⁰⁵ || Essa é sua casa

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    — Eu te avisei

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    — Eu te avisei... não pode fugir para sempre. — A voz cortou o escuro como uma lâmina. Não era sussurro, nem grito. Era certeza.

    Eu o vi. Surgindo das sombras como se sempre tivesse estado lá. Os olhos dele ardiam — duas fendas famintas fixas em mim. Ele veio. Rápido, inevitável. E quando saltou para cima de mim, acordei. Ofegante. O peito ardendo. Sozinha. Mas o medo… o medo ainda estava aqui.

  — Não se preocupe, está segura. Sinto muito que tenha passado por aquilo.

    Meus olhos rapidamente buscaram os seus ao ouvir sua voz. Surpresa. Era sim um grande alívio ter sido resgatada daquela noite terrível, a qual por um momento acreditei que o fim seria interminável. Mas, por que eu ainda estava sentindo minha espinha gelar? Por que aqueles olhos não me eram tão reconfortantes agora?

  — Trazer você pra cá não fazia parte dos meus planos... mas, depois do que aconteceu, achei melhor não arriscar.

    O quarto era um sussurro de calma. A luz da manhã filtrava-se pelas cortinas pesadas, tingindo as paredes azul-sereno com um brilho suave. Um perfume de flores frescas pairava no ar, leve como um alívio. No centro, a cama — ampla, com lençóis de seda branca e colcha azul profunda, suave sob meus dedos. Almofadas macias me envolviam como braços silenciosos, prontos para afugentar o medo.

    Tudo ali — o aroma, as cores, o toque — parecia criado para uma só coisa: paz.

  — Onde eu estou? — perguntei com cautela, a voz mais frágil do que eu gostaria.

    Nenhum dormitório era como aquele — nem mesmo os da ala dos professores chegavam perto de tanto luxo. Desconsertada, busquei respostas nos olhos dele, que me analisavam com uma cautela cortante, como se lesse cada pensamento, decifrando segredos escondidos nas linhas do meu rosto... e nos cantos da minha alma.

    Sentado a poucos passos, como uma figura saída de um sonho estranho, ele repousava os cotovelos com rigidez nos braços do sofá. O punho semicerrado, o polegar deslizando lento sobre o indicador — como se jogasse algo invisível e inevitável. Cada gesto era preciso carregado de uma tensão densa. Sentado a poucos passos, parecia esculpido na sombra. Os cotovelos firmes nos braços do sofá, o punho semicerrado, o polegar deslizando lento sobre o indicador — um jogo silencioso, prestes a ruir. Cada gesto era tensão contida, medido demais para ser casual.

    Engoli em seco. O som ecoou alto demais. Seus olhos pousaram no meu pescoço — e subiram de volta, sem cerimônia.

  — Em um lugar seguro — disse ele, sem tirar os olhos de mim.

  — Então… ainda estou no Instituto Redenção? — A pergunta escapou quase por reflexo. O nome sempre me soou irônico — um internato para jovens quebrados, como se arrependimento fosse cura.

    Ele soltou uma risada breve, seca — quase um suspiro de escárnio.

  — Depois do que te aconteceu lá… você realmente chamaria aquilo de seguro? — fez uma pausa, os olhos cravados nos meus.  — Curioso conceito de segurança, o seu.

MEᑌ ᗪOᑕE CᗩTIᐯEIᖇOOnde histórias criam vida. Descubra agora