a chuva continuava a cair impiedosamente. A escuridão da noite foi aprofundada ainda mais pela queda repentina da luz.

     Desloquei-me às pressas do quarto, apressando-me em direção a ele. Anthony se contorcia no chão, suas penas caíam ao redor dele como se estivessem abandonando seu corpo em um último ato de desespero. Gotas de sangue tingiam o piso, cada uma delas um silencioso testemunho da agonia que ele enfrentava. Seu rosto estava rubro, como se estivesse contendo o fôlego por horas, e sua respiração era ofegante, como se cada inspiração fosse um esforço sobre-humano. A dor, intensa e tangível, parecia consumi-lo por dentro, deixando-o à mercê de um tormento indescritível.

     Cada músculo de seu corpo parecia retorcer-se em agonia, como se estivesse sendo dilacerado por dentro. Seus olhos, normalmente tão vivazes e cheios, agora estavam opacos, refletindo apenas o lancinante sofrimento que o assolava.

     E ali, no meio da tempestade que rugia lá fora e dentro de mim, vi-me incapaz de aliviar sua aflição. A impotência pesava sobre mim como um fardo. Como se eu nunca tivesse de fato testemunhado o verdadeiro significado do martírio, até aquele momento. Os gritos agonizantes mesclavam ao rugido do vento, numa triste e sombria sinfonia de dor. 

     Amaia saiu do banheiro com pressa, carregando uma bacia de água fumegante com lírios brancos. Seus olhos estavam cheios de determinação enquanto ela se aproximava de Anthony, cujo peito exibia uma queimadura recente, emitindo um brilho vermelho. Com movimentos rápidos e precisos, ela mergulhou uma toalha na água perfumada e a colocou gentilmente sobre a área afetada.

     Enquanto as folhas dos lírios exalavam seu perfume reconfortante, Amaia murmurou palavras antigas, mal audíveis, suas mãos pairando sobre o corpo de Anthony. A intensidade de seu murmúrio aumentou, e uma luz vermelha, como brasas ardentes, refletiu em suas íris, consumindo a escuridão de seus olhos. Por um momento, o mundo pareceu congelar enquanto ela canalizava sua energia em direção a Anthony. Ela também era como ele?

     Em segundos, Anthony desfaleceu, seu rosto finalmente livre da agonia que o consumia. Os olhos de Amaia voltaram ao normal, uma expressão de alívio inundou seu rosto enquanto ela limpava o suor da testa de Anthony. Era evidente que ela havia estado lutando para ajudá-lo há algum tempo.

    Com uma força desconhecida, mas determinada, Amaia ergueu Anthony com cuidado e o colocou suavemente na cama, onde ele finalmente descansaria, livre das dores e da febre que o atormentavam. O brilho vermelho da queimadura começou a desaparecer, substituído por uma serenidade reconfortante. 

   —Ajude-me a levar essas coisas para baixo. — Pediu. Amaia seguiu na minha frente, carregando uma expressão de preocupação enquanto eu pegava a bacia. Antes de deixarmos o quarto, lancei um último olhar para Anthony, cujo corpo agora descansava na cama.

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